Algo de que sempre fiz questão nos meus carros foi manter o máximo de originalidade e funcionamento, e isso inclui o sistema de som. Aos 17 anos, quando comprei o Landau, tinha no carro um incrível CD-player com frente destacável, uma disqueteira no porta-malas e uma TV portátil colorida. Mas sempre mantive o toca-fitas Philco-Ford original no painel, e assim o carro permaneceu até 2008.
Ao iniciar a primeira restauração que fiz no carro decidi que era a hora de retirar tudo o que não fosse do automóvel e voltei a ligação do toca-fitas. Graças a um amigo, o genial Lucas Vane, que coleciona som automobilístico, o toca-fitas voltou a prosear e uso-o até hoje com seu som monaural ligado no separador de som original do carro e seus quatro alto-falantes (5 polegadas nas portas e 5×8 no tampão traseiro), e a antena elétrica original, da Truffi.
É fácil imaginar por que muitos donos desses carros acabaram por instalar um som extra neles. A linha Galaxie só recebeu rádio com FM nos modelos 1978 da fase II (a partir de abril de 1978); até então, só AM. Ainda assim era de série só no Landau, enquanto que o 500 e o LTD só tinham como opcional, sendo Philco-Ford para o AM ou AM/FM e Bosch (toca-fitas mais AM/FM) até 1980. Só para a linha do ano seguinte viria o toca-fitas igual ao do meu carro (1981), que para 1982 ganhou novos botões, nova entrada da fita e assim permaneceu até os primeiros Del Rey.
Era totalmente admissível que um afortunado dono de Galaxie 0-km quisesse algo a mais do que um rádio AM, daí muitos terem optado por instalar paralelamente sistemas FM icônicos como o Pioneer KP500, que tinha um visual bem diferente e vinha com toca-fitas e FM, próprios para serem ligados em paralelo com os rádios originais. Ao conhecer esse rádio no Fusca do meu primo, lá pelos idos de 1990, pensei, “Um dia terei um “som” desses”.
Curioso é ler os manuais de proprietário dos veículos e notar que para a linha Corcel e Maverick, fossem os standards, de luxo ou esportivos o sistema de som sempre foi opcional. No meu Corcel II GT foi instalado o “topo dos opcionais de som” disponíveis em 1979, o toca-fitas Bosch, igual ao da linha Landau da época. Está aí um rádio bom de ouvir, funciona muito bem, mesmo com a antena abaixada. Além do manual do proprietário, veio um manual próprio do sistema de som, na nota fiscal consta o item.
Na F-100 não tenho som, lá está a “delete plate”, mais conhecida como “a tampinha do rádio”, mas desta vez foi uma “desonorização” que promovi… Calma, antes que me julguem, explico: comprei a picape imaginando que era uma “Cabine Luxo”, ela estava com o rádio AM Philco-Ford compatível para o modelo, mas ao decifrar a plaqueta descobri que, apesar de ela originalmente ser duas-cores — turquesa Laguna com teto branco Nevaska — ela é na realidade o modelo Standard. Resolvi,então “standardizar” o carro, colocando a tampinha no painel. Como o veículo é bem original mecanicamente, com quatro freios a tambor sem assistência, direção idem, e pneus originais, resolvi também manter o quadro de instrumentos com sua originalidade.
No Galaxie 500, de 1972, lá está o rádio original, que é só AM. Até colocaria um FM suplementar, mas então precisaria arrumar novos alto-falantes, um vez que o carro só tem dois, um no centro do painel e outro no tampão traseiro. Rasgar os íntegros papelões de porta é algo que não tenho vontade (ou coragem) de fazer. Em 1972 ainda não havia rádio FM em nosso país, então o jeito é andar de Galaxie ouvindo “notícias”, como diz meu avô — um fissurado em “escutar noticiário”.
A Pampa 4×4, por ser a GL, já tinha como opção o toca-fitas Philco-Ford de som estereofônico, sendo o da pequena picape próprio para ela, onde dois “falantes” vão nas portas e dois bem pequenos abaixo do painel, num alojamento no “pé de coluna”. Apesar de mais moderno, ele não é tão bom e eficiente quanto os Philco-Ford mais antigos ou o Bosch. Foi todo revisado, mas em qualidade de som toma uma surra dos irmãos mais velhos.
Assim, o sonho de ter o desejado Pioneer KP500 foi postergado. Nessas décadas acumulando peças de carro comprei dois rádios desses, mas nunca tinha o modelo certo para instalar. Mas essa semana — finalmente — resolvi isso. Comprei há pouco mais de um ano um Maverick, o carro tem um monte de acessórios de época (vidros Ray-Ban, rodas palito, antena Trufii, buzina Fiamm, faróis cavalinho amarelos…), além do cobiçado “kit quadrijet” instalado no carro ainda 0-km e com garantia do fabricante do veículo. Para 1975 a FM já engatinhava, em nosso país, o carro só tinha como opcional o rádio AM, logo seria altamente plausível que um “playboy” da época instalasse esse som em seu carro. Pronto. era a desculpa que eu precisava.
O toca-titas com FM da Pioneer tinha visual bem diferente com o dial circular que lembra um velocímetro. Agora está lá, no carro, abaixo do painel, o tão desejado Pioneer KP500 devidamente revisado e funcionando. Como diz meu avô, “e não é que esse rádio proseia be?”
PT