Surpreso e ao mesmo tempo satisfeito, constatei que meu último artigo provocou a manifestação de noventa e seis leitores. Prova evidente de que abordei o tema certo, uma vez que estou ciente do provérbio indiano de que: “Jamais convencerei os que estão na meia ciência” Nunca tive a presunção de doutrinar ninguém, apenas escrevo procurando divulgar o que aprendi em mais de meio século lidando com as coisas do trânsito, professando a “ciência do controle do trânsito”, como se diz na Inglaterra.
Estudei e respeitei sempre os mestres do passado, verdadeiros “filósofos” que, se fossem mais respeitados ou copiados, não viveríamos o caos que vivemos atualmente no trânsito urbano.
Sempre fui considerado polêmico nas minhas decisões ou declarações, nos sete anos em dois períodos, em que exerci a Direção Geral do Trânsito na minha cidade e no meu estado.
É verdade que também atuei como consultor no trânsito, já municipalizado, de São Paulo, em 1973/74, juntamente com a Sondotécnica de Jayme Rotstein. Desta feita, graças à cultura e disciplina do paulistano, não tive críticas, muito pelo contrário, deixamos implantadas novidades e modernizações que permanecem até hoje, notadamente a espetacular sinalização orientadora, a melhor do Brasil, e a zona central de pedestres.Desde que, em 1967, o governador Negrão de Lima, me nomeou e me deu total apoio, tornei-me polêmico no afã de atualizar um trânsito com uma administração cerca de trinta anos atrasada, se comparada com que eu aprendera com a polícia holandesa, em dois anos de convívio.
A maior novidade foi o uso do helicóptero como ferramenta indispensável para se observar o trânsito ao vivo, graças ao empréstimo do helicóptero do Jornal do Brasil, gentilmente cedido pelo seu presidente, Dr Manoel do Nascimento Brito.
Já naquela época eu era advertido pelo meu amigo Peter Thiessen, diretor local da Lufthansa, que me convidou para um almoço e durante o mesmo, indagou-me: “Você pretende implantar aqui no Rio aquela ordem e disciplina que temos na Holanda e na Alemanha?” Com a minha resposta afirmativa, apelou:”Não faça isto.É tão boa esta esculhambaçon”.
Jamais dei atenção ás críticas, respondendo as com o sucesso das medidas, algumas inéditas, que a maioria do povo aprovava, pois sempre estava nas ruas ou no ar supervisionando o que se fazia. Até hoje, os mais velhos, que ao me reconhecerem, me perguntam: “O senhor não é o Celso Franco?” apenas respondo: “Fui”, ciente de que eles se referiam ao então Diretor de Trânsito dos anos 1960.
Também me consolava e até estimulava a observação do grande Georges Clemenceau: “Nunca faltaram, na história, homens corajosos que desafiaram os tiranos; mas é preciso verdadeiro heroísmo, para desafiar a tirania da opinião pública.”
Pois é, continuo sendo verdadeiro herói, principalmente a esta altura da minha vida, quando nada mais pode me atingir, mesmo quando me atacam pessoalmente.
Tão consciente de minha posição estou que o título de meu livro de memórias , do meu tempo de diretor de Trânsito da Guanabara, se chama “Eu na contramão”.Tem nas suas páginas iniciais a observação de João Mellão Neto: “Só Deus sabe o quão terrível e respeitável é um homem que acredita no que faz.”
Portanto, meus caros leitores que me honram com sua leitura, demonstrando inclusive a sua opinião, que é para mim o termômetro de seu conhecimento do assunto, continuem expressando suas opiniões.
Fico feliz em ver que não existe a unanimidade nas opiniões o que , felizmente, livra estas manifestações da definição do imortal escritor e crítico Nélson Rodrigues, “de que a unanimidade é burra”.
CF