Outro dia estava eu aqui pensando com meus botões sobre o automóvel e como ele é complexo como produto, um dos mais complexos que o homem já criou.
Graças a ele o homem evoluiu muito, desenvolvendo novos materiais, processos, máquinas fantásticas, sistemas diversos, não só físicos como uma linha de montagem robotizada, mas também, graças à tecnologia digital, temos programas incríveis que nos ajudam a desenvolver superfícies matemáticas complexas, assim como programas de predições que possibilitam um resultado tão perfeito como os testes físicos reais.
Mas, como tudo isso começou? Qual foi a ferramenta que possibilitou o desenvolvimento desta inteligência, e que ainda hoje está presente em qualquer produto, seja ele um clipe de papel, um transatlântico, um castelo, um avião ou um carro?
Pois afirmo que essa ferramenta se chama DESENHO.
Sem o desenho nenhum produto físico poderia se criado, incluindo este belo telefone celular que está à sua frente ou no seu bolso.
No automóvel não é diferente. Desde os primeiros sketches, feitos à mão com esferográficas sobre papel, até os desenho finais de engenharia, sejam desenhos físicos ou em 3D nos computadores, sem os desenhos nada pode ser feito.
E agora vou lançar o tema principal desta conversa.
– Do que são feitos os desenhos?
Resposta: de LINHAS!
– E quais são os principais tipos de linhas que compõem o desenho de automóveis?
Resposta: as CURVAS!
Sim, isso mesmo, toda parte visível, portanto de responsabilidade do Design, é construída 90% partir de curvas.
Outros tipos de linhas que também usamos são: retas (poucas no design de automóveis) e segmentos de círculo, ou raios.
Vamos ser bem claros: na parte técnica/mecânica as linhas mais usadas são retas, círculos e raios.
Motores (fora o engine design, que cuida da parte visível, quando se abre o capô), câmbios, suspensão, e tudo mais que está escondido debaixo da “pele” do carro é desenhado usando-se basicamente estes dois elementos. É o que popularmente chamamos de desenho ortogonal.
Nas linhas de montagem também são usadas, na sua maioria esmagadora, o desenho ortogonal.
Dispositivos de montagens, robôs, dispositivos de transporte e controles de qualidade usam retas e círculos/raios para serem projetados e produzidos.
Tudo que está atrás do “palco”, que é o design, usa somente estes dois elementos. Já a parte do design usa as CURVAS, que são compostas de vários segmentos de raios para serem formadas.
As curvas variam seus vários raios, de infinitas maneiras. Mais abertos, muito longos, com tensões controladas pelo que chamamos em 3D de “pontos de controle” da curva. Aí você pensa, “mas um carro não tem somente curvas, ele tem superfícies.”
Pois é, aí é que está! As superfícies são geradas também por curvas, normalmente 4 curvas e o grande desafio para atingir a “beleza” está em saber manipular este elementos.
Muitas vezes, leigos podem pensar que alguma linha lateral de um carro seja reta (e até pode ser em um certo ponto de vista), mas quando se olha por cima (vista de planta) a curva está lá.
O corpo de uma mulher (de um homem também) é feito de curvas. Não existe nenhuma reta no corpo humano, e é rara na natureza (cristais, por exemplo).
Uma prancha de surfe é feita de curvas (biônico). Um celular normalmente ainda é feito de retas e raios (mecânico).
Plantas, ondas do mar, seres marinhos e terrestres são feitos de curvas (biônico). É por isso que chamamos a superfície final de Design de superfície classe A, e para partes mecânicas, classe B.
No design de arquitetura, mobiliário, utensílios domésticos, ainda são utilizados praticamente desenhos mecânicos, e aí eu vejo um enorme potencial para o futuro do design de uma maneira global.
Observar e aplicar soluções baseadas na superfície e outras características extraordinárias, como texturas que dissipam calor, cores mutantes, flexibilidade e resistência impressionantes que encontramos na natureza. Esta deve ser a tendência da tecnologia nas próximas décadas.
Com novos processos, principalmente calcados em tecnologia digital, como as impressoras 3D, será possível ultrapassarmos barreiras até agora intransponíveis e impensáveis.
Com as novas impressoras digitais, que já imprimem em metal, poderemos conceber peças que até agora seriam impossíveis de serem fabricadas, graças à lei da “saída de ferramenta”, que em caso de contra-saída não permite que a peça seja extraída da ferramenta, seja ela de prensagem ou injeção convencional.
Com a impressão em 3D não precisamos mais de ferramentas ou moldes, mas sempre precisaremos do Desenho.
Portanto para finalizar o tema de hoje, nosso querido automóvel sempre foi e sempre será o produto mais complexo e sofisticado que um ser humano (pessoa física, indivíduo) pode adquirir.
E é por essas e outras que nós amamos estas “máquinas”.
LV