Já falei aqui neste espaço sobre a colocação de placas de sinalização. Ora sobre a falta delas aqui no Brasil, ora sobre a falta de clareza em alguns casos lá fora. Pois é, volto ao assunto por um terceiro motivo. Como quando bem utilizadas elas facilitam a fluidez do trânsito.
Quem me conhece sabe do meu gosto pelo minimalismo. Adoro quadros, mas em pouca quantidade. Amo ver parede lisa. Gosto de enfeites na mesinha de centro, mas apenas alguns que não me impeçam de colocar uma bandeja com xícaras de café nem me obriguem a ter de tirar muitos objetos. Acredito firmemente que assim cada item é mais valorizado e pode ser melhor apreciado.
O mesmo para a poluição visual. Prefiro poucas placas de sinalização corretamente colocadas do que uma profusão de coisas inúteis que confundem e atrapalham. Sejam elas de propaganda ou de indicação de direção. Claro, tem aquele visual lotadíssimo de placas da Times Square que é um ícone e tem seu charme, mas é exatamente isso, apenas uma esquina um pouco expandida. Imagine ver isso durante vários quilômetros? Se uma estrada não tem saídas laterais, para que colocar novas indicações sobre a mesma cidade destino? Acho que de tanto viajar pelo mundo tomei ainda mais gosto pela indicação enxuta, elegante e, ao mesmo tempo, eficiente. Toda vez que volto ao Brasil volta a me chamar a atenção a enorme quantidade de placas e postes que há por todo lado — certamente uma boa parte poderia ser sumariamente eliminada pela sua repetição e outro tanto se melhor colocada teria mais eficiência.
Há um par de meses me chamou a atenção uma série de placas colocadas na Av. Rebouças, em São Paulo. Ela tem três pistas em cada sentido mas desde o longínquo 2004 uma é exclusiva para ônibus. Como tantas outras na cidade, tem dias e horários próprios — algo que só aumenta a confusão que se cria no trânsito, pois depois se abrem exceções ao uso. Permitiu-se a circulação de táxis há um par de anos, em determinados horários, assim como de carros. Mas, claro, quem é que consegue decorar tantas normas diferentes em ruas e avenidas?
Em 2013, um levantamento da Folha de S.Paulo dizia que havia pelo menos 20 regras para faixas e corredores de ônibus entre dias e horários de funcionamento. Naquele ano eram 130 quilômetros de corredores de ônibus (do lado esquerdo da pista de rolamento) em São Paulo. Em 2017 eram 238 quilômetros de corredores. Também ao longo dos anos foram abertas exceções. Em 2016, pouco antes das eleições municipais, o candidato à reeleição na Prefeitura permitiu a circulação de táxis nos corredores e faixas de ônibus. Em Goiânia, recentemente um vereador propôs a liberação dos corredores para ônibus escolares. Daqui a pouco não serão mais necessárias pistas exclusivas para transporte coletivo de tão congestionadas que estarão. A cidade tem registrados 38.000 táxis e 13.600 ônibus. Isso sem considerar carros de polícia, ambulâncias, etc que circulam pelos corredores e faixas de ônibus.
Certamente, o problema das placas acontece em outras cidades. Foi aí que alguém na Secretaria de Transportes de São Paulo pensou um pouco e colocou, junto com as placas com os diversos dias e horários: domingo livre. Vejam, caros leitores, foi apenas acrescentar a frase “domingo livre” bem legível, com fundo azul. Parece simples, mas apenas isso já permitiu que alguns motoristas circulassem por essa faixa nesse dia da semana.
Observem que digo “alguns” pois acho que outro tanto ainda não percebeu as placas e outros, talvez desconfiados com tantas “pegadinhas” no trânsito ficam com um pé atrás. Não é nada não é nada, isso significa aumentar de duas para três a disponibilidade de faixas de rolamento da Av. Rebouças um dia inteiro por semana. Para o trânsito permanentemente congestionado de São Paulo, é significativo. Eu mesma circulo com frequência por lá e sou testemunha de que há maior fluidez – especialmente para os poucos que a usamos.
Mas, muita atenção motoristas paulistanos e do resto do Brasil: domingo livre não quer dizer que feriado também é. Para a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo feriado é um dia da semana como outro qualquer. Essa é uma entre tantas pegadinhas que investem contra o bolso do cidadão.
Certamente ainda há muito trabalho a ser feito, pois falta muita sinalização. Há muitas placas tortas, encobertas por galhos de árvores e diversos corredores de ônibus carecem dessa indicação. Mas já é um começo e num país como o nosso, onde nos acostumamos com tão pouco, um pequeno alento já parece bastante.
Em Belo Horizonte há um sistema de transporte coletivo chamado Move (Transporte Rápido por Ônibus), formado por uma rede de corredores exclusivos e estações de integração e de transferência. Vejam na foto 3. Precisa de duas placas no mesmo lugar indicando a mesma coisa?
Independentemente do meu gosto pessoal pelo minimalismo, o excesso de placas tira a atenção do motorista daquilo que ele realmente deveria focar: o trânsito. Deveríamos ter de olhar rapidamente para as placas e entender o que significam. É surreal ter de ler ao entrar numa marginal como a Pinheiros placas indicando rodízio (com dias e número de final de placa), faixa de ônibus (com dias e horários nos quais não se pode transitar pela pista da direita), velocidades máximas que mudam a toda hora – sem falar, é claro, nas alturas máximas das pontes, que mudam a cada uma (OK, problema só para motorista de caminhão, mas por que como autoentusiasta não posso me preocupar com eles?). Caminhões também têm uma restrição própria de circulação dependendo do horário, qualquer que seja a placa, e motos não podem circular nas pistas expressas. E, obviamente, indicação de saída para uma determinada avenida que muitas vezes só é possível quilômetros antes. É, dirigir em São Paulo é para poucos…
Mudando de assunto: cada vez que entro no Youtube para fazer alguma pesquisa e vejo vídeos de motoristas, ciclistas ou motociclistas fazendo besteiras, atravessando sinais fechados, plantando bananeira sobre duas rodas ou coisas parecidas apenas para se mostrar, penso que a estupidez humana não tem limite. É como bandido que se filma roubando e posta no Feicibúqui.
NG