Após mais de 24 anos de serviços prestados aos brasileiros em mais de 5 milhões de carros, o motor Fire, da Fiat, vai se aposentar. Não que a marca italiana queira “sumir” com seu tão confiável e robusto motor, mas quem dita as regras são os limites de emissões de poluentes pelo escapamento, ditadas. no mundo todo, por órgãos ambientais. No Brasil quem trata dessa questão é o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que pela sua Resolução nº 18. de 6 de maio de 1986, criou o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) que estabeleceu fases com limites de emissões ao longo dos anos.
Com a entrada em vigor da fase 8 para veículos leves, o PL8, a partir de 1º de janeiro de 2025, o motor Fire não atenderia os novos e mais rigorosos limites de emissões. Um dos motivos está na idade do seu projeto básico, concebido pela marca italiana na Europa em meados dos anos 1980, e também por ele já tem substituto direto em produção: o Firefly.
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Antes de chegar aqui no Brasil, o Fire já era tradicional na Europa. Na realidade, seu nome não é uma referência à palavra “fogo” em inglês, mas remete à sigla “Fully Integrated Robotised Engine”, ou “Motor Inteiramente Montado por Robôs” no bom português. Basicamente, explicava com poucas palavras seu então moderno processo de produção, feito apenas por robôs e máquinas inteligentes, com pouca ação humana. Também se destacava, na época, por ter sido um dos primeiros projetos de motores totalmente computadorizados, com simulações digitais e concepção por telas. Para 1985, ano em que nasceu, era muito moderno!
Apesar de ter debutado como um pequeno 1,0, bastante leve, no Autobianchi/Lancia Y10 (duas marcas pertencentes à Fiat na época), o motor Fire iniciou sua história no Brasil só em maio de 2000. Era época de aposentadoria dos motores Fiasa (acrônimos de Fiat Automóveis S.A.), originários da primeira leva de motores da marca italiana para o Fiar nacional (Fiat 147), ou seja, o Fire já nasceu substituindo alguém.
A primeira configuração que tivemos por aqui foi 1,3 16v, sempre a gasolina, com injeção eletrônica multiponto, 80 cv de potência e 12 m·kgf de torque. Com a novidade do acelerador elétrico sob comando eletrônico, bielas de aço forjado, coletor de admissão plástico, central eletrônica moderna, maior taxa de compressão (10,5:1) e cabeçote de alumínio (como no Fiasa), o Fire tomava lugar dos antigos 1,5 Fiasa nos Palio e criando uma configuração inédita no sedã Siena. Na época, o Palio 1,3 16v Fire conseguia acelerar quase junto de um 1,6 16v, enquanto era econômico como um 1,0 8v na estrada. Bingo!
Curiosamente, ainda eram os Palio e Siena com design antigo, já que a reestilização veio em setembro de 2000. Junto dessa atualização no visual, inclusive, estreou a versão 1,0 do Fire, em versão de oito (55 cv) ou dezesseis válvulas (70 cv). Além do Siena, a camioneta Weekend também ganhava o novo motor, ambos apenas na versão 16v (sem contar o Fire 1,3 e o 1,6 de outra família). Era uma tremenda evolução frente aos antigos 1,0 8v Fiasa, quer seja em desempenho ou consumo. Cerca de um ano depois, na linha 2002, foi a vez do Palio Young também aderir ao Fire 1,0 8v: essa era a versão de entrada do hatch, que mantinha o visual antigo.
Em junho de 2001, algum tempinho antes, foi o veterano Mille quem trocou o Fiasa pelo Fire, também na configuração 1,0 8v. O novo motor, mais ágil, econômico e moderno, deu nova vida ao Uno. Algo parecido aconteceu com a picape Strada em novembro de 2002, para a linha 2003: ela era a única da família Palio que ainda usava os 1,5 Fiasa, trocado pelo Fire 1,3 numa versão mais simples, com oito válvulas (67 cv). O Fiorino, furgão derivado do Uno, fez o mesmo no começo de 2003.
O primeiro modelo que já chegou usando o Fire foi a minivan/MPV Doblò: em novembro de 2001, suas versões de entrada traziam o 1,3 16v na mesma configuração dos Palio, de 80 cv a gasolina. É, também, o maior carro que chegou a usar essa importante família de motores aqui no Brasil.
No final de 2003 vieram os Fire flex, ainda na versão 1,.3 8v, que foram lançados nos novos Palio 2004. Graças a melhorias, tinha sua potência aumentada para 70 cv com gasolina ou 71 cv com álcool. Além disso, o 1,0 Fire, mesmo funcionando só com gasolina, tirou o atraso com novos comando de válvulas, taxa de compressão, catalisador, coletores de admissão e escapamento e, além de receber acelerador elétrico. Ganhou, assim, 10 cv extras, chegando a 65 no total, para não comer poeira dos concorrentes.
O passo seguinte, oferecer tecnologia flex ao tal motor 1,0 Fire, foi dado em março de 2005. Mantendo as evoluções obtidas um ano antes, o 1,0 Fire flex nasceu com oito válvulas e 65/66 cv de potência (gasolina/álcool), aumento discreto quando com o combustível obtido da cana-de-açúcar. O novo motor estava disponível para Mille, Palio Fire e Siena Fire, que continuavam com o design de 2000.
Na próxima semana, não perca a segunda parte da saga do motor Fire, sucesso de décadas: a chegada da versão 1.4 8v, linha Economy, evoluções da fase EVO e seus dias atuais.
DM
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