Enquanto grandes fabricantes anunciavam bilhões de dólares de investimentos nos elétricos, Akio Toyoda, presidente da Toyota e neto de seu fundador Kiichiro, enfrentou um turbilhão de críticas ao decidir diversificar investimentos em outras alternativas energéticas.
Um dos resultados foi de a Toyota ter sido pioneira da propulsão híbrida com o Prius lançado em 1997 e que se mantém em plena produção passados 28 anos. E novamente pioneira com o Mirai, que se movimenta com motores elétricos, mas sem bateria, pois a corrente é gerada por uma pilha a combustível (fuel cell) alimentada por hidrogênio. Seu elétrico só apareceu anos mais tarde.
Corrida pelo elétrico
Primeiro elétrico do mundo produzido em série? Foi o Zoe (Zoe de zero emissions) da Renault, apresentado no Salão de Genebra de 2009. Um ano depois foi a vez de sua já parceira (1999), a Nissan, com o Leaf.
A corrida pelo elétrico agitou o setor. Em vários países foram surgindo iniciativas para se determinar uma data-limite no emplacamento de carros com motores térmicos (a combustão). Os anos de 2030 e 2035 foram os marcos definidos pelo parlamento da União Europeia para as barreiras legais aos automóveis a gasolina e a diesel e incentivo aos elétricos.
Navegando nesta onda, a executiva-chefe global da General Motors Mary Barra anunciou que sua empresa não iria sequer investir nos híbridos e migrar diretamente para os carros elétricos a bateria. A Ford, embora menos radical, também apostou suas fichas nos elétricos.
Os chineses foram ainda mais espertos, desenvolveram seus elétricos à frente dos ocidentais e esbanjam tecnologia na eletrificação veicular.
A euforia durou pouco e os ventos sopram hoje mais para os híbridos. Mrs. Mary foi forçada a investir nesta praia e a engenharia da GM está debruçada sobre eles. A Ford encerrou prematuramente a produção da F-150 Lightning (elétrica pura), que não vingou no mercado americano e passou a oferecer versões híbridas. A Stellantis volta a produzir em agosto seu famoso V-8 Hemi (riscado do mapa por seu ex-presidente executivo Carlos Tavares) e lança uma Ram hibrida. Na Europa, o ano de 2030 para limitar os carros a combustão já foi empurrado mais para frente. Não por falta de tecnologia, mas de adesão do mercado aos elétricos. Fábricas como Mercedes e Porsche estão ressuscitando projetos de novos motores a gasolina.
As estatísticas comprovam: segundo o JD Power, o mercado dos EUA absorveu 1,2 milhão de elétricos em 2024, uma fatia de 9,2% com crescimento de 0,8% em relação a 2023. Enquanto isso, os híbridos representaram 11% das vendas, tendo crescido 2,4% em relação ao ano anterior. Os elétricos nos EUA ainda custam — em média — cerca de US$ 5 mil mais que os carros a combustão. E desvalorizam quase o dobro no mercado de usados.
Ri melhor quem ri por último
A Toyota assistiu de camarote à enxurrada de elétricos, continuou investindo nos híbridos e logo percebeu a superioridade dos chineses nesta tecnologia.
Seu primeiro elétrico? O ainda conceito bZ4X, lançado em 2021 (foto de abertura). Um suve com mais de 500 quilômetros de alcance, garantia de até 10 anos e que inaugurou a linha bZ. Que significa “beyond Zero” (além de zero), numa referência às emissões “zero”. Mas sua grande aposta é no segundo modelo bZ, o compacto 3X desenvolvido em parceria com a chinesa GAC e que será comercializado inicialmente apenas na China. Um suve com preços mais que competitivos e que aplica todo o aperfeiçoamento dos elétricos conquistado pelos chineses até agora.
A estratégia de “seu” Toyoda é iniciar apenas em 2027 os lançamentos globais de elétricos começando por sua submarca de luxo, a Lexus. Com um novo arcabouço flexível e modular projetado para reduzir custos, acelerar tempo e eficiência na linha de montagem. Enquanto a concorrência investia bilhões nos carros a bateria, sua marca continuou desenvolvendo os híbridos. Que, hoje, todos percebem ser a melhor opção do mercado até que os elétricos sejam mais viáveis em termos de custo, alcance, recarga e valor de revenda.
Pelo andar da carruagem, quando este dia chegar, a Toyota já terá um portfólio com uma completa linha de eletrificados. E Akio Toyoda, sorridente num ofurô familiar, contando para seus herdeiros e sucessores como se sair vitorioso neste complexo jogo contra os mais poderosos atores do mundo.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.