Eu sempre quis comentar aqui sobre o design, a linguagem de design da Volvo. Comentar especialmente como se pode ver na Volvo a importância do Design para renovar seus produtos.
No passado recente a Volvo criou um mito sobre segurança que está enraizado no DNA da marca, mas seu design sempre foi inseguro, com caráter vacilante.
Mas a marca sueca oferece com seus carros de hoje muito mais que isso, ampliou os horizonte do que se entende como segurança, funcionalidade, solidez e qualidade.
A mudança de mentalidade veio junto com a implementação de uma nova linguagem de Design, palavra, que neste caso vai além das formas, pois faz parte de um grande espectro de funções, ergonomia, utilização de todo espaço disponível, ideias inovadoras, simplicidade de comunicação com o carro, conectividade e confiança.
Para entender melhor a linha de Design usada na Volvo recente, escolhi o XC40, um suve compacto, que ao vivo se destaca de outros semelhantes pela disciplina na geometria e proporções agradáveis, com uma presença muito forte em meio ao caos do trânsito contemporâneo.
Um dos grandes responsáveis pela mudança de direção da Volvo vem sem dúvida do meu ex-chefe no estúdio de Potsdam, o Thomas Ingenlath, que após Audi, Škoda e Grupo Volkswagen foi para a Volvo como vice-presidente sênior de Design e atualmente acumula a função de executivo-chefe da marca Polestar, a marca inovadora da Volvo.
Não poderia existir uma marca melhor para que o Thomas desse asas às suas criações, já que ele é um mestre não só no trato direto com os modelos, incluindo sua precisão e excelente balanço e noção de proporção, experiência imensa adquirido no Grupo Volkswagen, mas também na inteligência, postura e trato com a parte produtiva, administrativas e financeiras da companhia, que faz parte da formação de um manager perfeito para a função como ele, uma pessoa extremamente disciplinada e competente que é a cara da Volvo.
Voltando ao XC40, sinceramente seria meu carro escolhido para atender o meu dia a dia. Compacto, corajoso, mas com todo conforto de um automóvel moderno, porém devido à ergonomia e tamanho melhor representado no trânsito e melhor posicionado em relação a outros motoristas.
Porém, o desafio de design, sair do “trend”, da modinha e imprimir a identidade da marca com proporções tão “difíceis”, deselegantes, não é uma tarefa fácil.
O carro é curto e alto. Como fazê-lo elegante, confiável e desejável, sob o formato de um suve pequeno?
O velho truque para reduzir a altura de uma lateral alta é criar uma zona preta na parte inferior do veículo, que no caso de um suve é bem-vindo como item de segurança “emocional”, já que a proteção inferior nos transmite um protetor da carroceria em si, do metal.
Percebam que ele pegou a altura total, (da linha do vidro até o final do “rocker panel”, ou soleira) e dividiu em três. A parte escura (zona preta) é 1/3 da altura.
Depois, na altura visual restante, criou ama superfície de luz superior, (que graças ao ângulo de construção capta maior intensidade de luz), também usando 1/3 da parte metálica pintada.
Com as enormes rodas de 18 polegadas e pneus 225/40R18, e 211 mm de altura livre do solo, balanços dianteiro e traseiro de proporções semelhantes às proporções finais não são nada excitantes ou dinâmicas.
Percebe-se de cara que uma boa decisão foi não usar o efeito cunha com as linhas básicas (horizontais) laterais subindo em direção a traseira.
Um Volvo é um carro estável, portanto as linhas de direções devem ser paralelas ao solo.
Agora que já fatiamos o carro em três faixas horizontais, paralelas, temos que criar os elementos da carroceria, zonas de luz e sombra, formando as zonas de “highlight”, assim como pensar no comportamento da reflexão do ambiente que se reflete na superfície do carro e nas zonas de sombra.
Eu diria que o elemento mais importante e óbvio da lateral é o rebaixo criado na parte inferior da porta, que invade propositalmente a “zona preta” inferior, deixando-a mais leve e já ditando elementos de styling, detalhes que marcam o carro e o deixam mais dinâmico.
Em volta das caixas de rodas, um grande arco cria duas zonas de luz, músculos, sendo a traseira “cortada” de maneira proposital para criar um “highlight” extra sobre a roda traseira.
Perceba agora que eles (designers) subiram a direção da zona preta inferior em direção à traseira.
Isto foi feito para “aliviar” o peso visual da traseira formado pelo “pé” da coluna C, que é extremamente largo (bom para a sensação de segurança e solidez).
Note que estes elementos acabam influindo na lateral da carroceria em si, principalmente para contribuir e construir uma superfície de maneira consciente de como a reflexão e as zonas de sombra se comportarão na parede lateral do carro,
Este “abdômen” mais estreito faz parte do DNA da Volvo , que já o usaram em outros carros do passado, mas naquela época, sem muita direção e determinação.
Tenho certeza que a decisão da inclinação do vidro traseiro com a coluna C, onde ela seria cortada e como seria pintado o teto de uma segunda cor, foram os pontos de stress do projeto.
É muito importante neste momento decidir em detalhes onde e como serão os recortes dos vidro, e gaps das portas e tampas.
Os gaps de portas denunciam a complexidade da lateral, por isso para se obter uma boa linha de gap o que manda é uma superfície boa, sem muitos acidentes ou sobe e desce.
Eles também têm que ser “bons” em qualquer direção que você olha o carro. Às vezes um gap se comporta bem quando olhado de lateral, nas quando se muda de posição, o gap parece “torto”.
Se você pensa só na superfície, ignorando as linhas de gap, e aplicando-os conforme as necessidades geométricas ao final, nem sempre será fácil obter uma “boa linha”.
De vista traseira um item que impressiona e denuncia a marca são as lanternas traseiras, que avançam coluna C acima.
No XC40 elas ficaram muito bem, no limite entre a decoração e o design, o técnico e o biológico. Quase o olho de um robô.
Gosto do detalhe do corte feito na parte mais saliente da tampa traseira, rebaixo que serve de “cama” para o lettering da marca.
Dentro desta nova linguagem, percebe-se a procura de itens que valorizem a lógica.
Para este carro e dentro da sua linguagem de design, os designers criaram uma assinatura visual que teoricamente substitui uma curva por duas curvas.
Estas “passagens” se repetem por todo o carro, e também têm a missão de criar pequenos pontos de interesse.
As maçanetas são um ponto a parte. Percebe-se aqui um cuidado especial para a segurança. Em vez de uma maçaneta com design, uma peça padrão com sistema confiável em caso de acidente.
O corte na coluna C acaba gerando uma assinatura de luz sobre a roda traseira, uma sacada muito boa, e bem interpretada.
Seu formato horizontal ajuda a alongar visualmente o carro, aliviando a enorme massa base da coluna.
A divisão entre cores do teto x colunas são cobertas por pequenas peças de acabamento que ao longo do tempo tende a causar irritações, e garanto que foram odiadas pelos designers.
Um último comentário, o único “negativo”.
Abaixo da soleira foi criada ainda uma superfície, mais uma faixa de luz, repetindo exatamente a faixa de luz inferior dentro do rebaixo da carroceria dois palmos acima. Eu pessoalmente acho que foi uma solução fora de hora, e acabou gerando mais linhas desnecessárias.
Belos padrões geométricos foram criados para substituir as monótonas “grades” convencionais. Os faróis ostentam esta assinatura que já identificam a marca Volvo. Um bom ícone, dinâmico e estável.
No show car, que foi em grande parte preservado e aperfeiçoado no modelo final, tinha luz de rodagem diurna (DRL) em formato retangular, e mais dinâmicos. No modelo de produção a DRL foi agregada ao farol principal e um pequeno ponto de luz foi posto no seu lugar.
Gosto especialmente da curva do capô, com uma bela tensão na parte dianteira da tampa do motor. Desta maneira “eles” conseguiram horizontalizar a parte dianteira do veículo, embutindo muita dinâmica no conjunto.
Ponha uma tampa em cunha, com inclinação, e você mata toda beleza do carro. No mais, todos os detalhes são bem executados.
Grade dianteira e a escultura da frente como um todo é muito dinâmica, imprimindo esportividade no modelo, sem exageros ou fricotes.
Não existe nenhum canto agudo ou mal terminado, típico Thomas Ingenlath, que não deixa passar nenhum milímetro do carro sem controle total.
Todos os detalhes são bem acabados, com uma perfeita execução do ponto de vista geométrico.
A grade dianteira principal, mantendo o caráter da marca, é parcial na vista lateral é levemente inclinada negativamente, criando uma boa dinâmica à frente.
Belos padrões geométricos foram criados para substituir as monótonas “grades” convencionais.
Os faróis ostentam está assinatura que já identificam a marca Volvo. Um bom ícone, dinâmico e estável.
Pelo que eu entendo, existe o mesmo carro na versão elétrica. Talvez esta seja a plataforma que possa gerar mais veículos pessoais, limpos, de bom tamanho, inteligentes e seguros. O interior tem um desenho sóbrio e acolhedor.
Elementos geométricos simples se repetem com excelente equilíbrio entre eles. A longo prazo, um interior calmo e organizado é muito mais agradável de se lidar no dia a dia.
Especialmente para eles, no norte da Europa, que têm que enfrentar o inverno impiedoso e a neve.
Em resumo, a nova linguagem de design da Volvo é um ótimo exemplo do poder do design nos produtos de hoje.
O XC40 mostra esta qualidade e visão de uma companhia que cresce a cada dia como um marca séria e arrojada, preocupada realmente com o meio ambiente, dando prioridade total para a segurança e mostrando novos caminhos na história contemporânea do Design Automobilístico.
LV