O primeiro teste ‘no uso’ do Ford Ka 2019 foi do 1,5 SE automático. A ideia era testar em seguida o 1,5 manual, mas a Ford ainda não o tinha disponível. Por isso decidimos ver como é o 1,0 manual — não pelo motor, já bem conhecido, mas pelo novo câmbio de cinco marchas MX65 que, como o anterior IB5, é fabricado na unidade industrial Ford em Taubaté, cidade do vale do Rio Paraíba, interior de São Paulo. O Ka e o motor 1-litro de três cilindros são produzidos na fábrica de Camaçari, na Grande Salvador, Bahia.
A versão testada, 1,0 SE, tem preço público sugerido de R$ 45.990. A versão de entrada S custa R$ 500 menos e só não tem o rádio My Connection com Bluetooth, o compartimento para telefone celular no painel e as maçanetas externas e carcaças dos retrovisores na cor do veículo que o SE traz. No vídeo em enganei e falei 1,0 S, mas foi feito aviso de correção ao final.
Os destaques da versão estão no espaço interno e na desenvoltura combinada com baixo consumo de combustível. Como pesa apenas 1.037 kg, com os 80 cv/85 cv — maior potência entre os 1-litro de aspiração atmosférica no mercado brasileiro — a relação peso-potência é de 13/12,2 kg/cv, o que combinado com o torque de 10,2/10,7 m·kgf (vice-recordista da categoria, no Fiat Firefly é 10,4/10,9 m·kgf), proporciona aceleração 0-100 km/h em 13,4 segundos e velocidade máxima de 166 km/h (dados cortesia da revista Carro, obtidos com álcool na pista de testes da ZF, em Limeira, SP, 588 metros de altitude).
Esses números são compatíveis com o que se sente ao dirigi-lo, como boa agilidade no trânsito e bom desempenho na estrada. O câmbio é praticamente um 4+E , com a velocidade máxima em quinta, porém motor a 5.600 rpm, portanto 900 rpm abaixo da rotação de potência máxima. Em quarta, na rotação de corte, 6.700 rpm, a velocidade para de crescer a 159 km/h. Sendo a v/1000 da quinta marcha 29,7 km/h, a 120 km/h “GPS” o motor está a 4.040 rpm.
É muita rotação em estrada à primeira vista, mas o fato é que não incomoda, resultado da excelência isolamento termoacústico da carroceria e do projeto do motor.
Esse Ka consome pouco. Pelos números oficiais Inmetro/PBVE é 13,4/9,2 km/l na cidade e 15,5/10,7 na estrada. Com o tanque de 51,6 litros tem-se autonomia rodoviária de 800/550 quilômetros. Mas no teste de consumo prático que tenho feito, que é sair de casa em Moema e ir até à Maison Blanche na Estrada dos Romeiros, em trânsito normal de domingo de manhã e andando a 120 km/h no trecho da Rodovia Castello Branco, o consumo indicado pelo computador de bordo foi de 16,4 km/l, isso com gasolina.
Outro destaque, e motivo principal do teste, foi ver como é o novo câmbio manual de cinco marchas. Além do silêncio absoluto de funcionamento das engrenagens, como brunimento sob carga da segunda, terceira e par final, e novos sincronizadores para as três primeiras marchas, a ré é sincronizada, uma grande benesse por acabarem as arranhadas ao engatá-la rapidamente e não exigir veículo absolutamente imóvel para isso (lembro dessa característica no primeiro Omega e, recentemente, no Sandero R.S.).
A operação do câmbio é perfeita — não é “Wolfsburg” mas é tão boa quanto — ajudada pelo padrão Ford de alavanca mais alta e próxima do volante. Percebe-se claramente o bom escalonamento, com quedas de rotação cada vez menores à medida que as marchas vão subindo, como pode ser visto no gráfico dente de serra.
O alcance das marchas no corte é 1ª 41 km/h, 2ª 74 km/h, 3ª 115 km/h e 4ª 159 km/h.
Outro destaque é a qualidade de rodagem, confirmando o Carlos Meccia havia-me dito ao dirigir a mesma versão no lançamento em Gramado, RS, em 23 de julho: “A carroceria recebeu reforços adicionais nas colunas e no teto, com adoção da espessura das chapas em até 1,2 mm e a aplicação de aços especiais de alta resistência em áreas críticas. A rigidez torcional foi aumentada em 5,3% no hatch e 9,2%, no sedã. As suspensões contam com nova calibração das buchas, amortecedores e batentes, coxim hidráulico na dianteira. O vidro do para-brisa tem construção especial, reduz a transmissão do ruído ambiente externo para dentro da cabine.” Eu havia conhecido o Ka no lançamento em 2014, na Bahia, e notei evolução na rodagem como um todo.
O Ka SE ou S é um veículo simples, mas muito agradável de dirigir. Além do bom câmbio, a direção eletroassistida é primorosa na indexação à velocidade. A Ford é algo ineficiente na divulgação de dados técnicos, como não informar relação de direção e diâmetro mínimo de curva, mas estimo relação abaixo de 15:1 e em torno de 10,5 metros; voltas entre batentes, 2,8.
Os discos não são ventilados, mas não notei fading fácil. É claro que usando mais freio, como ao andar rápido, ele vem mais antes do que se os discos fossem ventilados. Mas a potência de freio é adequada e a modulação, perfeita.
Adequada também a medida dos pneus, 175/65R14T (para 190 km/h, Pirelli P1 no carro testado), sendo o estepe exatamente igual. Ou seja, o que chamo de estepe 100% operacional, que aprecio: no evento de furo de pneu em viagem é desnecessário mudar o ritmo de condução.
Junto com as qualidades dinâmicas, o bom espaço interno, como disse no começo, marca o Ka mesmo com motor 1-litro. O porta-malas é que poderia ser um pouco maior, 257 litros está abaixo da média do segmento, embora tenha boa conformação interna que facilita a arrumação.
É um carro simples que não deixa ninguém se sentir inferior dentro dele. A simplicidade pode ser observada na rala lista de equipamentos em seguida à ficha técnica, mas que conta com itens essenciais hoje como ar-condicionado, computador de bordo, a direção de que já falei, iluminação de porta-luvas e porta-malas, engates Isofix, banco traseiro dividido 60;40, entre outros.
Esse Ka mostra ser uma boa saída — ou entrada — para quem almeja ter um carro zero-quilômetro na garagem e não pode gastar muito.
BS
Assista ao vídeo:
FICHA TÉCNICA FORD KA 1,0 SE | |
MOTOR | |
Denominação | Ford 1,0 Ti-VCT Flex |
Descrição | 3 cil. em linha, transversal, bloco de ferro fundido e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, correia dentada encapsulada em banho de óleo, variador de fase na admissão e escapamento, 4 válvulas por cilindro, atuação indireta por alavanca-dedo roletada com fulcrum hidráulico, injeção no duto, coletor de escapamento integrado ao cabeçote, bomba de óleo de vazão variável, flex |
Diâmetro e curso (mm) | 71,9 x 81,8 |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Taxa de compressão (:1) | 12 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 80/85/6.300 a 6.500 |
Torque (m·kgf/rpm, G//A) | 10,2/3.500//10,7/4.500 |
Comprimento da biela (mm) | n.d. |
Relação r/l | n.d. |
Corte de rotação (rpm) | 6.700, corte misto |
Ignição | Estática, bobinas individuais |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual Ford MX65 de 5 marchas + ré, todas sincronizadas, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,727; 2ª 2,095; 3ª 1,345; 4ª 0,971; 5ª 0,775; ré 3,727 |
Relação do diferencial (:1) | 4,64 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Diâmetro mín. de curva (m) | n.d. |
Voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro do volante (mm) | 375 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco/n.d. |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/n.d. |
Controle | ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças de frenagem |
Circuito hidráulico | Duplo em diagonal |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço com supercalota, 5,5J x 14 |
Pneus | 175/65R14T (Pirelli P1 no carro testado) |
Estepe | Igual às demais rodas |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback. 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,33 |
Área frontal (calculada, m²) | 2,164 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,714 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 3.941 |
Largura (sem/com espelhos) | 1.774/1.911 |
Altura | 1.525 |
Distância mínima do solo | 140 |
Distância entre eixos | 2.490 |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 257 |
Tanque de combustível | 51,6 |
PESO (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.037 |
Carga útil | 423 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | n.d./13,4 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | n.d./166 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 13,4/9,2 |
Estrada (km/l, G/A) | 15,5/10,7 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em última marcha, 5ª (km/h) | 29,7 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 4.040 |
Rotação à vel. máxima, 5ª (rpm) | 5.600 |
MANUTENÇÃO | |
Revisões e troca de óleo ((km/tempo) | 10.000/anual |
Óleo do câmbio | Não requer troca |
CORES | |
Vermelho Arpoador (sólida, sem custo extra); branco Ártico (sólida, R$ 660); prata Dublin (carro testado), preto Bristol, cinza Copenhagen, cinza Moscou (metálicas, R$ 1.350) |
EQUIPAMENTOS FORD KA 1,0 SE 2019 |
Ajuste de altura de ancoragem dos cintos dianteiros |
Alça de teto para o passageiro dianteiro |
Ar-condicionado |
Banco do motorista com ajuste de altura |
Banco traseiro dividido 60:40 |
Bolsas infláveis frontais (obrigatórias) |
Câmbio manual de 5 marchas |
Compartimento para celular no painel MyFord Dock |
Computador de bordo |
Direção eletroassistida |
Engates Isofix para dois bancos infantis com fixação superior |
Iluminação do porta-luvas e porta-malas |
Indicador de troca de marcha |
Maçanetas e carcaça dos retrovisores na cor do veículo |
Porta de carga com fechadura elétrica comandada por interruptor interno ou controle remoto pela chave |
Quatro alto-falantes |
Rádio MyConnection com Bluetooth e comando de voz |
Rodas de aço de 14″ |
Travas elétricas das portas |
Vidros dianteiros com acionamento elétrico |