Este relato começou com algumas fotos que meu amigo Nilton Flávio dos Santos me enviou e eu logo fiquei intrigado sem saber muito bem do que se tratava:
As fotos, originalmente enviadas em agosto, não vieram com uma explicação. Elas tinham sumido de meu WhatsApp quando eu tentei revê-las. Pedi ao Nilton e ele as reenviou e eu comecei a perguntar sobre o assunto e uma interessante história foi aparecendo.
O Nilton mora na Estância Turística de Olímpia, onde junto com seu pai tem uma oficina especializada em Volkswagens. O pai do Nilton, José Flávio dos Santos — mais conhecido como Zé da Ramona¹, tem esta oficina há 56 anos e é um ícone da cidade de Olímpia. Já o Nilton é um ativista do movimento de automóveis antigos em Olímpia com ênfase nos Volkswagens clássicos.
Tudo estava ligado ao folclore uma grande tradição na cidade de Olímpia, cujo FEFOLl – Festival Nacional do Folclore de Olímpia este ano teve a sua 60ª edição.
Vamos conhecer Olímpia
A Estância Turística de Olímpia, um dos polos turísticos mais importantes do Estado de São Paulo, está situada na região do Aquífero Guarani, uma área privilegiada do noroeste paulista. Localizada a 430 km da capital São Paulo, Olímpia possui uma área de aproximadamente 803 km² e uma população de mais de 55 mil habitantes, segundo o IBGE.
Embora sua economia se baseie na agroindústria e comércio, o turismo tem ganhado destaque, especialmente com a expansão do Parque Aquático Thermas dos Laranjais, reconhecido como um dos mais visitados do mundo e o primeiro da América Latina. O crescimento do turismo também atraiu novos investidores, incluindo o parque aquático Hot Beach, inaugurado em 2017, além de outros empreendimentos e atrações de entretenimento. A rede
hoteleira local também cresceu significativamente, oferecendo atualmente mais de 34 mil leitos, sendo a segunda maior do Estado de São Paulo.
Um pouco da história do Festival Nacional do Folclore de Olímpia
A origem do FEFOL remonta às pesquisas e exposições realizadas pelo Prof. José Sant’anna e seus alunos na década de 1950. Inicialmente confinadas ao Colégio Olímpia, essas exposições gradualmente se expandiram para outras escolas e comércios da cidade, até alcançarem a Praça da Matriz de São João Batista, transformando-se em um vibrante festival.
O sucesso crescente do evento e a falta de espaço na praça e, posteriormente, no Centro de Esportes e Recreação Olyntho Zambom, levaram à construção de uma sede própria: o Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas, hoje nomeado em homenagem a José Sant’anna, o criador do festival.
Atualmente, o festival, que inicialmente focava no folclore local e regional, é reconhecido como o maior do Brasil em seu gênero, destacando-se por preservar e celebrar a cultura brasileira, reunindo grupos folclóricos e parafolclóricos de diversas partes do país. Este prestígio conferiu a Olímpia o título de “Capital do Folclore”.
Durante o festival, a Praça das Atividades Folclóricas “Prof. José Sant’anna” recebe mais de duzentas mil pessoas, incluindo turistas, estudantes, pesquisadores e estudiosos de várias partes do Brasil e do exterior.
A programação inclui danças e folguedos folclóricos, cursos, palestras, seminários, gincanas, oficinas de brinquedos tradicionais, exposições de artesanato, campeonatos de truco e malha, festival de seresta, culinária brasileira, espetáculos pirotécnicos, feiras, eventos e desfiles de grupos folclóricos e parafolclóricos, entre outros.
Os objetivos do festival são: difundir o folclore, contribuir para sua preservação, fortalecer a consciência e unidade nacional, celebrar o mês do folclore, estimular a atividade de grupos folclóricos e proporcionar oportunidades para o estudo e apreciação dos fatos folclóricos. A entrada é gratuita, refletindo a natureza popular do evento, sendo uma festa do povo, conforme desejava seu idealizador.
E como foi que os VW Fuscas entraram nesta história?
Quem teve a ideia foi o próprio Prof. José Sant’anna em 1967, e os VW Fusca participaram dos festivais até 1980. Retirando o capô dianteiro se abria espaço para uma moça, devidamente caracterizada, ser levada pelo VW Fusca durante os eventos. Com isto VW Fuscas foram transformados em carros alegóricos na sua seção dianteira.
Conforme mostram as fotos do acervo histórico da Prefeitura de Olímpia os cartazes afixados na frente dos Fuscas se referiam a diferentes coisas. Vamos ver alguns exemplos:
Chegando ao ano de 2024 – comemoração do 60º FEFOL
Vamos começar com o convite para o evento deste ano:
Em Olímpia o folclore é levado muito a sério e o aprendizado começa desde a infância e outro veículo Volkswagen, no caso o VW Kombi foi lembrado na capa do “Anuarinho do Folclore” distribuído em todas as escolas de Olímpia:
A volta dos VW Fuscas ao FEFOL
Na comemoração do sexagésimo FEFOL se decidiu reviver o passado e retomar a participação de VW Fuscas para este evento específico. Só que desta vez foi mais difícil conseguir carros cujos donos concordassem em deixar retirar o capô dianteiro. Os donos exigiram que o Nilton, que como vimos é mecânico especializado em VW Fuscas, retirasse os capôs. E assim foi feito.
Desta vez os cartazes presos ao para-choques se referiram às regiões que dividem o Brasil: norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul.
Os cinco VW Fuscas participaram da cerimônia de abertura na arena do Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas. Eles também participaram do desfile de encerramento que foi realizado na avenida em frente à rodoviária, que é a avenida Aurora Forti Neves.
Seguem fotos deste cinco VW Fuscas com suas placas das regiões e a moças que as representam, as fotos são do Setor de Comunicação da Prefeitura de Olímpia:
Estas fotos foram tiradas durante o desfile de encerramento na avenida Aurora Forti Neves.
Para se ter uma visão dos VW Fusca em ação na arena do Recinto de Exposições e Praça de Atividades Folclóricas e Turísticas de Olímpia durante a cerimônia de abertura veja o vídeo (04:37):
(¹) – De onde veio o apelido “Zé da Ramona”?
O próprio Nilton que relatou:
“A história do meu pai é a seguinte: ele tem o apelido de “Zé da Ramona” por causa de um Chevrolet 1930, igual ao caminhão “Anastácio” que o famoso artista Amâncio Mazzaropi usava em seus filmes.
Este Chevrolet 1930 tem o apelido de Ramona. Quando meu pai era jovem, ele trabalhava numa concessionária Volkswagen com o DN 105 (Dealer Number), que é aqui de Olímpia — Grupo David Oliveira. Inclusive foi onde ele conheceu minha mãe.
O Sr. David, que era o dono da concessionária, tinha um desses Chevrolets e toda a vez quando ele tinha alguma comemoração aqui na cidade na qual ele ia precisar da Ramona para participar de um desfile (já que aquele veículo era uma raridade), ele pedia para meu pai, o Zé, meu pai se chama José Flávio dos Santos, para dar uma ajeitada no Ramona.
Atendendo ao seu patrão meu pai verificava a bateria, se necessário a trocava, deixava aquele veículo no ponto para eles pegarem o veículo e darem umas voltas pela cidade sem problemas. Foi daí que o meu pai pegou o apelido de “Zé da Ramona”. Sim, foi por causa do Sr. David Oliveira que tinha essa Ramona.”
Agradeço ao Nilton Flávio dos Santos pela participação nesta matéria. Ele também acionou o Leonardo Concon, do Diário de Olímpia, para contactar a Prefeitura de Olímpia para conseguir as fotos dos VW Fuscas no FEFOL de 2024. Quem me atendeu foi a Camila Reale da Comunicação da Prefeitura. Para ter acesso a fotos antigas a Camila me pôs em contato com a Maria do Carmo que é a bibliotecária da Prefeitura, e ela me enviou importantes fotos históricas. Agradeço a todos pela importante ajuda.
Parabenizo a Municipalidade de Olímpia e seus moradores por estar mantendo a tradição do folclore sempre crescente!
AG
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