A alta temperatura que assola várias cidades brasileiras não é exclusividade nacional. Na sequência dos testes no Bahrein (foto de abertura), Ferrari e Aston Martin travam uma batalha judicial cada vez mais quente que envolve a transferência do engenheiro Enrico Cardile de Maranello para Silverstone. Sob outra ótica, todas as 10 equipes inscritas no Campeonato Mundial foram informadas de alterações no procedimento de largada para casos em que os carros alinhem na saída dos boxes e não no grid oficial.

A transferência de profissionais entre um time e outro sempre feriu susceptibilidades e gerou reações raramente elogiáveis. Exemplo disso foi a decisão de Emerson Fittipaldi deixar a McLaren de maneira inesperada, pelo menos por Teddy Mayer, então o responsável pela equipe. Situações como essa se repetiram livremente inúmeras vezes em variadas situações até que a corrida tecnológica da categoria e a administração requerida para proteger investimentos cada vez maiores, trouxesse uma cláusula que o jargão da categoria chama de “gardening leave”.

A aplicação dessa norma vai muito além daquilo que conhecemos como aviso prévio e visa impedir que um profissional troque seu CEP profissional e leve junto detalhes dos projetos em andamento de uma equipe para outra. Inserida nos contratos entre empregado e empregador, essa cláusula determina que em casos de mudança o retirante fique afastado do dia a dia do seu atual empregador por um período pré-estabelecido de no mínimo, seis meses, continue recebendo seu salário mensal e fique proibido de começar a trabalhar para outra empresa.
O caso mais recente de uma situação como essa envolve Enrico Cardile, engenheiro que ingressou na Ferrari em 2005 e foi promovido a chefe de chassi e aerodinâmica em 2016. Em 8 de julho de 2024 Cardile apresentou sua carta de demissão a Frédéric Vasseur — o atual chefe da Ferrari na F-1 —, e em seguida seu nome foi anunciado como futuro diretor técnico da Aston Martin.
Tudo ia muito bem até que… Nessa época a Ferrari cortejava Adrian Newey com salários estratosféricos e a esposa de Newey, muitos afirmaram nessa época, chegou a procurar casa nas proximidades de Maranello. A Aston Martin, no entanto, levou a melhor nessa batalha e sobrou para Cardile, que deveria começar a trabalhar na equipe baseada em Silverstone no início deste ano.
Um processo apresentado pela Ferrari junto à Corte de Modena (capital da província onde se localizada Maranello) indicando que Cardile começou a trabalhar para Aston Martin ainda no período de “gardening leave”. A causa foi considerada tempestiva e a autoridade modenense deu ganho de causa à Scuderia. Segundo nota oficial da equipe italiana, o engenheiro italiano deve terminar qualquer colaboração técnica em andamento e só poderá iniciar seus trabalhos no time de Lawrence Stroll no dia 18 de julho.
Mais do que o desgaste entre as partes, a medida afeta o desenvolvimento do modelo atual e o de 2026 da Aston Martin. Para piorar o ambiente, durante os testes de pré-temporada realizados no Bahrein, há uma semana, o AMR25 mostrou rendimento muito abaixo do esperado: Lance Stroll ficou em décimo terceiro, três posições à frente de Fernando Alonso.
Mudança na largada e no abandono
As confusões geradas pela opção de largar dos boxes e por um carro danificado continuar na pista deverão terminar este ano. A Federação Internacional do Automóvel (FIA) anunciou mudanças no procedimento relativo à essas duas situações.

Não raramente algumas equipes decidiam que um piloto iria alinhar na saída dos boxes e entrar na pista após a passagem do último carro alinhado no grid. Em termos práticos essa manobra garantia maior quantidade de combustível que os concorrentes, já que o piloto não faria a volta de alinhamento. A partir deste ano se o piloto largar dos boxes ele deverá cumprir esse procedimento e ao completar a volta, entrar no pit lane, parar na saída dos boxes e só entrar na pista a partir da passagem do último carro que alinhou no grid.
Com relação a abandonos, o diretor de prova indicará à equipe que o carro que esteja danificado e continue percorrendo o circuito e apresente risco à segurança dos demais, deverá abandonar a pista e parar no primeiro lugar seguro para tal. A medida visa evitar que a oportunidade seja usada para forçar a entrada do safety car e interferir na dinâmica da prova.
WG
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