Muitos leitores ou leitoras já devem ter notado nos textos e nos comentários que certos termos são diferentes do que se lê na mídia em geral e outros são barrados, inclusive ser comum o que escrevem nos comentários ser alterado pelo moderador, no caso eu próprio, editor-chefe do AE.
A finalidade desta matéria é justamente explicar o motivo de o AE ser “diferente” para que ninguém se sinta ofendido no caso específico dos comentários.
Todo veículo de comunicação, e nisso os sites se incluem, tem — ou deve ter — regras de redação para seus jornalistas. No caso, e não me furto dizer, utilizamos desde os primórdios do AE, em agosto de 2008, o “Manual de Redação e Estilo” do jornal O Estado de S. Paulo. Seu autor, o saudoso jornalista Eduardo Martins (26/07/1939-13/04/2008), com quem incontáveis vezes tirei dúvidas e nos tornamos amigos virtuais, me serve até hoje como referência.
O objetivo do AE é proporcionar uma leitura clara, compreensível e correta. E, mais, que o estilo da diagramação seja sempre o mesmo, a exemplo do que se vê nos principais veículos de comunicação.
Termos e unidades
• Transmissão.é,o sistema que leva a potência o motor às rodas e compreende embreagem ou conversor de torque, câmbio (manual ou automático), cardã (se houver), diferencial e semiárvores. Por isso a palavra transmissão não é usada quando se fala em câmbio, como em transmissão automática, aliás usado dessa forma nos EUA. No AE é câmbio automático ou caixa automática. Pelo mesmo motivo nos abstemos de usar as tão comuns siglas MT e AT, pior, M/T e A/T. Eventualmente podemos abreviar man. e aut.
• O gênero dos carros no AE é sempre masculino. Somente peruas (camionetas de uso misto, peruas) e picapes (caminhonetes) são do gênero feminino.
• Vírgula e em lugar ponto é algo de que o AE observa à risca. A separação da parte inteira da fracionária no Sistema Internacional (SI) é por vírgula É motor 2,5, nunca 2.5, e não cabe discussão.
• Zero após a vírgula é matematicamente errado. Cabe somente quando se tratar de adjetivo, como em motor 1,0, 2,0, etc. Os formatos motor 1,0-litro ou motor de 1,0 litro não entram. Para isso, motor de 1 litro ou ou a expressão adjetivada motor 1-litro.
• cv é símbolo de antiga unidade de potência, o cavalo-vapor. Hoje esta unidade, pelo SI, é o quilowatt (kW), mas ficamos com o cv por ser mais fácil entender o dignificado desta unidade.
• CV é escrito dessa forma, em maiúsculas, quando se tratar de potência fiscal, obtida mediante cálculo, usada na França para fins de taxação de impostos e que serve para designar determinados modelos como Citroën 11 CV, Citroën 2 CV, Renault 4 CV.
• m·kgf é antiga unidade de torque, o metro·quilograma-força. Pelo SI é newton·metro (N·m). Como no caso acima, o AE usa m·kgf por ser uma unidade a que estamos todos habituados. É indiferente m·kgf e kgf·m, pois trata-se do produto de uma força por uma distância. Na indústria automobilística, por convenção, usa-se m·kgf para diferenciar do torque de aperto de porcas ou parafusos de torque de motor.
• O ponto a meia altura (·) é sinal de multiplicação, por isso o AE, por precisão, o utiliza sempre no símbolo do torque. Caso também da capacidade das baterias, kW·h.
• A unidade de velocidade é o quilômetro por hora (km/h), em minúsculas sempre. Não se deve usar notações mistas como km/hora ou quilômetros/h;
• Símbolos nunca se flexionam,ou seja, não têm plural: 1 km, 2 km, 100 km, e assim por diante.
• Espaço entre número e símbolo é mandatório. 1 L, 50 m, 200 kg.
• O símbolo do litro é l (ele) minúsculo, mas por questão de clareza gráfica pode-se usar L maiúsculo quando necessário.
• Expressão adjetivada requer atenção. Ou se escreve motor de 2 litros, ou motor 2-litros.
• Siglas costumam confundir quanto a letras maiúsculas ou minúsculas, más é fácil entender. Quando a sigla tiver até três letras, maiúsculas; mais de três, inicial maiúscula e o resto, minúsculas. Ex; Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica); Fipe ( Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas); Fasp (Federação Automobilística de São Paulo); Vasp (Viação Aérea de São Paulo) Mas, cuidado: essa regra só vale se a sigla for pronunciável. Se não for, tudo maiúsculo, com em DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). No caso de acrônimos (veja a seguir) é igual. Já a sigla do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não é pronunciável, daí todas as letras serem maiúsculas.
• Acrônimos diferem das siglas pelo fato de suas letras ou parte delas não representarem iniciais, ou mesmo faltarem, caso do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec): onde está o “Brasileiro”?. Outros acrônimos conhecidos são Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil) ou Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). É comum o erro dos jornalistas da mídia falada em pronunciar. como Denit a sigla DNIT. Contran e Detran são vítimas contumazes da má escrita, lê-se frequentemente CONTRAN e DETRAN até em documentação oficial.
• Cidade e estado são escritos no AE com separação por vírgula, como em São Paulo, SP. É comum pessoas escreverem São Paulo/SP
• Quilo é um prefixo que indica 1.000 vezes, jamais unidade de peso na linguagem escrita. No AE, é sempre kg ou a unidade completa, quilograma.
• Cilindrada é um volume determinado por cálculo considerando o diâmetro do cilindro (D) e o curso do pistão (l). O cálculo é bem simples: D² x 3,14 ÷ 4 x l x número de cilindros, D e l em centímetros. No AE, a menos que especificado, a cilindrada sempre é a total, que é a soma da cilindrada de todos os cilindros. As unidades da cilindrada, logicamente, são as de volume: litro (l ou L) e centímetro cúbico (cm³), lembrando que 1 litro é igual a 1.000 centímetros cúbicos. Nunca pode-se dizer, por exemplo, que um motor é de 1.000 cilindradas.É correto dizer deslocamento volumétrico ou simplesmente deslocamento em vez de cilindrada, mas o AE não usa.
Palavras banidas
• Etanol: o álcool etílico hidratado combustível (AEHC) foi rebatizado etanol em 2009 — também correto, é claro —, mas à falta de outro tipo álcool para veículos automotores no Brasil, achamos a troca de nome desnecessária e, portanto, a palavra etanol foi banida do AE. É bom lembrar que no começo era simplesmente álcool: “Carro a álcool, você ainda vai ter um.”
• Automotivo (a) vem do inglês automotive, que em português deveria ser automotriz ou ‘automobilístico(a). Quem conhece eletrotécnica conhece a expressão força eletromotriz (electromotive force). Ficamos com automobilístico(a) e não abrimos mão disso.
Judiação, judiado, em respeito aos judeus.
SUV é sigla, em inglês, de sport utility vehicle (veículo utilitário esporte). Considerarmos impróprio usar uma sigla em inglês, até pensamos em “traduzir” a sigla para VUE, mas seria estranho. Como SUV é pronunciável (há que assim fale, da mesma forma que os fluminenses dizem CET e os paulistas, C-E-T), decidimos aportuguesar a sigla adicionando-lhe um ‘e’ passamos a usar o termo suve, que inclui o crossover., que por sua vez se confunde com o SUV.
Esta matéria não para aqui, haverá outras. Duvidas ou sugestões, comente ou escreva para autoentusiastas@autoentusiastas.com.br
BS