Carros não foram feitos para bater. Mas, infelizmente, eles se chocam ou simplesmente batem em alguma coisa. Pode ser por circunstâncias acidentais, por imprudência ou até imperícia do motorista. Até os anos 1970 a indústria automobilística também pensava assim: não fazemos carros para bater. Por isso, não se preocupavam muito com as consequências dos acidentes. Mas o número de vítimas com óbito aumentou de maneira exponencial e isso levou a indústria a se preocupar seriamente com esses dados alarmantes. Os carros foram ficando mais potentes, mais velozes, as estradas melhorando as condições do piso e essas, entre outras causas, tornaram o carro perigoso.
E ainda nos anos 1970, com um bom jogo de ferramentas era possível desmontar um carro quase que completamente: a técnica construtiva baseava-se no princípio de aparafusar a carroceria sobre uma base que continha a mecânica. Tecnicamente falando, essa simplicidade construtiva era péssima quando pensávamos no fator segurança: em caso de choque, as peças aparafusadas eram simplesmente arrancadas e não formavam uma estrutura rígida que suportasse o impacto. Os técnicos da sueca Volvo, na mesma época, começaram a desenvolver estudos a esse respeito e, programando testes de impacto contra barreiras fixas, foram desenvolvendo tecnologias que começaram por fazer um carro mais seguro.
Claro que, paralelamente aos estudos iniciados pelos suecos e com prosseguimento por toda indústria automobilística mundial, começou-se a rever a forma mais rápida, barata e segura de se construir carros. Abandonou-se o chassi com suas pesadas longarinas, onde se apoiavam a mecânica e a carroceria, e passou-se a adotar estruturas monobloco, onde chapas de aço estampadas eram soldadas formando uma estrutura de carroceria única, que recebia depois portas, tampas e para-lamas dianteiros. Essa solução tornou o carro mais leve, a carroceria mais resistente a torção e a impactos. O carro evoluía como tinha que ser.
Mas só a carroceria monobloco não bastava. Os interessantes crash tests mostravam que os carros ainda tinham muito a evoluir quando o assunto era segurança. E algumas marcas se destacaram nesse quesito, como a própria Volvo, as alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz, entre outras. Os anos 1980 e 1990 foram decisivos para que a indústria, após de milhares de testes de impacto e com o auxílio dos computadores, passassem a simular as batidas antes mesmo que os carros ficassem prontos, permitindo que a construção das carrocerias fosse aperfeiçoada. E o know-how adquirido para os carros mais caros passou a ser utilizado também nos carros menores e mais baratos.
Já nos anos 2000, o fator segurança já despertava a atenção do consumidor: por todo o mundo. Pessoas interessadas em comprar carros novos procuravam antes saber de suas capacidades técnicas em caso de um impacto. Chegou o momento, principalmente nos mercados europeu e americano, em que a segurança passou a ser um fator de decisão de compra. A partir daí houve uma verdadeira corrida por todas as tecnologias disponíveis que evitassem um acidente, bem como aquelas que reduzissem as suas consequências quando ocorresse.
Para que se tenha uma ideia da diferença no nível de segurança entre um carro do passado e outro do presente, o IIHS (instituto americano de segurança viária mantido por seguradoras) promoveu há alguns anos um crash test que chocou o mundo: fez bater frontalmente, deslocados 25% cada, um Chevrolet Bel Air 1959 com um Chevrolet Malibu 2009. Eram 50 anos que separavam a tecnologia construtiva de um carro para outro. Para aqueles que erroneamente pensavam que o Bel Air, com suas grossas e pesadas longarinas de aço e lataria de espessura avantajada, destruiria o aparentemente delicado Malibu, um grande engano. O Malibu, com seus aparentemente frágeis para-choques plásticos e finas chapas estampadas da carroceria, escondia na realidade uma estrutura repleta de reforços e feita de aços especiais, fruto de vários anos de estudos, para impedir que a força do impacto chegasse ao habitáculo. Olhando o filme, ficamos chocados com a destruição que o sedã novo promoveu sobre o antigo. As imagens dizem tudo e dispensam comentários.
Argo vs Corolla
Cerca de dois anos atrás, um Fiat Argo em testes ainda como protótipo, portanto antes do seu lançamento, se envolveu em um acidente com um Toyota Corolla dessa última geração. Foi um choque frontal em uma estrada mineira em que, os técnicos estimam, ocorreu a cerca de 50 km/h.
No passado, um acidente dessas proporções em carros de tecnologia construtiva mais antiga poderia resultar em ferimentos graves ou até fatais para motoristas e eventuais passageiros. O que se viu, na realidade, foi que ambos os motoristas saíram com ferimentos leves do acidente.
Não foi um milagre, foi a tecnologia atual contra impactos frontais desenvolvido pela indústria automobilística mundial ao longo de décadas. E o objetivo é esse: salvar vidas, independente do fato de o acidente ter ocorrido por causas externas e alheias à vontade dos motoristas, ou por imprudência de um ou de ambos.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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