Para relembrar, esta série diz sobre a evolução do design de automóveis através do tempo. Nesta pincei alguns carro desta época que para mim foram importantes no desenvolvimento do Design.
Claro que que houve muitos outros, também importantes que não foram citados, mas aqui os mais representativos.
2005
AUDI A6 TDI quattro
Foi por esta época que a Audi veio com esta (na época) enorme grade dianteira, inspirados no Audi Union Type C, o carro de corrida de Grand Prix da segunda metade dos anos 1930.
Foi realmente impactante, inesperado e de repente entendemos que sim, a grade dianteira superior, pode sim se unir em uma só peça com a grade inferior e formar aí um elemento dominante e com lógica. A Audi soube usar a nova grade muito bem e continua até hoje presa neste jargão, das grades enormes.
A partir dai vimos várias marcar também explorando grades dianteiras enormes, e foram transformadas como que brasões que representavam as marcas.
O desenho tipicamente alemão da Audi usava a simplicidade, limpeza de formas, e linhas precisas como conceito básico.
Todas linhas com um sentido, uma lógica, e superfícies muito bem elaboradas, vide a superfície do capô chegando na grade dianteira.
Outro fato muito forte na Audi desta época foi o absoluto senso de equilíbrio e balanço nas proporções dos elementos que compõem o exterior do veículo.
Um caráter muito marcante do carro é a sua linha de da coluna “A” que continua como longarinas laterais do teto, terminando na coluna “C”, através de uma bela e dinâmica curva.
A “tornado line”, elemento quase mandatório nos Auds da época, saía do canto do farol e ia até o canto da lanterna traseira e ela estava bem próxima da linha inferior do vidro (beltline) o que acabou proporcionando uma zona de luz bem marcante nos ombros do carro.
A linha de caráter inferior sai alinhada ao centro da roda dianteira, mas após a porta dianteira sobe para formar o canto superior do para-choque traseiro.
Bem interessante também é a maneira que foi criada as linha de divisão entre os para-choques, que são de plástico, com o corpo do carro em chapa metálica.
Os faróis de xenônio vieram para dar o toque de tecnologia e modernidade, com uma complexa arquitetura interna.
A tecnologia “allroad” quatro completou o carisma tecnológico da marca, o lhe valeu o prêmio “Word Car of the Year”.
2009
Audi Sportback Concept
O Sportback concept, trouxe bem claramente o potencial de qualidade em design que a Audi estava perseguindo.
Embora quase todos elementos de design sejam os mesmos que os carros anteriores, a maneira de interpretá-los, com economia de linhas e superfícies amplas e a fabulosa proporção do carro trouxe um veículo completamente moderno e com uma aura finíssima de qualidade e precisão.
Este shape de “fastback” acabou gerando o A7 de produção, um carro que mistura classe com esportividade.
Esta comparação com o A6 anterior é só para mostra a velocidade em que a indústria automobilística estava neste ponto do tempo. Somente quatro anos de diferença e uma evolução tão grande.
2008
Land Rover LRX Concept
Vi ao vivo este concept car, se não estou enganado, em Frankfurt, e fiquei como todo mundo estarrecido, no bom sentido.
De cara já comecei lamentando que infelizmente concept cars como este nunca viram realidade ou, quando viram, se tornam veículos de produção sem graça.
Porém, dois anos mais tarde eu presenciei o lançamento da Land Rover Evoque, muito, muito próximo do show car.
O concept de traseira um SUV com proporções estonteantes, com linhas laterais em cunha acentuadas, uma proporção Vidro x corpo de 1:3, tudo isso sobre um larga faixa (+- 30 cm) na cor preta como base do carro.
Rodas enormes fecham com chave de ouro o jogo de proporção,
Outra característica marcante é o “tom” geométrico das linhas detalhes e superfícies, enfatizando o design de produto, aliado a funcionalidade, sem abrir mão da criatividade.
Para mim fica bem evidente este procedência de “sangue Inglês” com o fantástico potencial em termos de linguagem de produto que reviveu a marca e a colocou entre as mais cobiçadas ao redor do mundo todo.
2010
Porsche Panamera
O Porsche Panamera foi para mim uma tremenda frustração, uma terrível aventura de como tem que ser uma Porsche para quatro pessoas.
Primeiro porque, para mim, ele é o único Porsche “feio”, o que eu nunca pensei que pudesse acontecer.
Toda parte dianteira do carro é um Porsche, sem discussões, porém da coluna B para traz, o que temos é uma catástrofe estética.
O maior problema está justamente nas proporções.
Já posso imaginar os perfeccionistas da Porsche exigindo um conforto padrão para os passageiros traseiros, e outros limitando o tamanho das rodas, outro querendo não sei quanto de compartimento de bagagens, e assim vai, de uma maneira geral, nascendo um Package de proporções muito difíceis.
O balanço traseiro e muito grande, toda traseira muito pesada, e com linha de divisão de peças muito confusas e pouco dinâmicas.
A atitude do carro vazio já é de cansado.
Infelizmente para a Porsche, a Ferrari teve parâmetros muito mais flexíveis e limitou o conforto em favor da beleza e fluidez de linhas.
2012, Ferrari FF
Veja e compare o Ferrari FF e o Porsche Panamera. Até o falecido Dr. Piëch elogiou o FF, e de raiva quase compra o Ferrari.
2010
Cadillac SRX
A SRX é um SUV que chama a atenção dentro do Design Norte-Americano.
O desenho “afiado”, com linha dinâmicas e cantos vivos, mostra caráter e coragem.
Embora sua arquitetura seja basicamente estática e horizontal, o detalhe da (falsa) saída de ar nos para-lamas dianteiros, geram um linha que sobe em cunha na direção das lanternas traseiras dando dinâmica na lateral.
Os faróis verticais e as lanternas que mais pareces pedras preciosas lapidadas, são também itens de caráter forte.
Aliás, caráter é o que os novos Cadillacs mais têm, pois a marca se nega a seguir os trends da moda e parte para sua própria interpretação dos clichês automobilísticos, o que é no mínimo, admirável.
2010
Mercedes-Benz GLK Class
Este carro foi realmente uma surpresa (desagradável) da Mercedes.
Não dá para entender o que passou pela cabeça dos diretores para aceitarem um caminho como este.
OK, entendo que os SUVs têm que ter um corpo masculinizado,, com linhas mais planas, etc.,porém aqui a coisa parece que perdeu a mão.
Pode-se ver que embora o desenho tenha usado elementos em cunha para tentar deixar o carro mais veloz, a coisa parece que não funcionou.
Imagino que o “estilo” não foi bem aceito, já que este foi um carro que nasceu e morreu como um espécie único e muito distante do que a marca estava fazendo na época.
A Mercedes é mestre em se renovar, e seu estilo muda num fluxo interminável de boas criações, mas neste caso a coisa não funcionou.
2010
Mercedes-Benz Shooting Brake Concept
Agora sim, com este conceito a Mercedes acertou a mão, especialmente nas fantástica “peruas” que a marca oferece,
As proporções são muito generosas, com uma distância entre eixos enorme, rodas de bom tamanho, área envidraçada mínima, e uma nova linguagem de linhas laterais, reinterpretando elementos clássicos de uma maneira dinâmica e inédita.
Sou fã de carteirinha das “peruas” da Mercedes que para mim estão entre os carro mais desejáveis de todo ZOO automobilístico atual.
2009
Kia Soul
O Soul marcou o início da renascença da marca coreana, liderada pelo meu ex-chefe Peter Schreyer, que em pouco tempo e com os designers certos, alavancou a marca em nível mundial, mudando a ideia de que carros que vinham da Coreia ou China eram mal desenhados.
Realmente, a maioria dos designers-chefes por trás dos novos produtos eram europeus, e de categoria, porém é assim que a coisa funciona.
Pois o oriente não se fez de bobo e contratou a peso de ouro os melhores técnicos europeus para impulsionar seus novos produtos, que em poucos anos invadiram o mundo todo.
O Kia Soul, veio desta tendência, que nós designers havíamos identificado como sendo o grande “Hit” do momento: os SUVs e Crossovers, ‘body style” que infeccionou toda indústria automobilística.
No caso do Soul, podíamos jogá-lo dentro desta tendência (Crossover soft) pois ele pode ser visto como um “Jeep”, já que tem uma forma geral que se encaixa nesta categoria.
2009
Dodge Challenger SRT8
Com grande alegria que vimos nossos amigos americanos redesenhando seus grandes ícones, que estavam perdidos e esquecidos, sem uma razão plausível.
A Chrysler com o Challenger, e o Camaro (foto abaixo) e o Mustang vieram em um novo formato que parece ter agrdado bastante, especialmente o público jovem.
As proporções são muito diferentes dos carros esportivos europeus, mais leves e dinâmicos, porém esta “fartura”, seja no tamanho como nos elementos clássicos, acabou por se tornar uma marca positiva para os americanos e hoje, se tornaram objetos de desejo para os que gostam de aparecer em grande estilo.
De uma certa maneira, eu gosto destes carros, que impressionam mais pelo tamanho e brutalidade do que pela precisão e detalhes.
Como sempre digo, mais importante do que a beleza está o caráter, que no casos dos novos “power cars” americanos, é o que não falta.
2010
Tesla Roadster TAG Heuer
Eu destaco aqui o Tesla Roadster, não porque ele foi algo importante na indústria automobilística por si só.
Porém, volta e meia, este carro era comentário entre nós, profissionais da época, não pelo design mas pelo fato de ser um carro elétrico.
Dez anos atrás, parece que só a Tesla tinha “se ligado” na onda elétrica e todos nós, da indústria convencional estávamos dormindo em berço esplêndido.
Não podíamos prever que está pequena marca, nascida na Califórnia iria se tornar a marca mais influente da próxima década, fazendo com que todas (sem exceção) marca tradicionais fossem formadas a repensar seu caminho para o futuro.
Um verdadeiro fenômeno.
LV
Fotos: netcarshow.com