Quem me conhece sabe o quão cuidadosa sou com meu carro. Não o lavo pessoalmente, mas providencio que isso seja feito com alguma regularidade. Mantenho rigorosamente tudo na mais absoluta ordem — troca de óleo quando devido, calibragem de pneus frequente e todas as outras pequenas e não tão pequenas coisas que fazem com que minha viatura esteja sempre perfeita.
Mas algo que me incomoda justamente por não conseguir controlar como acho que deveria ser feito é a qualidade do combustível. Nem vou discorrer aqui sobre todas as ressalvas que eu e todo mundo fazemos à mistura que temos de colocar no tanque e que alguém chamou de “combustível”. Não me refiro a isso. Refiro-me aos mistérios que envolvem a operação compreendida entre a hora em que o frentista tira a mangueira da bomba, coloca o bocal no tanque do nosso carro e eu digo “parou” quando o automático da bomba indica que o tanque está cheio. Sim, porque eu não deixo arrendondar nem colocar mais um pouquinho nem nada. Parou é parou para mim.
Costumo colocar combustível em uma de duas grandes redes nas quais confio — embora confiança neste caso seja algo absolutamente relativo e beire a convicção dogmática. Nada de posto genérico, similar, nem de bandeira duvidosa. Se já podemos ter questionamentos quanto às grandes redes, muito mais quando não se conhece o dono do posto, a procedência nem quando o estabelecimento tem algum tipo de prurido quanto à sua reputação.
Mas já faz algum tempo que deixei de abastecer num único posto. Tempos atrás era mais simples. Parava sempre num que está perto de casa, antes de ir para o trabalho ou viajar. Mas a rede toda acabou aumentando demais os preços e o posto vizinho mais ainda. Aí já não, né? Os frentistas me conheciam pelo nome e eu a eles, mas atualmente a diferença de preço passa dos 25% e combustível é um item que consome uma quantidade razoável do meu orçamento. Aí passei a usar alguns outros — nem são tantos assim, pois a maioria está mesmo perto de casa — mas de outra rede que tem mantido preços mais razoáveis.
Tem um posto que fica longe de casa, mas é num caminho pelo qual passo pelo menos uma vez por semana. Fica do lado da rua que eu preciso para não ter que fazer algum retorno, é de uma das duas redes que gosto, tem preço compatível com o de mercado e, suprema facilidade, tem o local para calibrar pneus quase sempre livre. Recentemente teria que esperar que quatro (!) carros calibrassem os pneus para que chegasse minha vez num posto perto de casa. Não, nem pensar. Outro posto mais ou menos vizinho ficou com o dispositivo de calibragem durante uns dois meses… enfim, comecei a parar neste posto mais longínquo.
Semana passada, lá pela segunda ou terceira vez que parei, aproveitei para encher o tanque que já marcava um quarto. Afinal, passava exatamente na frente e o local para calibrar pneus estava totalmente livre. Enquanto o frentista enchia o tanque, saquei minha famosa cadernetinha, sobre a qual já falei aqui neste espaço. Fica no porta-luvas e anoto absolutamente tudo nela. Claro que o mais frequente é combustível. Marco a data, quilometragem no momento do abastecimento e quantos litros coloquei e qual tipo de combustível — meu carro é flex e embora geralmente use gasolina aditivada, às vezes vai da comum mesmo.
Com isso, faço um acompanhamento de consumo e tenho à mão dados que me permitem checar se está na hora de trocar o óleo, verificar os freios, enfim, tudo. Já vendi dois carros em que os compradores, sabedores dessa minha mania, imploraram que lhes desse a tal caderneta. Algo que, claro, fiz prontamente. E sorri de pensar que meu carro estaria em boas mãos — afinal, se o sujeito se importa com isso acho que vai cuidar bem do meu veículo, não?
Estava eu então no posto, com um quarto de tanque, e pedi para completar. Estranhei a demora e mais ainda quando a bomba parou: 54,5 litros (foto acima). Como assim? A capacidade do meu carro é de 60 litros e tinha bem mais de um quarto de tanque. Vamos supor que o marcador estivesse com problema, que eu não tivesse um quarto de tanque e que o sistema não tivesse sequer me avisado de que havia entrado na reserva. Mesmo assim, não fazia sentido. Quando comprei minha viatura, zero-quilômetro, conseguimos colocar nela 59 litros de gasolina…e nunca mais coube isso pois no mínimo a reserva tem.
Como TOC pouco é bobagem, além de todos esses rituais a cada abastecimento eu zero o hodômetro — e sempre encho o tanque. Raríssimas vezes coloquei alguns litros já pré-decididos e, claro, nessas oportunidades não zerei o marcador.
Já havia visto na imprensa e nas redes (anti)sociais muita gente reclamar de postos que colocam uma quantidade de litros mas a bomba marca mais. Imaginem, caros leitores, o que foi que eu fiz? Fui questionar.
Por diversos motivos não dava para tirar o combustível colocado, mas o gerente do posto rapidamente se prontificou a fazer uma checagem. Ele veio com um vasilhame metálico (foto ao lado) com uma minúscula plaquinha do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Tirou a mangueira da mesma bomba que eu havia enchido o tanque e colocou 20 litros no vasilhame (como na foto de abertura, que é apenas ilustrativa)). Segundo ele, isso prova que a bomba está bem aferida.
É o chamado teste de vazão, que o posto não pode se negar a fazer. No teste, usa-se a medida-padrão de 20 litros do vasilhame, que é certificado pelo Inmetro. A diferença máxima permitida é de 100 ml para mais ou para menos.Há uma escala para ler isso no pescoço de entrada do vasilhame.
Pelo que me lembro de ter lido, o golpe consiste em instalar um chip dentro da bomba que altera a placa eletrônica que informa sobre a quantidade de litros que estão sendo colocados no veículo e também o valor. O dispositivo da fraude pode ser operado por aplicativo de smartphone ou controle remoto e faz com que menos combustível seja colocado dentro do carro — embora na bomba indique mais e seja cobrado mais.
É claro que no meu caso, por ser com controle remoto, poderiam ter desligado o dispositivo a distância e na hora da “contraprova” colocaram a quantidade certa no latão.
Infelizmente parei num momento ruim, com hora marcada para outro compromisso e não pude discutir o quanto gostaria, mas, convenhamos, que esse “teste” é meio dogmático. Eu tenho que acreditar que no vasilhame cabem exatos 20 litros. Se não, nada prova.
Outra coisa: para liberar a bomba de combustível, o gerente usou o próprio crachá — não o do funcionário que me atendeu. Quem me garante que a bomba não “entende” que esse era outro crachá de tem uma programação diferente? Claro, podem-me chamar de paranoica, mas como já trabalhei durante muitos anos com segurança da informação e em banco, conheço muitas das tretas que podem ser feitas eletronicamente. Assim, a bomba poderia liberar exatos 20 litros (ou a quantidade correta) com uma determinada identificação e outra, diferente, menos.
Pelo sim, pelo não, não voltei àquele posto apesar de toda a praticidade. O problema é que com tantos pruridos limito-me muito. Há uns três anos não vou ao supermercado que está mais perto da minha casa porque não respeita vagas preferenciais, como já contei aqui. Agora o posto de gasolina. Parei de levar meus pisantes ao sapateiro que tenho mais perto porque deixaram de cumprir uma série de coisas e, terrível para mim, se comprometeram a fazer algo que não sabiam e levaram dois meses (!) para me devolver um par de sapatos exatamente como o entreguei. Certamente haverá outros casos de desrespeitos que me farão boicotar silenciosamente outros estabelecimentos de vários tipos o que, obviamente, complica minha vida, mas me faz dormir tranquilíssimamente.
Pelas denúncias que vi na imprensa, o roubo é de cerca de 10%. É relativamente pouco quando se abastece com 50 (?) litros uma vez, mas, assim como o supermercado e o sapateiro, é uma questão de princípios. Affe! Como cansa ter de fiscalizar tudo e todos o tempo todo!
Mudando de assunto: meu super fisioterapeuta Alê, preocupado com minha integridade nas viagens estranhas que Noratur programa, me mandou um vídeo sobre o dono de um restaurante na Albânia que não aceitou lá muito bem as críticas feitas por uns clientes. Ele sabe que costumo fazer resenhas em sites de viagem e me alertou para esta doideira. Lembram que eu havia achado o trânsito albanês meio, digamos, caótico? Pois é. Estas cenas são dignas do filme argentino “Relatos Selvagens”. Vejam só o que o dono do restaurante fez:
NG