Nesta edição, compartilho minhas impressões sobre o Ford Bronco Sport Wildtrak, um suve que me surpreendeu ao longo dos quilômetros. Também falo sobre uma raridade absoluta: o Aston Martin Super Cygnet, um compacto com motor V-8 que desafia qualquer expectativa. No mundo das marcas de prestígio, a Ferrari quer impor limites à personalização para proteger sua identidade, enquanto a Audi redefine seu posicionamento, mirando no luxo com uma nova estratégia. Já no mundo do design o Peugeot Design Lab liberou a criatividade do seu time para criação de reinterpretações do 504. E, para fechar, uma história curiosa: o dia em que Ayrton Senna trocou os monopostos pelo rali, vivendo uma experiência que ele mesmo classificou como inesquecível.
Os textos foram originalmente publicados no meu Instagram, no Instagram do Autoentusiastas e no Jornal Roda para o qual eu colaboro.
Ford Bronco Sport Wildtrak – Impressões
O Ford Bronco Sport Wildtrak promete unir robustez, tecnologia e versatilidade num suve compacto, mas com DNA off-road. Para entender se ele realmente faz jus ao nome Bronco, percorri diferentes terrenos e condições ao longo de 500 quilômetros. Desde o primeiro contato, sua presença marcante e o espaço interno chamaram a atenção, mas será que a experiência ao volante corresponde às expectativas? Aqui estão as minhas impressões.

5 km
- Bela cor: vermelho Aurora
- Porte interessante, excelente espaço interno, mas o porta-malas poderia ser melhor
- Visibilidade muito boa; a vista do capô com seu ressalto transmite uma impressão de robustez
- Android Auto apenas com cabo
- Tela pequena; mostradores analógicos com centro digital, mas poluídos
- Bom isolamento acústico, mesmo com pneus de uso misto
30 km
- Suspensão firme, mas confortável e silenciosa
- Excelente nível de equipamentos, especialmente o pacote ADAS (Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista)
- Ar-condicionado e sistema de áudio com comandos físicos
- Bancos dianteiros pequenos, com pouco apoio lateral
- Sistema de som premium Bang & Olufsen — raro nessa categoria
100 km
- Motor 2,0 turbocarregado com bom desempenho e baixo nível de ruído, mas com leve aspereza
- Ultrapassagens seguras, com boa aceleração e comportamento dinâmico
- Excelente robustez: atingi uma pedra com uma das rodas dianteiras que, em outros carros, teria causado danos sérios. O Bronco Sport saiu ileso
500 km
- Sistema 4×4 com várias configurações, bloqueio do diferencial traseiro, assistente de descida e off-road
- Para-choques com a parte inferior em plástico sem pintura — ótimo para uso fora de estrada
- Vidro da tampa traseira com abertura independente, muito conveniente
- Consumo médio de 9,3 km/l de gasolina em cidade, estrada e fora de estrada, dentro dos limites de velocidade
Conclusão
Quando iniciei a avaliação, achei que o Sport talvez não merecesse o nome Bronco. Mas mudei de ideia à medida que fui utilizando o suve em diversas situações.
Excelente porte, nível de equipamentos, desempenho e uma impressionante capacidade off-road são seus pontos positivos. O interior mostra sinais de defasagem, como tela pequena e interface antiga.
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas (Fotos: autor)
O preço de R$ 260.000 é elevado para a maioria dos brasileiros, mas competitivo se comparado ao Toyota SW4 ou Land Rover Discovery. O Bronco Sport tem uma ótima relação custo-benefício, especialmente para quem deseja ou precisa de capacidade off-road, mesmo que casualmente.
Um suve-raiz, como poucos no mercado e com poucos concorrentes diretos. Gostei muito.
Formiga atômica
Apareceu à venda um exemplar verdadeiramente único: o Aston Martin Super Cygnet. Criado pela divisão Q by Aston Martin, esse compacto carrega um segredo surpreendente sob o capô – um V-8 4,7-litros do Vantage S.

A divisão Q é o departamento de personalização da marca, responsável por projetos exclusivos que vão além da linha de produção convencional. Inspirada no mundo da espionagem britânica, permite que clientes configurem seus carros com acabamentos especiais, materiais raros e até modificações mecânicas, criando veículos únicos.
O Cygnet original, lançado em 2009, tinha um propósito controverso: ajudar a Aston Martin a cumprir normas de emissões da União Europeia. Baseado no Toyota iQ, recebeu uma cabine luxuosa e design característico da marca, mas manteve o motor 1,3 de 98 cv.

O Super Cygnet, no entanto, está em outra categoria. Com 430 cv, tração traseira, câmbio de sete marchas com trocas manuais sequenciais por borboletas e diferencial de deslizamento limitado, entrega mais de quatro vezes a potência do modelo original. Somado ao peso de 1.375 kg e ao entre-eixos curtíssimo (2;000 mm) , o resultado é um comportamento dinâmico extremamente ágil.
Para suportar essa potência, a divisão Q realizou amplas modificações. Subchassis, freios e suspensão foram herdados do Vantage S, enquanto a carroceria recebeu um “santantônio” soldado. Rodas de liga de alumínio forjadas de cinco raios, com pneus Michelin Pilot Sport Cup 2, garantem a aderência necessária.
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las (Fotos: Nicholas Mee)
O interior segue a pegada de competição, com bancos-concha Recaro, cintos de quatro pontos, volante removível revestido de Alcantara e painel aprimorado com fibra de carbono e instrumentos do Vantage. O espaço traseiro foi eliminado, substituído por um sistema de extintor de incêndio com especificação FIA, reforçando ainda mais o DNA de pista desse pequeno bólido.
“Não faremos um carro estranho”
A Ferrari quer refinar seu programa de personalização para manter sua identidade e exclusividade. O executivo-chefe Benedetto Vigna propõe restringir a paleta de cores, preocupado com pedidos extravagantes que possam afetar a percepção da marca. “Precisamos proteger nossos valores. Não faremos um carro estranho”, afirmou.

Apesar de faturar € 1,3 bilhão com personalizações no último ano, a Ferrari deseja controlar melhor as opções oferecidas. Vigna destaca que enquanto alguns clientes preferem escolhas pré-definidas, outros exigem total liberdade, o que gera desafios para a marca. Acabamentos em fibra de carbono estão entre as personalizações mais populares.
A estratégia visa também preservar o valor de revenda, evitando configurações que possam desvalorizar os modelos. o executivo-chefe alerta que certas combinações não agradam compradores secundários. Em meio a especulações, um porta-voz negou que a Ferrari cogite banir clientes que exagerem na customização. Vale destacar que o configurador padrão da Ferrari já limita muitas escolhas incomuns. As personalizações mais exóticas — para não dizer estranhas — surgem das configurações especiais feitas nos ateliês da marca, onde as possibilidades são praticamente infinitas. Nesse contexto, o gosto pessoal nem sempre resulta em algo universalmente belo.


Para o alto e avante!
A Audi está adotando uma nova estratégia, focando no mercado de luxo e priorizando a qualidade sobre a quantidade. Após uma queda de 11,8% nas entregas em 2024, a empresa decidiu se concentrar em margens de lucro mais altas, em vez de buscar volume de vendas.
Em entrevista à Auto Express, José Miguel Aparício, novo chefe da Audi no Reino Unido, confirmou essa mudança estratégica: “Estamos dando um passo adiante em termos de premium, aumentando o prestígio, a desejabilidade e a percepção da marca, mais interessados na qualidade dos negócios do que na quantidade”.

Esse reposicionamento resultará em um “aumento significativo de preço” em toda a linha da Audi, refletindo sua movimentação para um território mais exclusivo dentro da hierarquia do Grupo Volkswagen. No entanto, preços mais altos por si só não são suficientes; a Audi está determinada a aumentar a desejabilidade da marca para justificar essa mudança.
A marca já sinalizou essa intenção ao descontinuar seus modelos mais acessíveis, o A1 Sportback e o Q2, movimento que posiciona o A3 como a nova porta de entrada para a gama Audi. No segmento superior, a empresa planeja um sucessor mais luxuoso para o A8, inspirado no conceito Grandsphere, enquanto o conceito Urbansphere sugere um suve posicionado acima do Q7 e do Q8.
Apesar desses planos, o atual A8 pode permanecer em produção por mais tempo do que o esperado. Relatos da Auto Motor und Sport sugerem que um segundo facelift poderia estender sua vida útil, adiando o sucessor baseado no Grandsphere para o final desta década.

A Audi não está sozinha nessa mudança para o mercado de luxo. A Jaguar está migrando totalmente para o segmento elétrico de luxo, uma decisão que dividiu sua base de clientes tradicional. Enquanto isso, a DS Automobiles, pertencente ao grupo Stellantis, está abertamente mirando na Bentley, indicando uma mudança mais ampla no segmento premium.

Embora a Audi tenha se comprometido anteriormente a tornar-se exclusivamente elétrica até 2033, ela revisou sua abordagem, optando por uma estratégia mais flexível. Com as marcas de luxo reavaliando seu posicionamento num mercado em transformação, a evolução da Audi para o segmento high-end pode definir seu sucesso futuro.
Peugeot 504 Design Lab
O Peugeot 504 foi reimaginado pelo Peugeot Design Lab em uma série de versões radicais que celebram a longevidade e a simplicidade do design original, com um toque de inovação moderna. O estúdio criativo da Peugeot, famoso por explorar projetos diversos, apresentou três reinterpretações do modelo clássico, incluindo uma versão customizada que homenageia o hip-hop francês e outras duas abordagens de desempenho extremo.

Lançado em 1968, o Peugeot 504 sedã e cupê teve a assinatura de Pininfarina, consolidando mais uma colaboração de sucesso entre a tradicional fabricante francesa e o icônico estúdio italiano. O modelo, no entanto, não se limitou às versões convencionais. A equipe interna da Peugeot deu vida às versões picape e camioneta, sendo esta última a 504 Break, que se destacou por sua versatilidade e elegância.
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las (Fotos: Peugeot Design Labs)
A primeira reinterpretação do Peugeot Design Lab, o 504 113 Edition, é um tributo ao grupo de hip-hop francês 113. O grupo, que ganhou notoriedade na cena musical francesa, marcou sua história com uma apresentação épica no Victoires de la Musique, onde subiu ao palco a bordo de um 504 Break. O álbum Les Princes de la Ville, celebrado nesse evento, foi uma das primeiras grandes vitórias da banda, e a faixa Tonton du Bled faz referência a uma viagem de carro da França até a África, feita em um 504. Essa edição mantém a estética original do modelo, mas o interior foi radicalmente alterado, com detalhes como o volante ‘Hypersquare’ e um toca-discos central, combinando design clássico e uma homenagem à música.
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Além dessa versão, o Design Lab também apresentou outras duas reinterpretações do 504, incluindo uma com carroceria de fibra de carbono e uma dedicada ao drift, levando o 504 para o universo dos esportes radicais, onde a performance se alia ao estilo icônico do passado. Essas versões mostram a versatilidade do 504, misturando elementos de desempenho, design contemporâneo e personalização.
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Com essas revisões, o Peugeot Design Lab dá uma nova vida ao 504, mantendo a essência de seu design clássico e colaborativo com a Pininfarina, mas projetando o modelo para o futuro com inovações ousadas e emocionantes.
Adorei!
O dia em que Ayrton Senna se aventurou no rali
Em 1986, Ayrton Senna viveu uma experiência incomum para um piloto de Fórmula 1: ao volante de uma seleção de carros de rali, acelerou pelas estradas sinuosas e desafiadoras do País de Gales.

A convite da revista Cars and Car Conversions, para a edição de novembro daquele ano, Senna testou uma gama variada de máquinas: o brutal Metro 6R4 do Grupo B, um Vauxhall Nova Challenge, um Ford Sierra Cosworth Grupo A, um Volkswagen Golf GTi Grupo A e um Ford Escort 4×4.

Acostumado à precisão e ao controle absoluto dos monopostos, o brasileiro se impressionou com a dinâmica dos carros de rali e com a exigência técnica de guiar no limite em terrenos irregulares. Ao final da experiência, não escondeu o entusiasmo:
“Além das corridas em que participei, seja em testes ou qualquer outra situação, esse talvez tenha sido o melhor dia que já tive na Inglaterra. Acredite se quiser!”
Um momento raro e memorável, que mostrou um outro lado do talento de Senna ao volante.
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Grande abraço,
PM
A coluna “Substance” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.