A história do MP Lafer teve início quando Percival Lafer, proprietário da Lafer, uma próspera indústria de móveis, que produzia até mesmo para exportação graças à qualidade de seus produtos, olhou para o mercado americano e percebeu um nicho de carros clássicos que crescia na terra do Tio Sam. Mas Percival ainda não sabia qual seria o carro que ele produziria.
Em um dia comum de trabalho, seu funcionário João Arnaut chegou para trabalhar em um clássico inglês reconhecido mundialmente: o MG TD 1952. Sem o seu carro de trabalho, João pegou o presente que havia dado à esposa, Ivone Arnaut, para ir ao trabalho naquele dia.Percival, quando viu aquela joia inglesa, não teve dúvidas: encantado com a delicadeza e personalidade das linhas do pequeno carro inglês, teve a certeza de que aquele seria o carro a ser produzido pela Lafer. Depois de convencer dona Ivone e seu marido João, Percival comprou a raridade inglesa, desmontou-a totalmente e dela tirou os moldes que foram utilizados para a fabricação de sua réplica.
Uma grande sacada foi a descoberta de que a distância entre-eixos do Fuscão e do MG original eram muito semelhantes (2.400 mm e 2.388 mm, respectivamente) e, por isso, os moldes retirados do carro inglês serviam exatamente sobre o chassi-plataforma do VW. Bingo! Um tiro certeiro.
Mas, claro, modificações importantes foram feitas. O motor dianteiro longitudinal arrefecido a água e a tração traseira deram lugar ao motor traseiro arrefecido a ar, juntamente com o câmbio. Só para que se tenha uma ideia, o radiador dianteiro original do MG acabou se transformando no tanque de gasolina do MP Lafer: em vez de água, naquela tampinha da dianteira se colocava combustível.
E a distribuição de peso entre os eixos também ficou muito esquisita: tinha-se uma frente longa e vazia que virou porta-malas e todo o peso de motorista, passageiro, motor e câmbio se concentrava praticamente todo sobre o eixo traseiro. É claro que, dinamicamente, o carro não tinha um comportamento exemplar, principalmente nas velocidades mais altas, em que a frente tendia a ficar mais leve até mesmo pela entrada de ar por baixo dos para-lamas dianteiros.
Motorista e passageiro se sentavam praticamente no espaço que seria o banco traseiro do Fusca. Para viabilizar essa curiosa condução, a pedaleira, alavanca de câmbio e freio de estacionamento eram recuados, com a árvore de direção alongada de acordo. Mas o fato é que, se o MP Lafer não era um campeão dinamicamente falando, esteticamente ele esbanjava charme e elegância, fato que encantava grande parte dos consumidores brasileiros e até estrangeiros, uma vez que o carro também era exportado para os EUA, vários países europeus e até Japão.
Como inicialmente utilizava a mecânica do Fuscão, o primeiro protótipo, feito em 1972 e apresentado no Salão do Automóvel daquele ano, tinha como garoto-propaganda Emerson Fittipaldi, que naquele ano havia conquistado seu primeiro campeonato de Fórmula 1, e que também foi um dos primeiros compradores do modelo.
Depois de obter a permissão da MG inglesa para produzir réplicas do MG TD em 1973, Percival Lafer iniciou a produção do simpático carrinho no início de 1974. Até então, o modelo utilizava o chassi do Fusca, com motor 1500 de um carburador e câmbio de 4 marchas. No segundo semestre de 1974, o motor 1500 foi substituído pelo 1600 do recém-lançado Brasília, ainda com um único carburador. Logo depois, veio a dupla carburação, semelhante ao conjunto utilizado pelo Brasília na linha 1975, além dos freios dianteiros a disco.
Ao longo dos anos, o modelo foi passando por algumas mudanças evolutivas, como as portas, que deixaram de ser tipo “suicida” (como no modelo inglês) por exigência do Contran, as janelas traseiras laterais deixaram de ser plásticas com abotoaduras e passaram a ser em vidro, grade e para-choques passaram a ser pintados na cor da carroceria (nas versões TI), as rodas deixaram de ser exclusivas do modelo e passaram a ser raiadas fornecidas pela Mangels (linha 1985), entre outras mudanças.
Em meados dos anos 1980 o arquiteto Percival acreditava que poderia dar mais originalidade ao seu carro se ele tivesse motor dianteiro arrefecido a água. Assim, construiu um protótipo com motor VW da linha Gol/Voyage/Parati/Saveiro, batizado de MD-270, de 1,.6 litro. O câmbio continuava sendo o mesmo do Fuscão, disposto na traseira juntamente com a tração. Para transmitir os movimentos do motor dianteiro para o câmbio traseiro foi desenvolvido um cardã.
Em que pese o fato da melhora na distribuição de peso por eixo e na consequente melhora na dinâmica do carro, o protótipo mostrou um aumento de custo que inviabilizava a sua produção em série. Esse único protótipo acabou se tornando o carro de uso diário de Percival, e nunca foi colocado em produção.
Os MP Lafer foram fabricados até 1990, quando a reabertura das importações tornaram sua produção inviável: já naquela época o preço de um MP era o de três Fuscas, e os novos importados chegavam com uma tecnologia bem mais avançada por um custo muito mais baixo. Por isso, a Lafer encerrou a produção de carros e focou nos móveis de alta qualidade para o mercado interno e exportação.
Durante o período que foi fabricado, de 1974 até 1990, cerca de 4.300 unidades foram produzidas, das quais aproximadamente 1.300 foram exportadas.
Duas curiosidades interessantes sobre desse clássico. A primeira é relativa ao nome MP, que vem de Móvel Patenteado, sigla que a Lafer usava em seus catálogos de mobília interna que designava os móveis que tinham a patente da marca e, por isso, a sigla utilizada internamente passou a nomear também o carro, que em vez de MG (Morris Garages) do original inglês, mudou para MP.
A segunda curiosidade é que, quando foi encerrada a fabricação do modelo em 1990, Percival Lafer determinou que todo o ferramental usado para fazer a carroceria fosse enterrado nas dependências da fábrica, onde posteriormente foi construído um grande supermercado. Até hoje, aos 83 anos, seu Percival Lafer trabalha diariamente na sua indústria como diretor e designer de móveis.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
(Atualizado em 30/04/2020 às 13 horas, inclusão de desenhos do veículo)
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