É possível conhecer de perto uma estrela do cinema nacional, que atuou no filme “Ainda estou aqui”, vencedor do Oscar 2025 de melhor filme internacional , por pouco menos de R$ 40. Não falamos da Fernanda Torres, nem do Selton Mello, mas do Opel Kadett vermelho ano 1968, o carro da família Paiva, a principal na obra de Walter Salles. Só não pode demorar: o pequeno sedã alemão fica exposto até à próxima segunda-feira, dia 17 de março.

Onde? No Dream Car Museum, em São Roque, a 60 km da capital paulista. No local, um museu automobilístico, também estão outros vários carros raros e exóticos, nacionais e estrangeiros, além de decorações temáticas, coleções expostas e outras atrações, como pista de kart e show de drift. Exposto no local desde o dia 7 de março, o Opel Kadett recebeu uma “vaga VIP” na ilha central do museu, sobre uma plataforma giratória. Nela, o carro pode ser visto e fotografado de todos os ângulos, como atração principal. Ingressos, você encontra aqui.
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O Kadett vermelho em questão tem uma bela história. Integrante da terceira geração do modelo, fabricada entre 1965 e 1973, ele chegou zero-km ao Brasil, entre 1968 e 1969, estima-se. Originalmente, era pintado num tom de amarelo claro. Foi o colecionador Ricardo Antônio Amoedo, conhecido no meio como “Ricardo Jacó”, que viu o Opel com outros olhos, de salvação, pela primeira vez: certo dia, na década de 1990, encontrou o sedã estacionado no bairro de Pirituba, zona oeste de São Paulo.

Jacó logo foi atrás do seu dono, um barbeiro, e acabou fechando negócio por cerca de R$1,5 mil na época. O próximo passo foi “reerguer” o Kadett, que já se aproximava das três décadas de uso intenso: seu novo proprietário importou peças do Uruguai e dos EUA, deixando o Opel “em pé” novamente.
Movido por um contido motor 1,1 (1.078 cm³, 75 x 61 mm) de quatro cilindros em linha, comando de válvulas no bloco, com não mais que 50 cv de potência e 7,6 m·kgf de torque, o simpático sedã ainda tinha perdas de energia por conta da tração traseira (cardã). Mesmo com um curto câmbio manual de quatro marchas, nunca teve desempenho como ponto forte. Ainda pintado de amarelo, acabou sendo usado por Ricardo por algum tempo, antes de ser guardado numa garagem em São Paulo.

O Kadett amarelo ficou por quase 20 anos parado, junto de outros carros da coleção de Ricardo Jacó, sofrendo com a poeira, umidade, ressecamento e outros males de todo veículo que não roda com frequência. Praticamente em estado de abandono, que só foi mudar em 2015, quando outro colecionador, do Rio Grande do Sul, o encontrou naquelas condições: apesar de acumular muita ferrugem, ter o motor a fazer, precisar de uma repintura e de uma revisão completa na mecânica, o Opel conquistou o novo dono.

Foi parar em Carazinho, cidade a quase 300 quilômetros da capital Porto Alegre, e poucos meses depois caiu nas mãos de outro entusiasta automobilístico, o médico Alexandre Gireli Colcete. Ele foi o responsável por restaurá-lo por completo. Apenas o interior tinha poucos detalhes a serem feitos. Apesar de trabalhoso, o processo de recuperação completa do sedã durou cerca de um ano. Pelo menos o Kadett conseguiu participar do Expoclassic, um dos maiores eventos automobilísticos realizados em área coberta no Mercosul, na edição de 2016. Lá, foi premiado pela originalidade.

Os primeiros passos na carreira de ator vieram em 2023. Na ocasião, a produção do “Ainda estou aqui” estava reunindo os carros para utilizar no filme, e aí procuraram Fábio Costa: ele é dono da Veículos em Cena, empresa que faz justamente esse trabalho de alugar carros para produções de televisão. Fábio, com a ajuda do seu filho Gabriel, conseguiu encontrar o Kadett, que ainda estava com o médico Alexandre no sul do país. Quem participou dessa empreitada foi também Ricardo Jacó, aquele que havia encontrado o sedã em São Paulo nos anos ’90.
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As negociações para comprar o Opel, ainda amarelo, foram extensas e complicadas: o médico Alexandre Colcete não queria se desfazer do seu tão querido carrinho alemão. No final, acabou cedendo, e o carro passou a fazer parte da frota da Veículos em Cena, já com um trabalho “engatilhado”: seria o carro da família Paiva no “Ainda estou aqui”. Como o início das gravações não ia demorar, e o carro precisava ser vermelho a mando da produção do filme, tiveram apenas cinco dias para repintar o Kadett. De quebra, capricharam no isolamento acústico e removeram vários barulhos do carro para que ele ficasse mais silencioso nas cenas.
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O carro ficou alugado com a equipe de produção do filme por sete meses: de junho de 2023, quando começaram as gravações, até janeiro de 2024, momento em que já eram captados sons ambientes do Opel, como partida do motor ou batida das portas. Vale falar que a família Paiva, na época retratada no filme, tinha na garagem um Opel Kadett vermelho, igual a esse utilizado nas gravações. Por isso a escolha pelo sedã alemão, e a necessidade de mudar sua cor.
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Alexandre Colcete, o médico, que havia comprado o carro em 2015, restaurado completamente e guardado em seu acervo por oito anos, só foi saber do estrelato do seu ex-Kadett depois. Para ele, haviam falado apenas que o Opel seria utilizado em um filme sobre um político brasileiro, sem dar maiores detalhes. Grande surpresa foi saber qual seria a obra, e, principalmente, a importância do carro no filme. Fernanda Torres e Selton Mello gravaram diferentes cenas ao volante do sedã.
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O próximo passo do Opel Kadett 1968 é ir parar em um grande leilão, que deve ocorrer no dia 22 de março. Há quem diga que, depois da atuação como protagonista automobilístico no filme, com o sucesso na mídia, premiação no Oscar e tudo mais, o simpático sedã, antes amarelo e agora eternizado na cor vermelha, deva alcançar a casa dos R$ 300 mil. Mas o céu é o limite…
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
N.d.R. : Texto compilado por Lucca Rasera Mendonça, filho do Douglas.