BMW 320i M SPORT, NA ESTRADA E NA CIDADE

Nos últimos anos, a crescente demanda de automóveis suve marcou uma nova fase do mercado nacional. Saímos de uma onda de hatchbacks para os “hatches elevados”, uma vez que muitos dos modelos oferecidos são similares em tamanho aos hatches tradicionais mas com maior altura.

Os sedãs, no passado o maior representante da gama de carrocerias oferecidas, passou a ser minoria, mas mantendo-se firme e sobrevivendo no mercado, diferente das finadas station wagons (camionetas) que, inexplicavelmente, perderam totalmente o espaço para os suves.

A aplicação de suves ou sedãs sempre foi uma discussão interessante. Há quem defenda a praticidade e usabilidade dos suves como superiores, por serem veículos mais familiares e com boa capacidade de carga em volume. Mas, será que um sedã atual não faz a mesma função de forma equivalente?

Para avaliarmos, rodamos com um dos sedãs mais bem conceituados das últimas décadas quando falamos de construção, chassi e experiência ao dirigir: o BMW Série 3.

Da gama de versões disponíveis no nosso mercado, o 320i é o modelo de entrada dos Série 3, que conta ainda com o 330e híbrido. Avaliamos o 320i com o pacote M Sport, o mais completo e equipado com recursos exclusivos.

GERAÇÃO G20, A SÉTIMA DA FAMÍLIA

Nomeada como G20, a atual geração do Série 3 lançada em 2020 é imponente e volumosa, com dimensões avantajadas para um modelo dos primeiros degraus da escada da BMW. Com 4.713 mm de comprimento e 1.827 mm de largura só da carroceria, o 320i é grande. Para se ter uma ideia, é quase do mesmo tamanho que o Série 5 E39, do começo dos anos 2000. Infelizmente esta é uma tendência global que vem sendo praticada há anos, com carros cada vez maiores e mais pesados. Este pesa 1.538 kg.

Com uma arquitetura moderna, proporções clássicas dos BMW sedãs e tecnologia de sobra, o 320i representa bem a dinastia dos Série 3.

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O espaço interno é amplo, confortável e bem receptivo. O entre-eixos de 2.851 mm proporciona um bom espaço para as pernas dos ocupantes do banco traseiro. Há luzes de cortesia de LED no painel, no assoalho e nas portas, estas, mudando de cor inclusive para informar que a porta está entreaberta com sinais em vermelho piscante. Há também luzes externas nas maçanetas e por baixo do veículo para iluminar o chão próximo às portas quando se aciona o comando de destrancar o veículo.

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O movimento de entrar e sair do carro nos bancos dianteiros é o oposto dos suves, uma vez que o 320i é um carro relativamente baixo, e para alguns pode ser um pouco incômodo o assento do banco baixo neste movimento. A posição de dirigir é excelente, com boa regulagem de altura e distância do volante, este, de aro mais grosso e boa pegada.

Com a tecnologia avançando cada vez mais, a conectividade e interação com o carro é um dos pontos que a BMW atacou nesta geração do 320i. O painel de instrumentos é totalmente digital, com uma enorme tela dividida em duas seções, com a parte o quadro de instrumentos na frente do motorista e todo o restante com o sistema de interação do carro.

A parte voltada ao motorista possui telas variadas, dependendo do modo de utilização selecionado, mas sempre com um ar da temática de aviação. Pessoalmente, prefiro os painéis analógicos com os tradicionais ponteiros, ainda mais os BMW que sempre tiveram painéis incríveis.

Mapa, sistema de som, controle de ar-condicionado, tela de avisos de manutenção e uso do veículo, tudo acessado nesta parte mais ao centro do painel. Em alguns momentos, reflexos na tela atrapalhavam a visão do painel, bem como refletiam no rosto do motorista e do passageiro.

Os comandos para navegar pelo painel podem ser feitos parte com toques na tela e parte com uma espécie de mouse navegador localizado no console central. Nele, você navega por diversas telas e opções. Não é intuitivo no começo, mas com o tempo, pega-se o jeito. Não é direto como ter um botão no painel, mas a maioria dos comandos é acessada com poucos toques e cliques. Apenas acho que os controles do ar- condicionado deveriam ser mantidos separadamente no painel, pois é bem chato ficar navegando numa tela para aumentar ou diminuir a vazão do ar. Não custava nada ter um comando separado para isto.

O sistema de navegação por GPS é eficiente, trazia rotas similares às do Google Maps com tempos estimados de viagens parecidos. Em alguns caminhos, o GPS do 320i era mais otimista, mas não errou nenhuma vez na criação de rotas. Não é tão bem detalhado em destinos e buscas como o Google, mas funciona. Agumas informações de velocidade e de ações a serem feitas seguindo o GPS são projetadas no para-brisa com visão unicamente do motorista.

É possível conectar o celular ao carro para que este seja usado como chave para abrir e trancar o carro, bem como ligar o motor. Este sistema é chamado pela BMW de Digital Key. Com ele, você não precisa andar com a chave do carro, apenas com o celular ou mesmo um smartwatch.

NA ESTRADA

Rodando por alguns dias pelo interior de São Paulo, o 320i mostrou-se econômico, graças ao sofisticado motor de quatro cilindros em linha de 2 litros dotado de turbocarregador, conhecido como família B48. Pela descrição, espera-se uma potência acima dos 200 cv, mas esta configuração entrega 184 cv a partir de 5.000 rpm.

O diferenciador que faz o carro andar bem é o bom torque de 30,6 m·kgf disponível já a 1.350 rpm e assim segue até 4.000 rpm.  O resultado é farta  potência já em baixas rotações Por exemplo, à baixa rotação de torque máximo o motor já entrega 58 cv. A 4.000 rpm, 171 cv, 93% da potência máxima. Acoplado a um câmbio automático epicíclico de oito marchas, o conjunto é bem ajustado tanto para rodar na cidade com elasticidade, como para a estrada, em velocidade de cruzeiro com o motor trabalhando tranquilo a 1.700 rpm.

Ultrapassagens na estrada são feitas com tranquilidade. A aceleração do motor praticamente não possui o detestável lag dos motores turbocarregados, que junto com as oito marchas, sempre entrega o desempenho necessário. A turbina é do tipo Twin-Scroll (duplo caracol), com duas entradas de gases de escapamento, que otimiza o fluxo contínuo sem muitas interferências da pulsação dos cilindros, agrupando-os de dois em dois. Graças a esta tecnologia, o motor é chamado de Twin Power Turbo, escrito na cobertura plástica do motor.

O carro conta com um controle de cruzeiro adaptativo que, com o uso de radar, mantém uma distância constante do carro à frente, variando a velocidade conforme o necessário, chegando inclusive a parar totalmente se o carr à frente parar. Não é uma tecnologia nova, mas no 320i o sistema é muito bem calibrado, fazendo os ajustes de velocidade sem trancos e com toda a suavidade para não incomodar os passageiros com movimentos bruscos.

A suspensão e os freios são dignos de elogios. Como todo bom BMW, a dinâmica veicular é uma prioridade. A resposta do volante, que conta com assistência elétrica, é precisa, contando com três modos de ajuste de acordo com o modo de direção selecionado pelo motorista. Pode-se usar o modo Comfort, como o nome diz, voltado para o conforto com o volante mais leve, respostas menos diretas do acelerador e suspensão mais suave. Há o modo ECO, voltado para economia de combustível, e o modo Sport.

No Sport, a direção fica mais firme, assim como fica a suspensão independente repleta de componentes de alumínio, e que é adaptativa, e as respostas de acelerador e trocas de marcha são mais rápidas. Este modo, aliado aos bons pneus Pirelli P-Zero de 19 polegadas (225/40 R19 na dianteira e 255/35 R19 na traseira), oferece estabilidade e contorno de curva dignos de um Série 3. Mesmo com o perfil baixo dos pneus, a suspensão filtra muito bem toda a irregularidade do péssimo piso brasileiro, especialmente no modo Comfort, inclusive em estrada de terra batida e cascalho.

A tradicional tração traseira dos Série 3 segue firme, com diferença de meia polegada adicional na tala das rodas traseiras (8,5 contra 8 polegadas), reforçando os traços esportivos da geração G20.

Os bancos são bem confortáveis, com inúmeras regulagens elétricas, com destaque para o apoio lombar ajustável. O banco do motorista na versão M Sport conta com ajuste regulável para maior apoio lateral para uma condução mais esportiva. Longas viagens não são cansativas, e trechos sinuosos são divertidos com o BMW.

O som do motor é agradável, mesmo sendo turbo, oferece um ronco encorpado e presente nas acelerações.

Na estrada, com trânsito bom, o 320i fez tranquilamente 18 km/l mantendo boa velocidade, com retomadas rápidas e boa aceleração nas saídas depois das paradas em pedágios, alternando entre o modo Sport e o Comfort. Na cidade, com mais trânsito, a média abaixa um pouco mas manteve-se acima dos 10 km/l. Números com gasolina, evidentemente (o carro é flex).

PRATICIDADE

Voltando ao nosso comparativo com um suve, que dizem ser melhor para viajar, com mais espaço, entre outros aspectos., o Série 3 perde mesmo no quesito capacidade de bagagem. O porta-malas, que possui um fundo plano, comporta apenas 365 litros de acordo com a BMW, o que é ligeiramente menor que o volume disponível num Fiat Pulse, por exemplo. Como isso é possível? Culpa do estepe, Sim, apesar de os pneus serem do tipo que rodam mesmo vazios (run flat), e por isso estepe ser dispensável,, a BMW do Brasil coloca no porta-malas um estepe tipo temporário, dado que aqui a possibilidade de corte no flanco do pneu num buraco agressivo é bem maior do que nos países avançados. Enquanto no carro sem essa solução a capacidade do porta-malas é de convenientes 480 litros padrão VDA, aqui o estepe “invasor” representa perda de 115 litros volume. Esse estepe é alojado no porta-malas dentro de uma espécie de caixa, coberto com um tampão plano.

Com isso a altura livre disponível do porta-malas é de apenas 375 mm, o que atrapalha para colocar itens mais volumosos, mesmo que o compartimento tenha 1 metro de profundidade. Há espaços livres laterais e embaixo do tampão, na frente do estepe, mas pouco.

O porta-malas conta com abertura e fechamento elétrico por meio de um botão localizado na base da tampa, que tem o mecanismo de abertura embutido nas laterais do compartimento, o que evita com que a bagagem seja amassada pelas dobradiças e trilhos.

Sendo um carro baixo com vocação europeia, esperava que a frente raspasse com certa facilidade em valetas e desníveis, mas, surpreendentemente, durante todos os dias de uso, não raspou em nenhum lugar, mesmo em locais que comumente outros carros têm dificuldade de passar sem raspar. Nem o assoalho raspou nas ridículas lombadas fora de padrão presentes em todo lugar.

Em São Paulo, é um carro que chama pouca atenção, talvez por se misturar na onda de carros brancos e muitos importados com designs tão ou mais contundentes. Além do recorrente branco / preto / prata, apenas uma opção de azul está disponível para o 320i. Já nas cidades menores foi mais percebido no meio dos demais no trânsito.

E O PREÇO?

O preço do 320i M Sport começa na casa dos R$ 370 mil, que não é barato, mesmo sendo um excelente carro, com qualidades técnicas que há anos são referências entre os principais concorrentes. Para quem busca um carro completo, com muita tecnologia, e pode pagar o valor, é uma boa opção, a menos que se precise mesmo de espaço no porta-malas para viajar com bagagens. Neste caso, outros modelos devem ser levados em consideração pois não há milagre.

O Série 3 perde para um suve? De modo geral, não. Poderia o BMW ter um porta-malas melhor? Sim. O veredicto final fica para o gosto do usuário. Se a sensação ao dirigir é importante, poucos concorrentes podem fazer frente a um Série 3, historicamente. A qualidade de construção do BMW é exemplar, com muito cuidado aos detalhes, principalmente no interior, que reflete bem o valor observado.

MB

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