Meados de 2007, eu então proprietário de um Gol 16v Turbo 2001, já estava pensando em trocar de carro, vinha em uma sequência de três VW Gol, um de cada geração (GI, GII e GIII) e o GIV não me agradou nem um pouco (para mim era inaceitável trocar um bem acabado GIII por um simplório GIV).
Comecei a estudar as possibilidades para um substituto e a minha lista se resumiu quatro carros: Montana Sport 1,8, Astra Advantage, Golf 2,0 e o recém-atualizado VW Polo hatch. A Montana era linda, tinha que ser vermelha, mas descartei-a pelo valor proibitivo do seguro. O Golf “4,5” nunca me encheu os olhos visualmente, apesar de ser muito bem acabado (muito mesmo) e muito bom de tocar, mas o desenho, na minha opinião, era controverso. O Astra tinha um excelente custo-benefício, os contras eram o interior simples e o seguro (mais caro que o do Golf, uma surpresa) e o Polo, bem o Polo…
Eu conhecia bem o Polo desde seu lançamento, mas aquela frente “à Mercedes” nunca me chamara a atenção. Sabia de algumas de suas qualidades, mas não lhe dava a mínima atenção — até que veio o bem-resolvido facelift em 2007. E não é que o desenho mudou da água para o vinho? O patinho feio passara a ser lindo com um facelift básico!
Ok, ainda pensando nas possibilidades, um dia fui à concessionária VW Caraigá em São Paulo comprar algumas peças para o meu então Gol 16v Turbo e o que havia no meio do salão de vendas? Um Polo GTi! Fiquei hipnotizado, dava voltas em torno do carro, não sentira aquela sensação desde o lançamento do Gol GTi 16v, fiquei bobo. Ali decidi que meu próximo carro seria um Polo 0-km e seria vermelho, o mesmo vermelho do GTi.
Para ajudar, enquanto o seguro da Montana ficava em R$ 4.500,00 no meu perfil, Astra, em R$ 3.800,00, e Golf, em R$ 3.300,00, o do Polo saía por R$ 1.500,00.
Para finalizar, eu não trabalhava ainda na VW, mas um grande amigo, sr. Zé, pai de meu grande amigo Robson, era aposentado VW e sabendo do meu interesse se ofereceu a pegar um carro para mim sem ônus algum. Aí ficou muito fácil.
Nessa época, as versões do hatch eram o Polo 1,6 e o 1,6 Sportline (além do importado GTi), porém o Sportline não dava a opção dos bancos cinza listrados, porta-malas acarpetado e terceiro encosto de cabeça. Lá fui eu montar um 1,6 completo, mais completo que um Sportline, e assim foi feito. Efetuamos o pedido e aguardamos até que um dia de setembro de 2007 o amigo Robson me liga dizendo que o carro estava pronto.
Fui até à casa do sr. Zé e de lá nos dirigimos em seu Santana até à fábrica em São Bernardo do Campo. Chegando lá, o sr. Zé entrou e eu fiquei no pátio Anchieta só aguardando, atento ao movimento.
Enfim, carro na mão, fomos até o posto mais próximo, enchi o tanque do Polo e do Santana (era o mínimo que eu podia fazer, além de comprar uma camisa do Palmeiras para o sr. Zé!)
Tudo resolvido, era hora de apreciá-lo: embora andasse consideravelmente menos que o meu antecessor Gol 16v Turbo, no resto era muito superior em tudo, mas muito mesmo, eu não fazia ideia do abismo: direção bem rápida, chassis nitidamente superior, rigidez idem, estabilidade sem igual, câmbio, o MQ200, que “chupa” os engates.
O acabamento esmerado, sóbrio como todo VW, mas a impressão de qualidade era nítida. Os freios eram excelentes, era um outro padrão de carro, bem acima do que eu estava acostumado. Arrancava sorrisos a todo instante, era muito prazeroso guiá-lo, estrada sinuosa era com ele! Sobrava conjunto para o esforçado EA111 1,6-L, foi um companheirão de inúmeras viagens, batia cinco horas de volante e eu chegava completamente inteiro no destino.
As surpresas eram sempre positivas. Resolvi instalar um jogo de alto-falantes da renomada marca Pioneer e, ao desmontar os acabamentos de porta, o esmero era nítido, não havia filmes plásticos e sim placas metálicas. A batida de porta era justa, tudo transmitia muita qualidade. Também pudera, foi meio que um divisor de águas na indústria nacional em termos de construção: muita automação na montagem, solda a laser no teto (nem o Golf e A3 tinham isso), gaps perfeitos, algumas peças metálicas confeccionadas no sistema tailored blank (uma mesma peça com duas espessuras de chapa diferentes), travessa do painel de instrumentos em material injetado, alinhamentos perfeitos, difusores de ar do painel com esforço calculado, detalhes impensáveis em um hatch de pequeno porte. Digo sem medo que construtivamente falando, esse projeto do início de 2000 ainda é atual, saiu de linha em 2014 recebendo 4 estrelas no Latin NCap.
O porta-copos do painel de instrumentos era sensacional, não vi até hoje nada tão bacana como aquilo!
Enfim, é um carro que deixou muita saudade. Tive que vendê-lo em 2010 para a compra de um imóvel e foi na ocasião um negócio muito vantajoso. Mas acho que foi o único carro até hoje que vendi com dó, mas foi por uma boa causa. Fui embora olhando para ele, como que me despedindo.
E vocês (incluindo a equipe AE), qual o melhor carro que vocês já possuíram?
Um abraço!
Luciano Gonzalez
São Paulo – SP