Enquanto o mundo busca soluções para superar e neutralizar a pandemia da Covid-19, a F-1 atua igualmente em duas frentes para explorar o momento e garantir seu futuro. No primeiro caso está a utilização da tecnologia de ponta utilizada pela categoria para desenvolver e fabricar respiradores artificiais em tempo recorde (foto de abertura); no segundo aparecem as possíveis variantes para contornar os problemas criados com o adiamento, quase cancelamento, da temporada, fato inédito desde a criação do Campeonato Mundial em 1950. Paralelamente, várias ações são embrulhadas pelo papel da solidariedade e necessidade pipocam pelo mundo.
Um dos grandes trunfos da F-1 é a mistura de necessidade e poder para resolver problemas enormes em prazos exíguos, combinação que leva empresas automobilísticas de produção em larga escala a capitalizar sua participação na categoria como canal para treinar e refinar o potencial de engenheiros e técnicos de alto nível. Exemplo prático desta situação é a criação de um respirador artificial desenvolvido pela equipe Mercedes em conjunto com engenheiros e médicos do Faculdade de Medicina da Universidade de Londres (UCL na sigla em inglês).
De acordo com Tim Baker, professor de engenharia mecânica dessa instituição, a versatilidade do time anglo-alemão foi crucial para o sucesso: “Uma vez definido o projeto trabalhamos ininterruptamente por dias focados em desenvolver um projeto preexistente. Graças ao uso de simulações em computador conseguimos reduzir um processo que levaria anos para apenas alguns dias e criar um ventilador de alta eficiência que pode ser fabricado em larga escala.”
De acordo com Baker e seu colega Tim Cook, professor de anestesia e terapia intensiva no Royal United Hospital da cidade de Bath, esse equipamento permitirá que pacientes sejam atendidos em enfermarias por equipes de um médico e duas enfermeiras, enquanto uma unidade de UTI para o mesmo número de enfermos demanda três ou quatro médicos e entre cinco e dez enfermeiras. Além da Mercedes várias outras equipes também estão envolvidas em projetos semelhantes, com destaque para a Ferrari e Williams.
Tais ações são desenvolvidas num período em que as fábricas passam por um período de férias coletivas, algo que deveria acontecer em agosto e que foi antecipado para o mês de março como forma de facilitar o remanejamento do calendário. A ação, porém, parece mostrar-se inócua: a chance de que as corridas voltem em julho ou agosto é bastante reduzida e já se fala na possibilidade de fundir as temporadas de 2020 e 2021. Outra hipótese em discussão é adotar uma programação reduzida para apenas dois dias de atividades de pista: treino e classificação no sábado e corrida no domingo. Paralelamente, não será surpresa se no futuro surgirem acusações de que aquela ação benevolente tenha sido usado para encobrir ações de aperfeiçoamento de carros e motores.
Diante da possibilidade de a F-1 adotar o conceito de supertemporada, dirigentes das equipes debatem os pontos básicos para impor uma limitação de desenvolvimento dos carros atuais, que seriam usados em 2021. A ideia se mostra a melhor opção para enfrentar a redução de faturamento que fatalmente decorre de um calendário mais enxuto e, consequente, prêmios menores.
Fréderic Vasseur, o chefe da equipe Alfa Romeo, tem uma visão interessante sobre o tema: “Nós temos a possibilidade de estender o período de férias coletivas para reduzir drasticamente os nossos custos fixos. Acredito que em meados de abril teremos uma visão mais clara para tomar decisões.”
No período de férias coletivas, que se estenderá durante boa parte do mês de abril, as fábricas das equipes não podem funcionar, exceto os departamentos de administração e comunicação. Isso permite que Vasseur e seus pares discutam sobre o acordo que vai definir o que poderá ser alterado para que os carros atuais sejam utilizados em 2021. Como a consolidar a fama de equipe em perene turbulência, a Ferrari já deixou transparecer que congelar os projetos deste ano seria prejudicial às suas chances de lutar pela vitória.
Outras ações e declarações que também repercutiram na última semana foi a decisão do governo da Índia em interditar o circuito de Buddh para utilizá-lo como abrigo para trabalhadores que residem foram da região de Nova Déli e que não podem retornar às suas casas. O fato de a empresa Jaypee Sports City ter dívidas na casa de US$ 80 milhões (cerca de R$ 400 milhões) com a prefeitura local facilitou a decisão. Em Londres, Bernie Ecclestone não escondeu que se estivesse no comando da categoria já teria cancelado a temporada atual e que ficará “muito, mas muito, surpreso” se a proposta de Chase Carey (seu sucessor no comando da categoria) em realizar um calendário de 15 a 18 etapas for concretizada.
Ainda na Inglaterra Lando Norris, que se propôs a ficar careca caso arrecadasse US$ 10 mil para contribuir no combate à Codiv-19; superou a meta em 20% e angariou algo em torno de R$ 60 mil. No Brasil, Lucas de Grassi desenvolve ação semelhante.
WG