A chinesa BYD constrói fábrica em Camaçari, Bahia, na área que pertenceu à Ford. No final de novembro, a Agencia Pública denunciou que os operários chineses que trabalhavam na construção tinham tratamento degradante e condições de vida sub-humanas. A BYD correu para explicar que a construção era de responsabilidade de uma empresa chinesa terceirizada e que tomaria providencias urgentes. Mas, quase um mês depois, no dia 23 de dezembro, nada tinha se alterado e o Ministério Público do Trabalho teve que interditar as obras e exigir que os operários fossem hospedados decentemente em hotéis da região.
Só então a BYD cancela o contrato com a chinesa Jinjiang, que mantinha seus operários nestas condições. Pode até ser verdade esta terceirização, mas não importa: qualquer empresa do mundo que contrata terceiros para fornecer produtos e serviços estabelece as condições em que o contrato será cumprido. Existem regras básicas operacionais e éticas a serem observadas pela contratante e contratada. E, mesmo diante do sinal vermelho que se acendeu em novembro, nada se fez até que o Ministério Público, um mês depois, fosse obrigado a interditar a obra.
Não chega a ser espantoso este comportamento da BYD, pois há alguns meses eu denunciei aqui o descaso dela em relação aos seus clientes, que reclamavam falta de peças e assistência técnica de seus automóveis. A fábrica não atendia sequer as ligações telefônicas para o SAC, serviço de atendimento ao consumidor. Eram carros parados por problemas tecnicos e de componentes de reposição. Faltavam até pneus para alguns de seus modelos. Ela respondeu que estava regularizando todos estes problemas de assistência técnica.
Eu tenho certeza de que os automóveis BYD possuem um excelente nível de qualidade e tecnologia. Mas não estou convencido da excelência das operações de sua filial no Brasil, pelo contrário. Vender automóveis é muito mais que importá-los ou produzi-los e enviá-los para o showroom da concessionária. Aliás, se ela alega que as monstruosidades cometidas na fábrica de Camaçari, que tem lá na frente o logotipo da BYD, são de responsabilidade de empresas terceirizadas, eu então pergunto: e as concessionárias que ostentam igualmente sua marca na fachada não são também terceirizadas?
A imagem da chinesa BYD está abalada no mercado brasileiro. Prova disso é que um colega meu com canal no YouTube com o maior volume de seguidores no Brasil, o Opinião Sincera, anunciou publicamente esta semana que irá vender seu BYD por não concordar com a postura da marca. As empresas chinesas são muito bem-vindas ao Brasil, mas devem pautar seu comportamento pelas nossas regras de convivência e de trato com o mercado e com a sociedade. Podem importar seus automóveis, mas não as condições degradantes com que eventualmente tratam seus operários na China.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
P.S.: O texto desta coluna foi publicado no meu Instagram AutoPapo, após o quê a BYD assim se manifestou:
(Início da declaração)
“Camaçari, 23/12/2024
BYD Auto do Brasil decide rescindir contrato com construtora Jinjiang
Nesta segunda-feira (23), a BYD Auto do Brasil recebeu notificação do Ministério do Trabalho e Emprego de que a construtora terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda. havia cometido graves irregularidades. A BYD Auto do Brasil reafirma que não tolera desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana. Diante disso, a companhia decidiu encerrar imediatamente o contrato com a empreiteira para a realização de parte da obra na fábrica de Camaçari (BA) e estuda outras medidas cabíveis. A BYD Auto do Brasil reforça que os funcionários da terceirizada não serão prejudicados por essa decisão, pois vai garantir que todos os seus direitos sejam assegurados.
A companhia determinou, na data de hoje, que os 163 trabalhadores dessa construtora sejam transferidos para hotéis da região. A BYD Auto do Brasil já vinha realizando, ao longo das últimas semanas, uma revisão detalhada das condições de trabalho e moradia de todos os funcionários das construtoras terceirizadas responsáveis pela obra, notificando por diversas vezes essas empresas e inclusive promovendo os ajustes que se comprovavam necessários.
A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores. Por isso, está colaborando com os órgãos competentes desde o primeiro momento e decidiu romper o contrato com a construtora Jinjiang”, afirmou Alexandre Baldy, Vice-presidente sênior da BYD Brasil .
A companhia opera há 10 anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente a legislação local e mantendo o compromisso com a ética e o respeito aos trabalhadores.”
(Fim da declaração)