Blue Cloud, o maior evento nacional de DKW, se tornou um evento internacional, e superou com facilidade a centena de automóveis.
Ok, confesso, nunca tive DKW e confesso, também, que o modelo que mais me atraí, acho lindo, talvez seja o que os “Dekaweanos” menos desejem, Belcar de 1967, último ano de produção da marca no Brasil. A grade horizontal com frisos polidos e os quatro faróis emoldurados com um acabamento em inox, na minha opinião dão um charme especial ao sedã nacional da Vemag.
Há anos prometo a mim mesmo que visitaria o Blue Cloud — fumaça azul em inglês, alusivo ao que sai do escapamento enquanto o motor não atinge a temperatura normal de funcionamento —, que é o maior encontro de DKW do nosso país, também admiro como um grupo de entusiastas consegue fazer um evento completo, rico de detalhes e com excelente estrutura, sem clube e sem as formalidades que muitas vezes são obrigatórias para se aportar os valores de custo.
Estando presidente de um clube, me achei na obrigação de aprender com o pessoal da organização do Blue Cloud como fazer um evento desse porte. Afinal de contas eles reuniram este ano 130 DKWs vindos das mais variadas partes do país. Tudo muito democrático, dos que ostentam merecidamente as placas pretas que certificam a originalidade, até os modelos que ainda aguardam restauração ou que estão cansadinhos, na aparência, pelas décadas de trabalhos bem prestados. O nome disso — na minha opinião — é respeito ao automóvel.
Alvisi e Ferrom, que participam da organização junto a outros entusiastas, me convidaram para acompanhar a “produção do evento”, fiquei lá quietinho no grupo dos donos de DKW só observando o método de operação. Tudo feito de maneira simples e com muita retidão. Os que estavam ali reunidos disponibilizavam itens, com a temática da marca, para doação (peças, memorabilia e ferramentas) com a finalidade de levantar dinheiro para o evento.
Esses itens iam para uma “ação entre amigos” — a famosa rifa —, assim o dinheiro era, dia após dia, levantado e depositado numa conta conjunta que seria o fundo para fazer o evento. O mais incrível é que muitas vezes o vencedor da tal rifa doava novamente o item para que fosse novamente disponibilizado para uma nova “ação entre amigos”.
Prova de que a formula dá certo é que o evento que era nacional, em 2018 se tornou internacional. Isso mesmo, superou as fronteiras. Onze argentinos vieram até a estância mineira de Poços de Caldas para prestigiar o povo da “fumaça azul”, seis carros vieram rodando da Argentina, entre eles o Fissore lá das terras dos hermanos, que era um modelo com linhas muito mais esportivas que do nosso Fissore, que teve linhas mais sóbrias e com inspiração voltada mais a um carro elegante do que com ares esportivos.
O Fissore argentino tem inspiração no Auto Union 1000 Sp, um esportivo alemão da Auto Union GmbH que seguia a tendência da época de ser elegante e de desenho dinâmico e ousado. Confesso que já flagrei “antigomobilista” olhando curioso e comparando com o primeiro Ford Thunderbird, de 1955, uma vez que o carro tem itens estéticos que realmente lembram as inspirações aeronáuticas típicas dos americanos dos meados de 1950. Por falar no 1000 Sp, lá estava ele também.
Já o Fissore nacional foi um carro bem elegante e curioso, o desenho se tornou referência para outros automóveis elegantes de sua época. Segundo Ari Rocha, não foi à toa que as BMW 2002 e 2004 tiveram a mesma assinatura de designe e as mesmas linhas com os três volumes bem definidos e pequenas colunas que sustentam um teto marcante, que parece flutuar.
A empresa italiana Fissore, de design de carrocerias, chegou a fazer o desenho de uma station wagon, mas o modelo acabou não vingando. Diferente da emblemática Vemaguet, que resistiu bravamente de 1956 a 1967, que foi todo o tempo de produção dos veículos DKW, que no Brasil receberam o sobrenome Vemag.
A segunda parte vem aí com mais modelos e mais do Blue Cloud, o evento internacional de DKWs.
PT