Como acontece costumeiramente com nossa economia, repleta de altos e baixos, nos anos 60 não foi diferente. O país continuava a atravessar um período difícil, principalmente devido à instabilidade política iniciada com a renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961 e que continuou em 1964 mesmo depois da deposição do presidente João Goulart em março naquele ano e da instauração do governo militar em seguida.
E, como sempre, a indústria automobilística nacional, que ainda não tinha completado 10 anos, foi a primeira a sentir as dificuldades econômicas daquele período, com produção e vendas despencando. A saída encontrada pelo governo para estimular a demanda por carros e contornar a crise e evitar o desemprego foi propor aos fabricantes aqui instalados e que produziam automóveis — Fábrica Nacional de Motores,Simca, Vemag, Volkswagen e Willys-Overland — criarem um carro popular, simplificado, despojado do que não fosse essencial, que pudesse ser vendido a um preço que uma boa parte de nossa população tivesse acesso. As fábricas, exceto a FNM, então se apressaram em atender o pedido do governo e lançaram o Simca Profissional, a perua DKW-Vemag Pracinha, o Volkswagen Pé-de-Boi e o Renault Teimoso,
O interessante dessa proposta governamental era a de que esses carros populares e baratos seriam integralmente financiados pela Caixa Econômica Federal com taxas de juros bem mais baixas do que aquelas praticadas pelo mercado financeiro. Um incentivo que, certamente, aumentaria a produção da indústria, evitando a crise e o desemprego.
A primeira fabricante a apresentar a sua versão popular de carro barato foi justamente a Willys-Overland que, baseada no Renault Gordini, definiu uma versão espartana, batizada de Renault Teimoso, um carro familiar que poderia ser vendido a pouco mais de 50% do preço de um Gordini normal. Por quase a metade do preço e com financiamento subsidiado pela Caixa, as vendas do Teimoso foram um sucesso para a época.
O carro foi apresentado no final de 1964, já como modelo 1965, e era oferecido em apenas três cores — preto, cinza e marrom —, sem nenhum cromado ou friso na carroceria. O estofamento era extremamente simples, com os bancos tradicionais substituídos por outros só com estrutura metálica e capa acolchoada cobrindo-a (solução similar à do Citroën 2CV), o painel de instrumentos contava apenas com velocímetro e hodômetro (até os marcadores de combustível e temperatura do motor foram dispensados, sendo substituídos por luzes-espia de tanque na reserva e de superaquecimento do líquido de arrefecimento) e as luzes traseiras passando a única e localizada em posição central, acima da placa, que reunia também a luz de freio. Outros itens, até de segurança, como indicador de direção e espelho retrovisor externo, também foram suprimidos. Só para que se tenha uma ideia da enorme quantidade de itens eliminados, o Renault Teimoso pesava 70 kg menos que o Gordini normal de 750 kg.
O grande atrativo do Renault Teimoso era que seu proprietário poderia ir, aos poucos, equipando o carro com tudo o que faltava, e a expectativa era a de que, depois de um tempo, o proprietário tivesse montado um Gordini normal, como aquele oferecido no concessionário. Ele comprava o carro por quase metade do preço, pagando com financiamento da Caixa e, aos poucos, poderia comprar acessórios como para-choques e frisos cromados, lanternas, retrovisores, painel de instrumentos completo, e tudo mais que julgasse importante no carro. Uma proposta interessante e que surtiu efeito: Naquele ano e no seguinte em que durou a proposta governamental, quase 9 mil Renault Teimoso foram vendidos no mercado nacional. Um resultado bastante expressivo, em que pese os apenas dois anos em que o carro foi comercializado.
Na mecânica, o Renault Teimoso mantinha inalteradas as características técnicas do Renault Gordini: motor quatro-cilindros de 845 cm³ e 32 cv, câmbio de 4 marchas, suspensão independente nas quatro rodas, motor traseiro e porta-malas dianteiro. Por ser mais leve, o Renault Teimoso oferecia até mesmo um consumo de combustível mais baixo do que aqueles valores já econômicos mostrados pelo Gordini normal de série. Por isso, o carro foi um grande sucesso no anos de 1965 e 1966.
DM