A foto que inicia esta matéria foi digitalizada de uma revista Quatro Rodas e é o anúncio do Volkswagen sedã “Pé-de-Boi”. A foto completa não pôde ser aplicada na íntegra por questão de formato inadequado para o AE, mas o texto abaixo da foto diz
Volkswagen “Pé de Boi”
É para o campo e custa menos.
O Fusca “Pé-de-boi” inaugurou o termo que há décadas tem sido sinônimo de: carro básico, pelado, espartano ou standard, que é justamente o tema desta matéria e outras que seguirão.
Quem gosta de carro antigo, normalmente começa com a busca dos modelos que mais gosta e, com o tempo, vai-se aprofundando no universo “ferruginoso” e passa a conhecer versões diferentes, curiosas e, inevitavelmente, isso gera uma curiosidade, objeto de estudo e não demora muito para virar objeto da caçada!
Um exemplo é a linha Corcel II, ainda não está no foco dos colecionadores, mas alguns jovens começaram a adquirir esses carros porque ainda são baratos. O momento tem sido buscar as versões luxuosas (LDO) ou as esportivas (Hobby e GT), porém um que tem sido difícil de encontrar é o Corcel II básico, que não tem frisos de carroceria, nem no contorno dos vidros, o painel é de chapa sem qualquer cobertura, o carpete é de borracha e os bancos, em vinil.
Já contei aqui, no AE há alguns anos a história da compra da minha F-100. Sempre quis ter uma picape dessas, na versão de acabamento, “Cabina Luxo”. Acreditei que havia conseguido, afinal de contas ela ostentava a carroceria com duas cores e possuía uma grande quantidade de frisos, na minha cabeça faltava apenas os frisos das caixas de roda e os laterais na parte baixa do veículo. Doce engano, tratava-se de uma F-100 Standard, porém de plaqueta com duas cores, algo que nunca imaginei existir.
Boa parte da pintura do carro ainda é original de fábrica, por isso o capô está desgastado — algo que atualmente o povo da modinha tem chamado de “pátina do tempo”. A carroceria já foi repintada. Boa parte dos elementos da versão Standard sempre estiveram na caminhonete e lá permanecem, itens como: embreagem sem acionamento hidráulico, volante do caminhão (F-350 e F-600) sem aro de buzina e o painel pintado de cinza opalescente, com o acabamento liso, sem ranhuras nas laterais. Resumindo, eu queria uma caminhonete bonita e acabei encontrando uma versão rara.
Pesquisando sobre essa caminhonete, acabei relembrando ou conhecendo algumas versões intermediárias entre elementos de luxo e a simplicidade das versões de entrada. Recentemente dirigi o Fiat 147 movido a álcool do Ministério da Fazenda (hoje Ministério da Economia), que está emprestado ao acervo da Fiat e que, segundo a fabricante, foi o primeiro carro com esse combustível faturado e vendido, em 5 de julho de 1979.
Esse 147 a álcool está bem conservado. O motor 1300 com câmbio de quatro marchas faz o pequeno “caixotinho” da Fiat andar muito bem. Vale lembrar que o 1300 era a maior opção de motor para o compacto da marca, naquele ano. Isso tornou o carro muito mais ágil do que seu irmão com motor 1050.
O carro é muito bacana. Na minha cabeça os veículos a álcool eram versões mais luxuosas, já que o subsídio do Programa Nacional do Álcool ( Proálcool permitia uma taxação de impostos menor. Os 147 a álcool de que me lembrava eram todos versões intermediárias ou de luxo, mas esse carro — provavelmente por ser vendido a órgão governamental é uma versão Standard, com o assoalho revestido por um tapetão de borracha, em vez de carpete, laterais de porta mais simples e apenas um para-sol (só o do motorista). Porém, no painel, lá está o acabamento plástico imitando madeira, onde uma plaqueta registra o fato daquele ser um automóvel digno de ir a um museu, por ser o primeiro a carro a álcool vendido em nosso país.
Há alguns anos encontrei um LTD 1980 que originalmente era a álcool, mas com câmbio manual, o que é uma raridade, já que a maioria dos LTD desse ano eram automáticos e todos os Landau a partir dos modelos 1980, com início de fabricação em setembro de 79, também são automáticos (permaneceram assim até 1983). Fiquei imaginando o que seria conduzir um V-8 movido com o combustível que entrega alguns cavalos-vapor a mais e com um câmbio que rouba menos “energia” do motor, deveria ser algo interessante. Infelizmente o carro está em petição de miséria, abandonado no tempo e o dono não se desfará dele, tampouco cuidará do carro.
O Dodge Polara que serviu de estudo para o projeto Proálcool, um modelo de 1976, ainda está no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos (era o CTA, Centro Técnico da Aeronáutica). O carro junto a outros cinco veículos (outro Polara, dois Fuscas e dois Gurgel) serviram de protótipos para as adequações necessárias para viabilizar o uso do álcool em escala comercial e, assim essa tecnologia chegar às linhas de montagem. O carro foi doado pela diretoria da Chrysler para a Aeronáutica realizar os testes e trata-se de uma versão Standard. Essas pesquisas foram capitaneadas pelo Prof. Ernesto Stumpf, com a ajuda do engenheiro Miguel Azevedo, genro do colunista do AE, Fernando Calmon.
Em 1973, a Volkswagen criou um dos carros mais interessantes que se possa imaginar, um Fusca com motor da versão topo de linha, porém com o acabamento espartano. O veículo foi chamado numa publicação da época de “Fusca Bravo” e hoje ostenta o apelido de “Fusca Série Bravo”, trata-se de um Fuscão, porém sem o aro cromado na buzina, sem os acabamentos imitando jacarandá, sem os cromados do velocímetro e marcador de combustível e sem os enormes bancos da versão 1500 mais famosa. No visual externo, também, apenas a tampa traseira e as rodas denunciam a motorização descrita no emblema traseiro, no demais o carro se assemelha a versão de motor mais simples (1300), sem o friso de alumínio no capo dianteiro e os cromados dos piscas. Até a emblemática lanterna traseira do Fuscão não está nessa versão, que tem a lanterninha típica dos Fusquinhas.
Certo, nesse ponto o leitor do AE deve estar pensando “Tá, Portuga, eu quero um carro com uma configuração interessante, mas não quero ou não tenho como gastar muito dinheiro”. Bem, para esses casos a boa notícia é que os anos 80 foram recheados de veículos standard com configurações interessantes e nas continuações dessa matéria vou listar alguns.
PT