Entendo que o M2 é a essência dos BMW. Representa para a fabricante bávara o que o 911 é para a Porsche. Esses modelos são as primeiras imagens que nos vêm ao pensarmos nessas marcas, pois foram eles, por sua excelência, que as destacaram. Antes, para a BMW, esse papel de atrativo maior cabia ao M3, porém, tal qual a maioria dos carros, o Série 3 cresceu, e cresceu e engordou a ponto de descaracterizá-lo. Hoje o Série 2 tem as dimensões que o Série 3 tinha nos anos 1980 e início de 1990, época em que a marca fincou de vez os pés no patamar das unanimemente respeitadas e desejadas.
O M2 é um cupê relativamente compacto, relativamente discreto, leva muito bem quatro adultos, é prático o bastante para ser usado no dia a dia — desde que a cidade seja de um país civilizado — e que por outro lado não afina para esportivo espetaculoso nenhum. Faz o 0 a 100 km/h em 4,3 segundos e atingiria máxima de 270 km/h, caso ela não fosse limitada eletronicamente a 250 km/h. O segredo desse carro está no conjunto cientificamente pensado, dimensionado e solidamente construído.
O motor é um 6-cilindros em linha de 3 litros, turbo, duplo comando com variador na admissão e escapamento, injeção direta, com potência máxima de 370 cv a 6.500 rpm e torque máximo de 47,4 m·kgf já a partir de 1.400 rpm. Sua pegada é imediata, explosiva. Quando provocado com coragem ele urra o melhor dos urros que os “seis-em-linha” sabem urrar e das suas quatro bocas de escapamento sai um sopro de jato, um “swóóchh!”, de balançar galhos no acostamento.
O câmbio dos M2 aqui vendidos é só o robotizado de 7 marchas e dupla embreagem. Lá fora há também o menos eficiente, porém ainda mais prazeroso, manual de 6 marchas, e com ele o M2 faz o 0 a 100 km/h em 4,6 segundos quando o piloto acerta a mão; o que não é o caso deste robotizado, que invariavelmente sempre acerta a mão. Tem controle de tração, de estabilidade, e todas as outras parafernálias eletrônicas conhecidas de ajuda ao motorista, porém gostei dele ainda mais quando livre dessas interferências, coisa que se consegue ativando o modo Sport+ numa tecla do console. Ele, cru, não tem nada de ruim a esconder, nada a camuflar por meio da eletrônica.
Os pneus Continental ContiSportContact 3, de medidas 245/35R19Y na dianteira e 265/35R19Y na traseira, se encarregam de pôr no chão a tremenda potência dos freios de imensos discos carbocerâmicos ventilados e perfurados, grandes o bastante para quase rasparem nas rodas. O chassi é tão rígido que parece uma mesa de mármore, o que permite que sua primorosa suspensão trabalhe com exatidão. A distribuição de peso é 51,4/48,6% sobre os eixos. Isso, e mais algumas outras “coisinhas”, dá ao M2 estrutura dimensionada para domar com tranquilidade a ira desse motor, desde que o motorista saiba o que está fazendo e não se empolgue além da conta. Uma fera domável, portanto — só que rápida, de reflexos bem rápidos —, que só será estúpida se antes o motorista o for. Beirar seus limites, como bom esportivo que é, exige conhecimento, calma, concentração e precisão, além de, é claro, ambiente adequado para isso.
A suspensão não é exageradamente dura; não é desagradável, mas macia também não é. É firme, bem justa, e, não fosse os pneus serem tão largos e terem perfil tão baixo, ela seria até que confortável. Está no limite da maciez que não comprometa o desempenho esportivo. O perfil baixo dos pneus — moda que costumamos reclamar aqui no AE por muitas vezes ser contraproducente — neste caso é necessário. O caro leitor veja a foto que segue.
Com tamanhos discos de freio — 380 mm de diâmetro os dianteiros, 370 mm os traseiros — só resta ter rodas grandes, de aro 19, e com rodas desse tamanho só resta ter pneus com esse perfil. O perfil baixo não lhe dá maior aderência — vide o perfil dos pneus dos Fórmula 1, que usam aro 13 e têm flancos altos —, e só assim o são para que o diâmetro dos pneus não fique exagerado. Então a aspereza no rodar é o preço que (de bom grado) se paga para se poder contar com freios que seguram até uma carreta desgovernada morro abaixo.
É impressionante o que esse motor acelera, mas é duplamente impressionante o que esses discos freiam! E o fazem com pouquíssimo mergulho da dianteira. O pedal de freio inicialmente parece um pouco duro, mas é assim que tem que ser, pois é assim que se tem condições de dosar a frenagem com suavidade e exatidão.
Seu comportamento em curvas é o ideal para a maioria dos pilotos. Digo a maioria dos pilotos porque o estilo de pilotagem de cada um varia, e, por conseguinte, cada um tem lá suas sutis preferências e ajustes, porém o ponto de partida universal para o acerto individual é este do M2, com tendência subesterçante (saída de frente) no início da curva, para subsequente equilíbrio e posterior tendência sobre-esterçante conforme se aumenta a aceleração. Portanto, não é uma besta-fera que tende ao descontrole; é só uma fera, cuja besta descontrolada pode ou não estar atrás do volante.
O comportamento das programações desse câmbio robotizado de 7 marchas é o que há de melhor para os robotizados de esportivos. São três modos. O Comfort, o Sport e o Sport+. Não tem nada de ECO, econômico, ecológico ou outro modo disfarçadamente politicamente correto para satisfazer os que têm peso na consciência por existirem. O Comfort faz trocas mais suaves e em giro mais baixo, mas basta uma acelerada mais decidida que logo vem marcha mais baixa e o tropel de cavalos chega com entusiasmo. E aí ele dispara. No modo Sport, mesma coisa, só que o ronco aumenta de volume e tudo acontece mais rápido, inclusive o tempo para a troca de marcha, mas nele os controles de auxílio ao motorista continuam em alerta máximo e prontos a interferir ao menor sinal de descontrole. No Sport+ tudo ainda mais rápido e os controles são desligados, então daí em diante a coisa é com você, ele e as leis da física, ou seja, no bom e velho estilo.
Para o modo Manual sequencial basta acionar uma das borboletas ou dar um toque adiante ou atrás na alavanca de câmbio. Para voltar às mudanças automáticas basta dar um toque para a direita na alavanca. No modo Manual ele obedece cegamente aos nossos comandos. Só não obedecerá o comando de redução de marcha quando isso for ocasionar giro em excesso, bom por evitar danos ao motor e para ensinar que a maneira mais rápida de desacelerar qualquer carro é pelo freio. No Manual, mesmo estando em giro bem baixo, se acelerarmos tudo ele não reduz e trata de ganhar velocidade só na base da elevada potência já em baixa rotação.
A 120 km/h e em 7ª marcha o motor está a quase 2.300 rpm. Giro baixo, som baixo do motor, nada de vibrações, silêncio aerodinâmico, viagem de fazer bebê nanar tranquilinho e seguro dentro das entranhas dessa fera.
Tração traseira, claro, e, felizmente, só traseira. Afinal, é um legítimo BMW M. Na verdade, o melhor dos M, a meu ver. Não tem nada a mais nem a menos; tamanho, peso, potência, estabilidade, tração, aderência, conforto. Só seu preço é que incomoda. Nossos impostos fazem com que aqui custe o dobro do que, por exemplo, nos Estados Unidos. Aqui custa R$ 394.950.
Para ter o melhor BMW dos BMW, até que não é muito.
Assista ao vídeo:
AK
FICHA TÉCNICA BMW M2 | |
MOTOR | |
Designação | BMW N55 |
Descrição | 6 cil. em linha, longitudinal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas acionado por corrente, variador de fase na admissão e no escapamento (Bi-Vanos), controle de levantamento de válvulas Valvetronic, 4 válvulas por cilindro, turbocompressor de duas volutas com interresfriador |
Diâmetro x curso (mm) | 84 x 89,6 |
Cilindrada total (cm³) | 2.979 |
Taxa de compressão (:1) | 10,2 |
Potência (cv/rpm) | 370/6.500 |
Torque (m·kgf/rpm) | 47,4/1.400 a 5.560 |
Formação de mistura | Injeção direta |
Combustível | Gasolina, mínimo 91 RON, ideal 95 RON (Comum) |
Corte de rotação | n.d |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Câmbio robotizado de 7 marchas, duas embreagens); tração traseira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,806; 2ª 2,593; 3ª 1,701; 4ª 1,277; 5ª 1,00; 6ª 0,844; 7ª 0,671; ré 4,172 |
Relação de diferencial (:1) | 3,462 |
Comando do câmbio | Alavanca (sobe marcha p/ trás) e borboletas no volante |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão (V) | 12 |
Bateria (A·h/localização) | 80/porta-malas |
Alternador (A) | 210 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente McPherson com braço inferior em “L” em alumínio, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora oca |
Traseira | Independente, multibraço em alumínio,mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora oca |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade (Servotronic) com três níveis de assistência |
Relação de direção (:1) | variável, relação n.d. |
Número de voltas entre batentes | 2,75 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,7 |
FREIOS | |
Atuação | Hidráulica com servo-freio, duplo-ciruito dianteiro/traseiro |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/380 carbocerâmico com pinça de quatro pistões |
Traseiros (Ø mm) | Disco ventilado/370 carbocerâmico com pinça de dois pistões |
Controle | ABS (obrigatório), EBD, assistente à frenagem, freio de estacionamento elétrico, assistente de partida em rampa |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 9Jx19 (dianteiras) e 10Jx19 (traseiras) |
Pneus | 245/35R19Y (dianteiros) e 265/35R19Y (traseiros) |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, cupê, 2 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro em alumínio |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,35 |
Área frontal calculada (m²) | 2,09 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,731 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.475 |
Largura sem/com espelhos | 1.854/1983 |
Altura | 1.410 |
Distância entre eixos | 2.692 |
Bitola dianteira/traseira | 1.580 / 1.600 |
Distância mínima do solo | 121 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.566 |
Carga máxima | 444 |
Distribuição de peso dianteira/traseira (%) | 51,4/48,6 |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 52 |
Porta-malas | 390 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 4,3 |
Velocidade máxima (km/h) | 250 (limitada); 270 km/h com pacote M Driver |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL CICLO EUROPEU NEDC | |
Cidade (km/L) | 9,5 |
Estrada (km/L) | 15,6 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 7ª (km/h) | 52,6 |
Rotação a 120 km/h em 7ª (rpm) | 2.280 |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 7.080 |