Depois da primeira vitória de Max Verstappen, na época com 18 anos, que ocorreu no início de 2016 no GP da Espanha de Fórmula 1, aumentou bastante o interesse de jovens que pretendem participar como pilotos de corridas de automóveis.
Claro que o sonho da F-1 já ficou para trás. Afinal de contas, quem pretende o degrau máximo das competições de automóveis no mundo já deveria desde os 8 ou 10 anos de idade participar de corridas no ambiente do kart. Mas se esse não é o seu caso, você pode sonhar em ser um bom ou um grande piloto, em outras categorias que não sejam a F-1.
E, para toda grande caminhada, é preciso que se dê o primeiro passo. O início de tudo está nas escolas de pilotagem. Cursos especializados em direção esportiva como, por exemplo, o Centro de Pilotagem Roberto Manzini, que darão condições para que você se candidate à carteira expedida pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) de piloto de competição na categoria B. Essa autorização permite que se pilote em qualquer categoria do automobilismo brasileiro, exceto a Stock Car e a Fórmula Truck.
O problema dos passos normais para se graduar como piloto está no custo: a carteira de piloto de competição B custa ao redor dos R$ 10.500 (incluído o curso e os custos cobrados pelas federações de automobilismo e pela Confederação) e a vestimenta exigida ao piloto (macacão antichama, sapatilha, luvas, balaclava e capacete) não sai por menos de R$ 8.500 mais o dispositivo de segurança Hans (head and neck support, suporte de cabeça e pescoço, importado, com custo ao redor de 1.000 dólares), que preso ao pescoço do piloto garante em caso de capotagem ou batidas frontais ou traseiras que o piloto não corra o risco de sérios danos à coluna cervical. Só a carteira e a roupa do piloto já somam R$ 22.800! E ainda falta o mais caro: o carro de corrida! Correr no Brasil não é nada fácil nem barato. Um esporte para poucos e endinheirados candidatos.
Nos velhos tempos…
Quando comecei a correr em 1981 as coisas eram muito mais fáceis e baratas. Dependia muito mais da sua vontade de correr do que de dinheiro. Havia provas de Estreantes e Novatos, da qual participavam carros praticamente originais, apenas com o acréscimo do “santantônio” — apelido carinhoso do arco protetor interno para o caso de capotagem, impedindo que o teto afunde —, cinto de segurança de quatro pontos e acertos nas suspensões e no motor para melhorar o desempenho.
Com sua carteira de motorista você fazia a inscrição e com o seu carro normal de rua você participava da corrida. Eu, com a ajuda de meus amigos, comprei um Passat LS 1976 que transformamos num Passat TS aumentando a cilindrada do motor de 1,5 l para 1,6 l e fazendo pequenas alterações na carroceria para que nosso carro tivesse a aparência do Passat esportivo.
Pronto! Já tínhamos o carro de corrida e um motorista disposto a virar piloto. O instrutor Roberto Manzini critica essa forma antiga de formar novos pilotos, pois só com a carteira de motorista o pretenso piloto não conhecia a sinalização de pista por meio de bandeiras e a forma correta de ceder sua posição numa corrida com a mínima chance de causar um acidente. Realmente, o motorista comum sabia dirigir em ruas e estradas e não pilotar numa pista de corridas no meio de uma competição.
No meu caso, claro, utilizei alguns macetes para melhorar minha inexperiência como piloto. Nas suspensões, por exemplo, procurei uma equipe profissional que já participava do Torneio Passat e deles adquiri molas, amortecedores e o alinhamento que deveria utilizar para a pista de Interlagos. O carro voava nas curvas. Contornava a pista em velocidade altíssima quando comparado aos concorrentes.
Nessa mesma equipe profissional, a Castrol-Rio Motor (uma das lideres do Torneio na época),consegui também o carburador e todos os seus segredos. Passava os concorrentes na reta com a maior facilidade. Um sucesso.
Nessa minha primeira corrida, que me inscrevi com a carteira de motorista e era considerado estreante, larguei em 9º lugar, obtido por sorteio, e terminei num honroso e excelente segundo lugar. Esse mérito meu foi conseguido com muito suor e luta dentro da pista. Afinal de contas, galguei seis posições durante a corrida. Passei até concorrentes mais experientes por fora em curva de alta velocidade. O carro ficou ótimo. Depois dessa prova de estreante, fiz outras três como Novato e a partir da quarta corrida tive o direito de ser classificado como PC-B: piloto de competição na categoria B, com muito orgulho e resultados bem convincentes.
Se fosse nas regras atuais, todo dinheiro gasto para a carteira de PC e a vestimenta sofisticada não teria sido gasto nas corridas em que aprendi muito mais do que qualquer curso teórico ministrado por quem quer que seja. Mas os dirigentes atuais do automobilismo julgam que os pilotos são mais bem preparados nos cursos teóricos do que na prática das pistas. E eles têm razão, afinal aula teórica na sala e prática na pista são de grande valia para o pretenso piloto.
Esses dirigentes julgam também que os pilotos oriundos das práticas de pista e não dos cursos teóricos estejam mais sujeitos a se envolverem em acidentes. Apesar de ser da velha guarda e me formar na velha escola prática, nunca me envolvi em acidente algum durante toda a minha carreira. E olha que venci a Mil Milhas Brasileiras em 1983 correndo de Volkswagen Passat 1600 e venci a Mil Quilômetros de Brasília em 2004 com uma Fiat Marea Weekend turbo — duas das mais tradicionais provas do automobilismo brasileiro.
Claro que não é o fato do piloto ser oriundo do aprendizado pratico nas corridas de estreante ou ter feito algum curso de pilotagem é que vai dizer se o piloto é mais ou menos seguro ou mais ou menos rápido. É o talento, a dedicação e a determinação de cada um é que vão definir os pilotos que ganham corridas e aqueles que nasceram para ser meros coadjuvantes
O que me levou a correr? No meu caso o fator determinante foi a paixão pelo automóvel. O meu gosto desmedido pelos carros me levou a querer conhecê-los profundamente e a querer conduzi-los da maneira mais perfeita e rápida que se pudesse fazê-lo. As pistas me ensinaram muito sobre os carros e suas artimanhas. Me fizeram descobrir uma intimidade com os veículos que só tem aqueles que contornaram uma curva veloz a mais de 200 km/h com a tranquilidade e a intimidade com a máquina de quem a conhecia profundamente. Um mundo maravilhoso que deveria ser explorado por todo aquele que se diz apaixonado por carros.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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