Já comentei neste espaço que tenho um olho muito mais claro que o outro. Os dois são castanhos, mas um é bem clarinho, esverdeado e o outro, mais escuro. Tecnicamente chama-se heterocromia, mas meu marido diz que é defeito de fabricação e “culpa” meus pais. Já eles sempre acharam que eu ficara na dúvida de com quem deveria me parecer e decidi ficar no meio a meio: minha mãe tem olhos castanhos escuros e os do meu pai eram totalmente verdes. Passei minha vida inteira ouvindo pessoas que já viram gatos que têm isso e, sim, é razoavelmente frequente em gatos, mas bastante raro em seres humanos — a não ser que me acham uma gata… Bom, chega de bobagens, Norinha. Vamos ao que interessa.
E por que conto isto? Porque um dos meus olhos, o mais claro, é mais sensível à luz. Nada que seja realmente prejudicial no dia a dia, questão de nanomilimicrosegundos. Atrapalha mesmo quando tenho que dilatar a pupila. Aí sim é uma tortura, pois demora horas em voltar ao normal. O outro também, mas menos. Com sol forte óculos resolvem totalmente, mas tenho notado muito incômodo com luzes que reputo como inconvenientes e desnecessárias durante a noite quando, por óbvio, não uso óculos de sol. É o caso dos “giroflex” dos caminhões-guincho das concessionárias das rodovias e de algumas companhias de seguro. Ô inferno! Usam lâmpadas brancas, daquele tipo branco mesmo (devem usar aquele sabão em pó que deixa tudo superbranco) e piscam descompassadamente. E estão localizadas a uma altura que parece ser a pior possível. Aliás, nem sei para que andam com essas luzes piscando.
Sinceramente, não sei se a cor dos meus olhos tem algo a ver com o grau de incômodo — provavelmente não, pois meu marido também reclama muito disso, assim como minha mãe — e ambos têm os dois olhos da mesma cor, e escuros. Ainda não fiz uma das minhas quase rotineiras enquetes com meus amigos e, ao contrário do que sói acontecer, escrevo sem consultar uma base grande de pessoas. É mais uma experiência pessoal. Quase um desabafo.
O tom de branco desses “giroflex”é ridículo, assim como a intensidade. Fere os olhos. Não apenas os meus “defeituosos”, mas os de outras pessoas. Consultei amigos e parentes e também se incomodam. Entendo que como o veículo vai parar num local geralmente inconveniente, a sinalização dele deve ser muito visível. Mas, feérica, assim, faz sentido?
Veja que o problema maior é o tom da luz, não a quantidade nem talvez a intensidade.
Mas tem também alguns reboques de caminhão que usam lâmpadas que parece que vão iluminar uma mina de carvão. Ficam entre o cavalo-mecânico e a carreta e juro que não sei a utilidade disso. Iluminar o engate? Mas precisa um zilhão de lumens? Quando fazemos uma ultrapassagem de um desses caminhões é uma tortura, especialmente se ficamos algum tempo ao lado, como num engarrafamento. Não sei se são obrigatórios e pesquisei, mas não encontrei nada sobre isso. Desculpem, caros leitores. Quando o motorista insiste em não nos dar passagem e temos de ultrapassar ou mesmo sobrepassar pela direita, quem se lasca é o condutor do carro. Quando é ao contrário, é um incômodo para o carona, mas é menos inseguro.
Recentemente em algumas estradas apareceram cartazes de LED com informações relativamente importantes, como congestionamento do quilômetro tal ao quilômetro tal. Mas em alguns casos a intensidade e o brilho das lâmpadas é tanto que além de ficar quase impossível ler o que está escrito ao passar pela placa ficamos ofuscados por alguns segundos. E não apenas eu com meu zoinho defeituoso. Outros ocupantes do meu carro notaram o mesmo em estradas. Felizmente, depois de algum tempo, a placa do km 63 da Castello Branco foi regulada – ou vai ver que queimaram as lâmpadas ou caiu a subestação que a alimentava, sei lá.
Em Buenos Aires também vi carros da empresa de controle de trânsito com o mesmo problema: luzes piscantes excessivamente brancas e numa altura que realmente incomoda. Como faz mais de um ano que não vou para lá, não sei se mudou alguma coisa.
Isso sem falar na quantidade de motoristas que anda com faróis desregulados – fato já abordado diversas vezes neste AE, inclusive por mim.
Também merece uma desculpa melhor, além de mera “distração”, o fato de alguém andar com farol alto. Canso de ver na estrada. Geralmente aviso, gesticulando e na maioria das vezes o motorista percebe e baixa o farol. Nem sempre, infelizmente. Mas juro que não sei como alguém não se dá conta. Nem digo a luz no painel, pois tem gente que nem olha para ele, não conhece os símbolos e, como a personagem Penny do seriado “The Big Bang Theory”, quando a luz do motor acendia ela achava que o defeito era da luz, não do motor. Até que, claro, o carro parou de funcionar. Mas isso é ficção e eu vivo no mundo real onde as pessoas não percebem pelo reflexo no carro da frente que estão iluminando a cabeça inteira do motorista da frente. Mas o que dizer de tanta falta de preparo? Semana passada peguei um táxi e depois de esperar uma providência tive de avisar ao motorista que ele estava com a seta ligada há tempos. A luz piscava no painel e aquele toc-toc-toc era audível do banco de trás do carro mas ele não havia percebido. Será que ele pensou que era uma goteira?
Tem também os veículos de serviço e a iluminação durante as obras nas estradas. Entendo que em obras noturnas a quantidade de lumens deve ser altíssima para que os operários possam trabalhar com segurança e precisão, mas não daria para apontar esses holofotes de estádio de futebol em dia de final para a obra e não para os carros que vem pela estrada? E é muito comum que mesmo sem que haja pessoas trabalhando eles continuem ligados e virados para a estrada. Pelo menos nas estradas do estado de São Paulo, independentemente de serem estaduais, federais, municipais, privadas ou públicas.
Em compensação, vejo na estrada muitas motos sem luz na frente – atrás quase nunca tem mesmo. E, claro, muitos carros com algumas apenas funcionando. Deve ser o tal do equilíbrio que dizem que o universo sempre procura (modo irônico superfuncionando).
Mudando de assunto: Ao levar o carro à oficina para a revisão fui chamada pelo atendente de “doutora”. De calça jeans, sapatilha e camiseta? Meu marido normalmente é “doutor”, como, aliás, em qualquer posto de gasolina, mas até agora eu era “dona”. Será que o politicamente correto chegou às oficinas mecânicas? É para igualar os dois tratamentos? Ou estarei envelhecendo? Não gostei de nenhuma alternativa…grrrrrr.
NG