Modelo HB20 estreou em Interlagos com resultados encorajadores
Quando se mistura razão e emoção em doses apropriadas, raramente o resultado desanda. Assunto comentado há tempos nas conversas de pista de Interlagos e outros circuitos, a Hyundai pode fazer história no automobilismo brasileiro: a marca sul-coreana está de olho no Campeonato Brasileiro de Turismo 1600 e pode ser a primeira fábrica a retornar ao esporte, ainda que de maneira indireta. Essa novidade, há muito esperada, pode ser anunciada em breve, fruto da visão empresarial de um apaixonado por competições, Daniel Kelemen, presidente da Associação dos Revendedores Hyundai do Brasil e diretor do grupo Maxmotors. Possivelmente hoje ele se reúne com William Lee, o presidente da unidade brasileira da fábrica coreana, para acertar detalhes do projeto que tem chances de até mesmo criar uma nova categoria monomarca.
No último fim de semana dois modelos HB20 1.6 participaram da prova do Campeonato Paulista de Marcas e Pilotos para avaliar duas receitas de preparação desenvolvidas por Alexandre Rheinlander (motor) e Fabiano Cardoso (piloto e preparador de chassi). Independente do resultado final, o desempenho dos HB 20 de número 45 e 54 pilotados por Daniel Kelemen/Pedro Pimenta e Fabiano Cardoso/Rafael Lopes, respectivamente, mostraram potencial mais do que animador. Na prova de classificação o hatch de Lopes e Cardoso completou os 4.309 metros de Interlagos em 2’03”200, tempo superado apenas pelos 2’03”005 registrados pelo VW Gol de Wanderson e Leandro de Freitas, pole position e único carro a superar o hatch fabricado em Piracicaba (SP). Ambos modelos foram preparados segundo o regulamento do Campeonato Brasileiro de Turismo 1600. O outro carro da Max Motors também foi inscrito nessa categoria, mas correu equipado com motor de série cuja única modificação era de ordem eletrônica. Seu tempo de classificação (2’05”237) garantiu o 22º no grid, índice sem dúvida promissor.
Considerando que a indústria automobilística considera cinco anos como o ciclo de vida de um modelo, é lícito presumir que a chegada de um sucessor do HB20, lançado em setembro de 2012, está próxima. O fato de ser um modelo exclusivo do Brasil certamente, porém, garante uma sobrevida e neste caso, provar a resistência e eficiência no modelo nas pistas e disputando uma categoria onde existe o confronto direto com rivais. tem tudo para ser usada como uma importante ferramenta de marketing. E nesse aspecto pode-se esperar por algo especial, a julgar pelo que Daniel Kelemen tem a dizer: “Nossa proposta é algo além de fabricar um carro de corrida a partir do HB20. Queremos oferecer um produto de custo acessível em um ambiente no qual os familiares dos pilotos, seus patrocinadores e os apoiadores do evento possam desfrutar dentro de um clima tipo Porsche Cup.”
Além de presidente da associação dos revendedores da marca, Kelemen é diretor do grupo Maxmotors, que congrega outras concessionárias e já apoia o desenvolvimento de um Chevrolet Onix. Em outras palavras, o executivo conhece um pouco do mercado de automóveis e certamente já chegou aos seus ouvidos uma queixa muito ouvida entre alunos de escolas de pilotagem em São Paulo. São muitos aqueles que gostariam de participar de uma categoria com carros mais modernos construídos de acordo com um regulamento equilibrado que mantenha os custos em níveis aceitáveis e que ofereça uma estrutura mais adequada nos serviços de apoio. Os carros que competiram em Interlagos foram montados de acordo com o regulamento do Campeonato Brasileiro de Turismo 1600, com foco em durabilidade mais do que desempenho, como explica o preparador Alexandre Rheinlander: “Sem dúvida pensamos na performance, mas a preocupação maior foi durabilidade. Usamos pistões forjados, trabalhamos comando de válvulas, bielas e usamos a versão mais moderna da injeção eletrônica da Pro-Tune, tudo isso no carro 54. No outro mantivemos um motor praticamente standard.”
O engenheiro gaúcho cuida do motor enquanto o desenvolvimento de chassi está a cargo da Scuderia Fast Racing, do piloto e preparador Fabiano Cardoso. De acordo com Rheinlander, a ideia inicial é participar com esses carros no Campeonato Brasileiro de Turismo 1600 e desenvolver o HB20 para vender a outros pilotos. O preço previsto para o carro completo é “na faixa de R$ 50 mil, R$ 60 mil no máximo”. O preparador gaúcho, de ascendência germânica, torce para que o trabalho iniciado em 2013 produza frutos em breve e a CBA e as federações se entendam para adotar um regulamento único em todo o País:
“Isso atrapalha muito. Eu preparo motores para Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, entre outras praças, e preciso tomar muito cuidado para usar peças que se encaixam em um regulamento mas que seriam ilegais em outro. O problema é que muitos preparadores fazem pressão junto às federações e impedem que essa unificação, pois não querem abrir mão de receitas já testadas e aprovadas nos carros mais antigos.”
Por enquanto ainda não se sabe se uma categoria monomarca dedicada ao pequeno hatch da Hyundai sairá do papel em 2018: é mais provável, e muito mais lógico, que a próxima temporada seja usada como um processo de desenvolvimento em várias pistas brasileiras, o que evitaria o risco de queimar um dos projetos mais promissores que surgiu no automobilismo regional nos últimos tempos. Disputar o Campeonato Brasileiro permitira avaliar o modelo em pistas diferentes e encontrar o melhor acerto para cada traçado. O bom resultado de Interlagos, porém, pode levar à criação de uma categoria monomarca, projeto mais abrangente e que demandará maior investimento.
WG
Contraponto
Um verdadeiro campeonato de marcas
Nada mais auspicioso que ver uma fabricante do peso de uma Hyundai se envolvendo no automobilismo, mesmo que indiretamente. Melhor, numa categoria multimarca de verdade, o Brasileiro de Turismo 1600, e não a falsidade ideológica que é Campeonato Brasileiro de Marcas e seus carros em que “marca” é apenas um emblema numa bolha plástica igual para todos e sobre a mesma mecânica. Que seja a semente para a revitalização da verdadeira disputa de marcas que vimos na década de 1980. Quem sabe a Hyundai Motor Brasil brilhando, ou mesmo levando a taça de marca campeã, deixe as demais fabricantes mordidas e estas partam para a resposta, daí advindo formação natural de equipes com apoio de fábrica. É exatamente o que automobilismo brasileiro precisa. E que a CBA tenha competência, seriedade e vontade para impor um regulamento nacional, condição essencial para o pleno e esperado sucesso o Brasileiro de Turismo 1600. Um categoria monomarca Hyundai pode até haver, mas como prova preliminar da Turismo 1600. Provas monomarca são como corridas de cavalos ou, como dizia o saudoso Chico Landi, “é briga de irmão, não tem graça.”
Bob Sharp