Não é de hoje que venho batendo no obstáculo artificial chamado de ondulação transversal pelo Conselho Nacional de Trânsito, vulgo lombada, a que chamo, apropriadamente, de dejeto viário por ela ser exatamente isso. É preciso ser burro ao extremo para conceber essa maneira de obrigar redução de velocidade.
Nesses anos rodos tenho citado o caso da avenida Goiás, principal artéria de São Caetano do Sul, na região metropolitana da cidade de São Paulo. É uma avenida de pista dupla que era coalhada de lombadas em meio a semáforos e cruzamentos. Um dia o motorista de um automóvel em velocidade incompatível para a via não viu o sinal fechado a tempo e freou, Mas com a lombada antes da faixa de pedestres, o carro saltou e, com as rodas fora do chão foi como se o carro estivesse sem freio,, não parou. No momento mãe e três filhos atravessavam a avenida e foram atropelados e mortos.
Passado pouco tempo a prefeitura retirou todas as lombadas e assim esta até hoje, uma movimentada avenida onde o limite de velocidade é 60 km/h e o trânsito flui normalmente com toda segurança, há cerca de 30 anos. Essa caso é a prova eloquente de que obstáculos artificiais são produtos de mentes doentias.
Como a de quem autorizou a construção de uma barreira indeformável de concreto, de 3 metros de altura, 250 metros após o final da pista 01 do Aeroporto Internacional de Muan, na Coreia do Sul, para montar o marcador interno do sistema de pouso por instrumentos, o ILS. No dia 29 último o Boeing 737-800 da sul-coreana JEJU Air precisou fazer um pouso de emergência lá devido a colisão com pássaros, na aproximação final, que afetou um motor e o sistema de trem de pouso. Ao fazê-lo de barriga não pôde parar a tempo e colidiu com barreira de concreto, seguindo-se explosão e incêndio que ceifou 179 das 181 pessoas a bordo. Assista à brutalidade do impacto e veja os escombros do avião na foto de abertura:
Além da letalidade intrínseca dos obstáculos artificiais, por si só motivo para erradicá-los, há as questões de conforto de marcha de qualquer tipo de veículo, inclusive os de duas rodas automotrizes ou de força humana, e de ordem econômica e ambiental.
Os automóveis projetados para o nosso mercado precisam ter altura de rodagem em média 20 mm maior que o tecnicamente necessário em razão exclusiva das lombadas. Isso implica aumento da área frontal e por conseguinte do arrasto aerodinâmico, que por sua vez faz aumentar o consumo de combustível. Não parece coisa de país que busca desesperadamente reduzir desesperadamente a emissão de gases de efeito estufa como o CO2 com planos mirabolantes como o “combustível do futuro” e o Programa de Mobilidade Verde, o Mover.
A altura de rodagem maior deteriora o comportamento dinâmico em curvas e aumenta a transferência de peso para dianteira ao frear, ambas questões de segurança. A lombada prejudica a locomoção de veículos de serviço público como ambulâncias, carros de polícia e veículos do corpo de bombeiros. Elas têm o nefasto efeito de deseducar os motoristas, que passam a respeitar os limites de velocidade somente em vias com esse dejeto viário, em que sua ausência passa a significar pista livre para acelerar. A responsabilidade que todo motorista deveria ter foi para o lixo.
O Brasil não precisa de lombadas. A prova disso está nesta matéria que publiquei em abril de 2019 na qual falo de uma localidade chamada Barroso, no município de Mogi das Cruzes, SP, cortada ao meio pela rodovia Engenheiro Cândido do Rego Chaves, a SP-039. Acabo de verificar no Google Earth. O trecho que corta a localidade continua sem lombadas. Vale a pena ver ou rever a matéria.
Outro exemplo de vias sem lombadas é o bairro onde moro, Moema, em São Paulo, 63 mil habitantes. Não há nenhuma. Não precisa.
Não é possível admitir que inexista alguém no Brasil com poder de decisão que imponha o fim dessa vergonha nacional.
BS
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