Nem sempre as fábricas acertam em suas novidades tecnológicas, são obrigadas a admitir o erro e voltar atrás.
Todo setor tem seus “gênios” e o dos automóveis não é diferente. Vez ou outra surgem novidades que até encantam quando aparecem mas acabam se revelando inadequadas. Podem ser eletrônicas ou mecânicas, de conforto ou acabamento, estilo ou segurança. Aparecem com pompa… e somem discretamente
No tranco – O câmbio automatizado (foto de abertura) durou pouco. Recebeu aqui vários nomes comerciais: Dualogic, I-Motion, Easytronic, Easy’R. É mecanicamente igual ao manual mas funciona como automático, pois um computador controla comandos que substituem pedal de embreagem e alavanca de mudanças. É mais barato e leve que o automático e ainda reduz (ao invés de aumentar) o consumo. Mas foi condenado pelos soluços ao passar marchas e está sendo substituído (na Fiat e Volkswagen, por exemplo) pelo automático convencional.
Mas, nem todo automatizado dá tranco. VW e Ford, por exemplo, desenvolveram o de dupla embreagem, que passa marchas tão suavemente como um automático, mas de custo muito elevado. O alemão não tem problemas, mas o da Ford (chamado PowerShift) é campeão de trapalhadas. A marca já voltou ao convencional em todo o mundo. No Brasil, já o eliminou no EcoSport, e ainda o mantém no Fiesta e Focus.
Dentada – Para acionar árvore de comando de válvulas, entrou a correia dentada no lugar da corrente metálica em alguns motores, por ter custo menor. Mas a explicação “oficial” foi outra: mais silenciosa… Feita de borracha, seu problema é exigir substituição frequente , ao contrário da metálica (semelhante à de bicicleta) que tem duração eterna. Se o prazo de troca não for observado ou se o carro rodar em regiões de ar contaminado por minério ou muita poeira, ela arrebenta e provoca — em geral — um enorme estrago no motor. A frequência de troca varia de 50 a 100 mil km, exceto nos motores Ford onde são banhadas em óleo e duram 250 mil km. Volkswagen e Fiat já voltaram para a metálica.
Digital – Algumas fábricas lançaram, na década de 90, mostradores digitais no painel. Ao invés de analógicos, com ponteiros, o do tanque marcava o nível com barrinhas que iam se apagando. Também sem ponteiro, a velocidade era indicada digitalmente em painel de cristal liquido. Foram logo abandonados e a novidade hoje é digitalizar todo o painel e permitir ao motorista decidir quais mostradores quer ter (virtualmente) à frente.
Pepino – Foi a Ford que lançou o utilitário esportivo compacto no Brasil em 2003: o EcoSport com o estepe na tampa traseira. O mercado logo se cansou da solução mas o SUV da Ford continua com ele até hoje dependurado lá atrás. E a fábrica com um pepino na mão, pois sonha levá-lo para dentro do carro, mas o projeto original da plataforma não permite.
Quebra & Mata – Surgiu na dianteira dos utilitários esportivos para fazer par com o estepe na traseira. Dava um ar de braveza, de “brigão”, de enfrentar os piores obstáculos. Mas era na verdade um “quebra & mata”, o “tiro de misericórdia” no caso de um atropelamento. Se a vítima fosse uma criança, era fatal, pois atingia sua cabeça. As fábricas tiveram o bom-senso de eliminar a trapizonga.
Prejuizão – A engenharia da BMW na Alemanha teve, na década de 90, a “genial” ideia de modificar a superfície dos cilindros de seus motores V-8 com uma liga de Nikasil, composta de níquel e silício. Mantinha as mesmas características do aço, retendo melhor o óleo de lubrificação. Mas se esqueceu de testar estes motores com vários tipos de gasolina e os carros que vieram para o Brasil e sul dos EUA começaram a pifar aos montes. Só então os técnicos alemães perceberam que o enxofre em excesso (presente, na época, nas gasolinas do Brasil e da Venezuela) atacava o níquel. E a BMW trocou milhares de motores V-8 por outros com alumínio ao invés do níquel (Alusil).
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.
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