Não se deixe contaminar pelo medo da manada. Não fuja com ela em disparada. Erga a cabeça, observe a situação, e siga o seu próprio caminho com determinação.
Um pouco de Economia.
A maioria das instituições sérias, dentre elas o Banco Central, afirmam que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 3,6 % no ano passado e preveem que deva crescer 0,5 % neste ano de 2017. Se esse crescimento de 0,5 % parece pífio ao leitor, espero que mude de opinião após ler o que aqui vai.
Vamos exemplificar a situação econômica com algo que todo autoentusiasta domina: a velocidade.
Digamos que estamos viajando numa estrada plana, asfalto perfeito e numa reta tipo infinita como aquelas belíssimas estradas da Patagônia argentina. Estamos com o controle automático de velocidade ligado, seguimos a 100 km/h, e assim viajamos por uma hora. Ao cabo de uma hora teremos percorrido 100 quilômetros.
A cada clique para baixo no botão do controle automático de velocidade, ela reduz 1 km/h, aí você decide baixar 1 km/h a cada 5 minutos, então a cada 5 minutos dá um clique para baixo no botão. Portanto, nos primeiros 5 minutos você viaja a 100 km/h. Nos 5 minutos seguintes viaja a 99 km/h. Nos outros 5 minutos, a 98 km/h, e assim a coisa segue, reduzindo sua velocidade por 12 vezes ao longo dessa hora (60 ÷ 5 = 12).
Ao final de uma hora você estará a 88 km/h. Certo? Certo! Essa é a sua velocidade instantânea após uma hora, 88 km/h, ou seja, 12 km/h a menos do que vinha uma hora antes, já que vinha a 100 km/h.
E qual foi a distância que percorreu? Sua velocidade média foi de 94 km/h, portanto, percorreu 94 quilômetros.
Bom, então a sua situação instantânea agora é essa: você está a 88 km/h e na última hora percorreu 94 quilômetros de estrada.
Nesse instante você resolve que na próxima hora vai percorrer outros 94 quilômetros de chão, a mesma distância que percorreu na hora anterior.
O que terá que fazer? Terá que acelerar para obter uma média igual à que obteve na hora passada. Então, a cada 5 minutos dará um clique no controle de velocidade para que ela aumente em 1 km/h. Assim, ao cabo de uma hora sua velocidade instantânea será de 100 km/h e sua média horária terá sido 94 km/h.
Tranquilo. Assim, ao cabo de uma hora você tornou a percorrer outros 94 quilômetros.
Simples, não é? Chega a ser enfadonhamente simples, mas sigamos com ele, o simples, pois tudo na vida é simples, desde que nos saibam explicar direito a coisa.
Na economia acontece o mesmo. O produto interno bruto de um país corresponde aos quilômetros vencidos, acumulados ao longo de certo período de tempo. No ano passado, 2016, o produto interno bruto veio caindo a cada mês, a ponto de ao final do ano termos produzido 3,6% a menos que no ano anterior, 2015.
Em 2015 produzimos 100 “coisas” e em 2016 produzimos 94 “coisas”.
Mas acontece que essas 94 “coisas” não foram produzidas num volume mensal constante ao longo do ano. Começamos o ano numa velocidade instantânea de produção que produziriam 100 “coisas” ao ano, e terminamos numa velocidade instantânea de produção que produziriam 88 “coisas” ao ano. Em termos instantâneos, em janeiro deste ano, não estávamos produzindo só 3,6 % abaixo da média mensal de 2015. Estávamos abaixo disso.
Outro exemplo, agora da roça. Digamos que você está a cavalo e tem que dar três voltas numa roça de milho. Na primeira volta vai a galope. Na segunda a trote, e na terceira a passo. Digamos que você levou cinco minutos para dar as três voltas. Ao completar a terceira volta sua situação instantânea é que você está a passo. Então você resolve dar mais três voltas. Se as fizer todas no ritmo em que se encontra, a passo, é óbvio que levará mais que os cinco minutos que levou anteriormente. Terá que também botar o cavalo para trotar e galopar, ou seja, terá que cutucar suas costelas, acelerá-lo, para conseguir completar as três voltas nos mesmos cinco minutos.
Portanto, para que o nosso PIB anual não caia em relação a 2016, a produção mensal obrigatoriamente terá que subir. Teremos que acelerar a economia para que o PIB de 2017 empate com o de 2016. E se todas as previsões de entidades sérias, nacionais e internacionais, preveem que o PIB de 2017 crescerá 0,5 %, é porque preveem que a economia vai esquentar, e direi mais, acho que já está esquentando. Preveem, portanto, que tomaremos um ritmo positivo um pouco mais forte que o ritmo negativo que tivemos em 2016.
Crescer 0,5 %, depois dessa tremenda queda de 3,6 %, não é “uma paradeira” não. É boa aceleração. Crescer 0,5 % só é “uma paradeira” se no ano anterior o PIB manteve-se estável ou em crescimento. Nunca após um ano de PIB em queda brusca.
Onde a economia está esquentando, onde ela vai esquentar, ainda não sei, mas o tempo, em breve, nos dirá. Portanto, não é momento de desanimar. É momento de animar, acelerar. Não é momento de fugir junto à manada espavorida. É momento de erguer a cabeça acima dela, estudar que rumo tomar, criar coragem, tomar suas precauções e investir no seu próprio rumo.
Quanto aos economistas… Coitados dos economistas. Esse negócio de só ser levado a sério quando faz previsões pessimistas deve ser um tédio.
AE/AK