Suve
Antes de mais nada, vale explicar que o AE, muito antes de ser um blog, quando era apenas um grupo fechado que trocava mensagens por e-mail, usava a palavra “suve” nas mensagens em referência à sigla SUV. Provavelmente foi o Bob quem começou isso. Muitos anos depois, em meados de 2019, ele, editor-chefe do AE desde seus primórdios, conversou comigo sobre já ser tempo de trocarmos a sigla SUV pela palavra suve, que tinha o mesmo som de SUV (homófona), Muitos, até executivos da indústria automobilística, pronunciavam a sigla SUV como se fosse suve. SUV, como se sabe é apenas a sigla, em inglês de sport utility vehicle, veículo utilitário esporte, portanto imprópria num texto em português. E o mais importante, SUV não consta das definições de veículos do Código de Trânsito Brasileiro. Concordei com ele.
Preconceito
Aqui no AE e em muitos outros lugares, eu percebo um grande preconceito com relação aos suves. Eu entendo bem isso e até concordo sob o ponto de vista de autoentusiastas que priorizam esportividade e desempenho. Também entendo que parte desse preconceito venha da “suvenização” do mercado, em que praticamente qualquer carro levemente mais alto é chamado de SUV. E, por fim, como o consumidor geral prefere suves, isso acaba tirando espaço de carros com apelo e desempenho realmente esportivos. Se há mais elementos que levam a esse preconceito, por favor comente.
O que é um suve
O termo “sport utility vehicle” (SUV) combina duas características essenciais: “Sport” e “Utility”. O elemento “Sport” não se refere necessariamente à esportividade no sentido de desempenho ou velocidade, mas sim à versatilidade do veículo para atividades ao ar livre, lazer e aventura, como trilhas ou viagens em terrenos variados. Já o termo “Utility” enfatiza a funcionalidade do suve, destacando sua capacidade de transportar passageiros e carga com conforto, além da robustez para enfrentar diferentes tipos de estrada. Juntos, esses conceitos definem um veículo projetado para oferecer tanto praticidade quanto um estilo de vida dinâmico.
Definições (conforme Wikipedia)
Não existe uma definição universalmente aceita para o SUV. Dicionários, especialistas automobilísticos e jornalistas utilizam formulações e características definidoras diferentes, além de variações regionais no uso, tanto pela mídia quanto pelo público geral. A indústria automobilística também não chegou a um consenso sobre uma única definição para o SUV.
Inglês americano
As descrições de SUVs em sites automobilísticos variam de “combinar características de carros com a praticidade de peruas e capacidade robusta para off-road” com “bancos na altura de uma cadeira e visibilidade panorâmica” até definições mais gerais como “praticamente qualquer veículo com tração integral disponível e maior altura do solo”. Também é sugerido que o termo “SUV” substituiu “jeep” como termo genérico para veículos off-road.
As definições de dicionários americanos para suves incluem:
- “Veículo automotor
- robusto, semelhante a uma perua, mas construído sobre um chassi de caminhonete leve”
- “Automóvel semelhante a uma perua, mas construído sobre uma estrutura de picape”
- “Veículo grande projetado para ser usado em terrenos irregulares, mas frequentemente usado em ruas ou rodovias da cidade”
- “Veículo de passageiros semelhante a uma perua, mas com o chassi de um caminhão pequeno e, geralmente, tração integral”
Inglês britânico
No inglês britânico, os termos “4×4”, “jeep”, tração integral ou “veículo off-road” são geralmente usados em vez de “sport utility vehicle”. O termo sarcástico “Chelsea tractor” também é comumente utilizado, devido à popularidade percebida desses veículos entre os moradores urbanos de Chelsea, Londres, e à semelhança com veículos usados por agricultores. O Collins English Dictionary define um SUV como um “veículo potente com tração integral que pode ser dirigido em terrenos irregulares. A abreviação SUV é frequentemente usada.”
Um suve autêntico, com as características acima, é um tipo de carro que eu particularmente gosto muito, principalmente pela robustez para enfrentar diferentes tipos de estrada. E para mim, um suve autêntico tem que ser 4×4. Eu adoro viajar para a natureza.
Adoração
Mas de onde veio essa adoração pelos suves por pessoas que nunca andaram e provavelmente nunca andarão pela terra? Pelo que ficou fácil de observar, alguns elementos contribuíram para isso.
Pessoas que utilizam carros apenas na cidade preferem SUVs por várias razões que atendem tanto à praticidade quanto ao estilo de vida moderno. Primeiramente, os SUVs oferecem uma maior sensação de segurança, devido à posição elevada de direção, que proporciona melhor visibilidade do tráfego urbano movimentado, e também facilidade para entrada e saída do veículo. Além disso, os SUVs (originais) oferecem mais conforto e espaço, com cabines mais amplas e a possibilidade de transportar mais passageiros e bagagens, o que é atrativo para famílias ou aqueles que buscam mais conveniência no dia a dia. Outro ponto importante é a versatilidade e o estilo de vida: mesmo que os SUVs não sejam usados para off-road, seu design robusto e imponente é apreciado em áreas urbanas, com a imagem de força e status associada a esses veículos.
Ou seja: posição elevada para melhor visibilidade e mais espaço conquistaram os clientes. Eu acredito que a maioria das “pessoas normais”, ou seja, não autoentusiastas, entendem SUV como veículo mais “altinho”. E isso já basta. Pois veículos mais altinhos proporcionam melhor sensação de segurança tanto em visibilidade quanto em robustez.
E eu concordo com isso, principalmente nas grandes cidades com muitas motos e todos tipos de veículos comerciais mais altos, e nas estradas, sempre com muitos caminhões. A gente se sente um pouco menos “oprimido”.
Outro elemento importante e que acredito ser utilizado com frequência por vendedores é a melhor capacidade de transpor enchentes, cada vez mais frequentes, pela maior altura do solo. E também melhor adaptação às condições péssimas de nossas vias, seja por buracos e imperfeições, lombadas e valetas, ou engenharia mal feita. Trudizido em mais conforto de rodagem, menos raspadas e danos.
E ainda tem mais um ponto não muito explorado, mais importante. Há uma ou duas décadas, os veículos mais altos, altura do solo e da carroceria, não tinham um comportamento dinâmico tão bom, ou comparável a carros mais baixos, o que os tornava menos seguros em velocidades moderadas e altas devido ao seu centro de gravidade mais elevado. Ou seja, ganhava-se em sensação de segurança nas cidades, mas perdia-se em segurança real nas rodovias. Mas isso é passado depois da introdução do controle de estabilidade e melhorias significativas nas suspensões.
Considerando tudo isso, é fácil de entender por que os suves são queridinhos. São altinhos e isso proporciona uma sensação de segurança, são confortáveis para as nossas vias e para entrada e saída do carro. Há algum mal nisso?
Talvez o que nos cause alguma “indignação” seja a banalização do termo para qualquer carro em nome do marketing dos fabricantes. Um caso clássico é o Renault Kwid. Como um carrinho daqueles pode ser considerado um suve? Bem, ele e outros se enquadram na classificação de Veículo Utilitário Esportivo (compacto) do INMETRO.
Definição do Renault Kwid junto ao programa brasileiro de eficiência energética
4.5.9 Categoria de veículo utilitário esportivo compacto Veículo para transporte de passageiros, com área inferior a 8,0 +/- 0,10 m², desprovidos de caçamba para transporte de cargas e, no mínimo, quatro das seguintes características calculadas para o veículo com a massa em ordem de marcha, em superfície plana, com as rodas dianteiras paralelas à linha de centro longitudinal do veículo e os pneus inflados com a pressão recomendada pelo fornecedor:
- Ângulo de ataque mínimo de 23º, com tolerância de -1º, que deve ser medido a partir do ponto tangencial anterior da área de contato do pneu até o ponto tangencial mais baixo da parte dianteira em balanço do veículo;
- Ângulo de saída mínimo de 20º, com tolerância de -1º, que deve ser medido a partir do ponto tangencial posterior da área de contato do pneu até o ponto tangencial mais baixo da parte traseira em balanço do veículo;
- Ângulo de transposição de rampa mínimo de 10º, com tolerância de -1º, que deve ser medido como a média dos ângulos a partir do ponto tangencial mais baixo entre os eixos do veículo até os pontos tangenciais posterior da área de contato do pneu do eixo dianteiro e anterior da área de contato do pneu do eixo traseiro;
- Altura livre do solo, entre os eixos, mínima de 200 mm, com tolerância de -20 mm;
- Altura livre do solo sob os eixos dianteiro e traseiro mínima de 180 mm, com tolerância de -20 mm.

Questão de altura
Com essa classificação, basta uma levantada na suspensão e atenção aos ângulos de ataque e saída, e pronto, nasce um suve.
Daí vemos que a grande maioria de suves urbanos são, principalmente, na verdade hatches mais altos com suspensão elevada e parte externa da carroceria elevada. Para confirmar isso na prática, abra o capô de algum suve compacto e veja que a altura da parte externa dos paralamas dianteiros é bem mais alta que a altura do motor. Ou seja, o carro nasceu como um carro baixo e foi adaptado para ser mais alto.
Sinceramente, eu não vejo problemas nisso também. Se o consumidor deseja isso, vê valor nisso, qual é o mal? A única coisa que acho estranho é que o termo SUV foi banalizado.
Indo para o outro extremo, Porsche, Lamborghini, Ferrari e outros se renderam aos suves, e suas vendas aumentaram substancialmente. Ou seja, de fato, os suves, principalmente os modernos, têm características interessantes e são mais versáteis.
Podemos até preferir hot hatches, performance sedans, wagons V-8, muscle cars, GTs, roadsters e etc. Essa é a nossa natureza. Mas não são os suves que estão acabando com esses tipos de carros, são os consumidores modernos e mais práticos. O que é uma pena. Mas se pensarmos bem, podemos aproveitar suves interessantes também. Até a Nascar vai iniciar uma nova categoria com suves.
Agora, para fechar, me veio aquele antigo ditado:
“Se não pode vencê-los, junte-se a eles”. E aproveite o que eles têm de melhor.

Na minha consulta no próprio AE sobre o assunto me deparei com uma matéria de 2017 do querico Carlos Meccia que conta como nasceu o primeiro SUV. Vale a pena ser lida ou relida..
PM
A coluna “Substance” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
PM