Hoje o assunto é um memorável passeio de moto que eu e um grupo fizemos a Bauru e Barra Bonita, para nesta cidade conhecermos a famosa eclusa do rio Tietê.
Na época, 2001, eu trabalhava na General Motors do Brasil e tinha fundado o ADC – GM Moto Clube (as siglas são de Associação Desportiva Classista e General Motors) em novembro de 2000. Como já contei em outra ocasião, este moto clube, que levava oficialmente o nome da GM, era formado em sua maioria por funcionários da fabricante, seus parentes e alguns amigos. Éramos aproximadamente 100 associados e o propósito do clube foi o de unir os funcionários, criar um relacionamento entre familiares e fazer muito turismo sobre duas rodas.
Nas reuniões que se realizavam na sede do clube, em São Caetano do Sul, decidíamos mediante um processo democrático para onde e em que fim de semana seria realizado o passeio denominado “bate e fica”, isto é, com pernoite. Havia também os passeios “bate e volta” que, como o próprio nome diz, eram de ir e voltar no mesmo dia.
A escolha, a opção mais votada, foi um fim de semana para conhecermos a eclusa de Barra Bonita. Semanas antes tínhamos conhecido Salesópolis, cidade onde nasce o rio Tietê em uma mina “olho d’ água” situada a 1.027 metros de altitude. O rio Tietê desemboca no rio Paraná e suas águas percorrem da sua nascente até à confluência 1.136 quilômetros. É o único rio que não desemboca no mar.
Tudo acertado, 24 motos inscritas, a maioria tripulada por casais e alguns colegas de carro com seus filhos. O destino era a cidade de Bauru, a 330 quilômetros a noroeste de São Paulo, a mais próxima de Barra Bonita. A reserva no Obeid Plaza Hotel já tinha sido providenciada e tudo estava certo.
Como em todos os passeios, a saída era do ADC – GM Clube depois do café da manhã e fazia parte da estrutura do passeio um carro de apoio e a nossa carretinha. A moto poderia apresentar algum problema técnico ou um piloto poderia estar de ressaca da noite anterior — lógico que à noite frequentávamos alguns bares, mas nunca de moto, tínhamos que dar o exemplo; ou quem ia de moto simplesmente não bebia. Saímos sábado de manhã.
Além desta prevenção, o carro de apoio servia também para carregar as malas das esposas que não sabiam viajar por dois dias com roupa para tal e faziam malas com roupa para uma semana…
Na manhã seguinte, domingo bem cedinho — a contragosto de alguns — seguimos em direção a Barra Bonita, a 73 quilômetros a sudeste de Bauru.
No cais em Barra Bonita estacionamos as motos e nos dirigimos ao barco que nos levaria para fazer o incrível passeio.
Todos a bordo, partimos para navegar nas águas do Tietê, algo comum mas inacreditável para quem conhece o Tietê em São Paulo, na marginal homônima.
Chegamos à eclusa ansiosos e com certo nervosismo. Como seria o subir e o descer das águas era o que todos se perguntavam.
Entramos na eclusa, uma manobra de mestre do capitão do barco, e a água começou a subir. Na nossa frente só uma enorme comporta de aço e nos lados, grandes e intimidantes paredões de concreto. A água subia e o barco, junto.
Uma vez em cima a comporta se abriu e lá estávamos nós na parte alta do Tietê, navegando em meio a muita vegetação que nos dava a certeza da clareza e limpeza daquela água.
À volta para “casa” seria por um processo inverso, tínhamos que baixar ao nível “térreo”, de onde havíamos saído. A emoção de entrar na eclusa e ver o nível da água baixar foi igualmente emocionante e inesquecível. Durante o passeio até um almoço a bordo curtimos.
Para quem não acredita, até praia vimos no rio Tietê (foto de abertura) e também aves nas margens.
Chegamos do passeio por volta das 2 da tarde, bagagem bem presa, motos com tanque cheio, carretinha de apoio OK e “pé na estrada” de volta para São Paulo.
A chegada à capital ainda foi com dia claro e todos se despediram no último posto da rodovia antes de chegarmos ao Tietê que conhecíamos — que tristeza, o visual e o cheiro. A saudade já bateu ali mesmo.
Ao nos despedirmos, a pergunta mais importante, eu como presidente do Moto Clube e organizador do passeio, feliz da vida, ouvia: para onde e quando será o próximo passeio?
Escrever esta matéria me deu uma grande saudade.
RB