Na semana final do Teste de 30 Dias a planejada viagem com carro lotadão aconteceu. Quatro a bordo, bagagem plena e… lá foi o Kicks percorrer o mesmíssimo percurso de sempre, já realizado com ele na segunda semana de avaliação: São Paulo-Ubatuba-São Paulo.
As diferenças entre a primeira viagem e esta não se restringiram ao fato do Kicks estar carregado quase ao máximo, mas também quanto à incerteza da realização desta viagem até praticamente hora da partida. Motivo: a indisponibilidade de combustível causada pela greve dos caminhoneiros; e apenas na beiradinha do feriado de Corpus Christi consegui encher o tanque – com gasolina – para realizar o trecho de 440 km.
Na primeira viagem o Kicks foi e voltou com sobras apesar do pequeno tanque de 41 litros. Segundo o computador de bordo, naquela ocasião ainda restavam 90 km de autonomia quando da chegada a São Paulo. Nesta segunda viagem, apesar de mais estar bem mais carregado, o pé leve no acelerador resultou no recorde de consumo: nada menos que 16,5 km/l serra abaixo, cifra excelente para um motor de 1,6 litro que não é exatamente de última geração, mas que foi assistido por um bem escalonado câmbio manual de cinco marchas (e por meu atento pé…).
Na volta mais animada, a informação do consumo global da viagem indicava 14,5 km/l e autonomia restante superior a 100 km. Palmas para o Kicks, que, sim, poderia ter um tanque maior mas que não passa aperto com o que existe.
Lamentável, não haver informação de consumo oficial Inmetro para esta versão de câmbio manual. A da versão com câmbio CVT é 11,4/8,1 km/l na cidade e 13,7/9,6 km/l nas estrada, sempre no ordem adotada pelo AE, gasolina/álcool.
Muda muito o Kick pesadão? Quase nada, especialmente no trecho da ida, em predominante declive. Já na volta a pressa associada à escalada do nível do mar ao planalto — 800 metros — fez ver que os 114 cv de potência máxima aliados aos 15,5 m.kgf são apenas justos. Afundar o pé no acelerador não resulta em progressão franca, consistente, mas apenas em uma morna retomada de velocidade que, apesar da já exaltada elasticidade do motor, exige (e como!) o uso adequado do câmbio para que a aceleração seja digna.
Dizer que falta fôlego ao Kicks não seria justo: sendo um carro leve — declarados 1.109 kg —, o motor de 1,6 litro dá conta do recado em 95% das situações e ele só não atenderá as expectativas dos que gostam de andar mais rápido (ou estão habituados a veículos potentes) mas… nem só o motor levará a culpa.
De fato, nesta viagem “pesada” as suspensões mostraram que aquele acerto julgado exato em uso urbano ou com meia-carga se revelou deficiente por conta de amortecedores com carga (tanto em compressão como em distensão) que deixa a desejar. Onde se percebe isso? Nas lombadas, mesmo transpostas em velocidade baixa, a carroceria se movimenta demais. Em frenagens mais fortes a frente mergulha de modo decidido e na subida da serra, em curvas mais fechadas, o Kicks troca a neutralidade por uma evidente atitude subesterçante por conta da traseira afundada, “sentada”, que deixa a frente levitando.
Importante frisar que tais características não constituem deficiência mas apenas o resultado de opções técnicas precisas. A receita básica das suspensões implicou em escolhas definidas: ter um Kicks macio e com rodagem suave ou outro rígido, mais áspero? Tendo em vista o público alvo (e o fôlego justo do motor), a opção de ajuste adotada possivelmente foi a correta, mas certamente não a que me agradaria mais.
O único desagrado real deste Kicks na viagem foi, para mim, a ausência do controlador de velocidade de cruzeiro, que não existe em nenhuma versão. Por outro lado, considero fortemente recomendável pagar (R$ 1.200) pelo pacote opcional que traz o assistente de partida em subida e o controle de estabilidade e de tração. Com boa ergonomia, o Kicks é campeão de conforto e uma peculiaridade é a amplitude de excursão oferecida pelos bancos dianteiros, que recuam de maneira incomum, o que faz deste Nissan uma opção ótima para motoristas muito altos. Não é meu caso: no ajuste para meu 1,8 metro, quem foi atrás de mim encontrou bom espaço para pernas.
Nesta fase final do teste, conversando com amigos sobre o Kicks, a pergunta “você compraria?” me deixou sem saber direito o que responder. De um lado, o positivo, percebo que ele me agradaria por ser fácil e agradável de conduzir, razoavelmente econômico, espaçoso e simples. Porém, a simplicidade que me atrai também me incomoda: ele mereceria maior esmero no isolamento, filtrar melhor o trabalho das suspensões e pneus que mesmo com piso bom estão sempre muito presentes nos ouvidos de quem está a bordo.
Refletindo melhor sobre o comprar ou não, talvez fosse este mesmo Kicks do teste, versão de entrada com câmbio manual, a boa (e a minha!) compra: pagar 75 mil reais por um carro simples é melhor que um pagar 100 mil por este mesmíssimo carro simples – o Kicks SL topo de linha — que vem forrado de 25 mil reais de equipamentos que em pouco ou nada alteram a alma deste automóvel cujo projeto — e não há pecado nisso — primou pela essencialidade técnica e mecânica. Enfim, o Kicks é um feijão-com-arroz bem feito mas que está sendo vendido (nas versões topo) como iguaria gourmet.
Encerro o teste afirmando que o sucesso do Kicks é plenamente compreensível por ele oferecer aquilo que hoje é mais valorizado que soluções de engenharia mais complexas: a aparência SUV com desenho de carroceria feliz, que entrega uma imagem de certo requinte. Mas além disso há também boa eficiência, que faz com que o mais recente lançamento da Nissan no Brasil se mova com desenvoltura na estrada e especialmente em cidade.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana 3ª semana
Nissan Kicks 1,6 S MT
Dias: 30
Quilometragem total: 1.710 km
Distância na cidade: 870 km (51%)
Distância na estrada: 840 km (49%)
Consumo médio: 10,4 km/l (85% gasolina/15% álcool)
Melhor média (gasolina): 16,5 km/l (rodovia)/10,5km/l (cidade)
Melhor média (álcool): 7,3 km/l (cidade)
Pior média (gasolina): 7,4 km/l (cidade)
Pior média (álcool): 6,3 km/l (cidade)
Velocidade média: 28 km/h
Tempo ao volante: 61h39min
Litros consumidos: 164,4
Preço médio litro: R$ 3,98
Custo: R$ 654,45
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,38
FICHA TÉCNICA NISSAN KICKS 1,6 S MT 2018 | |
MOTOR | |
Designação | HR16DE 1,6 |
Tipo | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, bloco e cabeçote de alumínio, 16 válvulas, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão e escapamento, atuação de válvulas direta por tuchos-copo, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.598 |
Diâmetro x curso (mm) | 78 x 83,6 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 114/5.600 |
Torque (m·kgf, G/A) | 15,5/4.000) |
Corte de rotação (rpm) | 6.500 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7:1 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas à frente e uma à ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,727; 2ª 1,957; 3ª 1,233; 4ª 0,903; 5ª 0,738 |
Relação do diferencial (:1) | 4,929 |
Rodas motrizes | Dianteiras |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,1 |
Relação da direção (:1) | 16,8 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,2 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico servoassistido a vácuo, duplo circuito em diagonal |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
Controle | ABS de 4 canais e 4 sensores com EBD e auxílio à frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 16” |
Pneus | 205/60R16H |
Marca e modelo | Continental ContiPowerContact |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.295 |
Largura | 1.760 |
Altura | 1.590 |
Distância entre eixos | 2.610 |
Bitola dianteira/traseira | 1.520/1.535 |
Distância mínima do solo | 200 |
Profundidade de vau | 450 |
Ângulo de entrada (º) | 20 |
Ângulo de saída (º) | 28 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,345 |
Área frontal calculada (m²) | 2,25 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,776 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.109 |
Carga útil (kg) | 427 |
Distribuição do peso D/T (%) | 62/38 |
Peso rebocável sem freio (kg) | 350 kg |
Porta-malas (L, VDA) | 432 |
Tanque de combustível (L) | 41 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11 (estimada) |
Velocidade máxima (km/h) | 180 (estimada) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE (com câmbio CVT; manual n.d.) | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,4/8,1 |
Estrada (km/l, G/A) | 13,7/9,6 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 32,8 |
Rotação a 120 km/h (5ª) | 3.650 |
Alcance nas marchas a 6.500 rpm (km/h) | 1ª 42; 2ª 80; 3ª 128; 4ª 174 |
INFORMAÇÕES ADICIONAIS | |
Intervalos de revisão/óleo | 10 mil km ou 1 ano |
Garantia | 3 anos |