Eu jamais trocaria um V-8 roncando grosso por um insosso elétrico de ensurdecedor silêncio…
Sou jornalista especializado em automóveis há cinquenta anos. Escrevi para inúmeros jornais e revistas. Criei, produzo e apresento um programa de rádio (Auto Papo) que está hoje em 40 emissoras e outro de televisão (Vrum) que foi exibido nacionalmente pelo SBT durante muitos anos. Quando não estava na “máquina de escrever”, brincava de pilotar automóveis nas pistas. Ou como “cartola”: fui vice-presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo. Mudei de brinquedinho e, do automobilismo, passei para o antigomobilismo.
Mas as mídias se renovaram, a eletrônica ultrapassou a impressa e domina o mercado. Continuo em vários jornais e revistas, mas lancei – há quase um ano – um portal (autopapo.com.br) também dedicado às coisas motorizadas sobre rodas.
O maior golpe que sofri ao entrar no mundo web foi descobrir que tinha de repensar e reformular tudo que aprendi no jornalismo, pois no texto para um site o jogo é outro e não segue as regras do jornal ou revista. Quem dá as cartas no pedaço é o Dr. Google, com seus parâmetros de avaliar matérias. Quem não conhece (e segue) a SEO (iniciais em inglês de “otimização do motor de busca”) pode tirar o cavalinho da chuva. A matéria pode ser ótima, mas não será sucesso na tela nem contabilizará bom volume de acessos.
Tive que me adequar — aos trancos e barrancos — às regras da web. Muito embora pertença ao razoável batalhão de leitores que ainda adora segurar papel para ler jornais e revistas. Que não se importa em lavar as mãos negras de tinta depois de folhear um jornal.
O automóvel não é diferente. Depois de dezenas de anos de puro prazer (às vezes privilégio) de estar ao volante de centenas de carros e curtindo estilo, motor, câmbio, direção, suspensão e freios, é inútil negar que o carro do futuro vai eliminar estes prazeres e sensações.
Eu jamais abandonaria um V-8 roncando grosso por um insosso elétrico que nem barulho faz. Mas não tem futuro por ser extremamente ineficiente. Por isso dizem que o motor a combustão é a melhor máquina de calefação do mundo: 70% do litro de gasolina no tanque não vão para as rodas, mas para gerar calor.
Na semana passada, comentei nesta coluna estarmos vivenciando uma revolução em que o motorista será substituído pelo computador. Fui aplaudido (ainda bem…) mas levei também uma saraivada de tiros (melhor ainda…) dos entusiastas do automóvel. Que não admitem o elétrico e muito menos o autônomo. Eu me alinho com eles, como entusiasta que sempre fui, da alergia aos autônomos. O silencio ensurdecedor dos elétricos é incapaz de sensibilizar alguém. Mas tive que tirar o chapéu para um AMG GT elétrico que dirigi numa pista europeia: 750 cv (um motor de quase 200 cv em cada roda) e chega a 100 km/h em menos de três segundos.
Há quem conteste o elétrico argumentando que a recarga da bateria gera poluição. E de ela própria ser um entulho ambiental. Mas existe solução mais limpa: é o carro elétrico que anda sem bateria, com eletricidade gerada nele mesmo pela célula a combustível (fuel cell) que funciona com hidrogênio (H2)). E, para o Brasil, um trunfo adicional: dá para alimentar a fuel cell com o álcool encontrado nos postos.
Como apaixonado pelo automóvel, eu abomino o carro autônomo. Como jornalista, sou obrigado a reconhecer que sua presença é indiscutível, a longo prazo.
Apaixonado que sou pela música clássica, prefiro (e mantenho) o “long-play” de 33 rpm, mas tive que me render também ao CD, DVD, blu-ray, pen drive, iPod e outras modernidades. Mas já estão reeditando o LP! E, acredite se quiser, acabam de relançar a versão impressa do glorioso JB!
Como jornalista, tive que me render aos meios modernos e interativos de comunicação. Mas saudoso — e como! — da época em que fui garoto de programa — na tevê…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.
Mais do Boris? www.autopapo.com.br!