O primeiro carro híbrido foi obra de Herr Ferdinand Porsche em — acreditem — 1900, mas poucos compreendem seu funcionamento. Até porque o elétrico é simples: roda com energia de uma baterias e ponto final. A encrenca são os híbridos, todos com motores a combustão e elétrico, mas cada um de um jeito. Há quatro tipos de propulsão híbrida:
1 – Híbrido plug-in (plugável, carregável na tomada), que tem uma bateria bem menor que a do elétrico. Se o carro passar a noite recarregando-a, é capaz de rodar algumas dezenas de quilômetros eletricamente. Não queima, neste caso, uma gota de combustivel, pois é movido apenas pela bateria. Quando ela se esgota, entra em ação o motor a combustão. Entre outros, existe no Brasil o plug-in Golf GTE.
2 – O híbrido não plug-in (que não se recarrega na tomada) tem o Toyota Prius importado e o Corolla híbrido fabricado aqui como exemplos. Seus dois motores (combustão e elétrico) movimentam independentemente o carro, que pesa e custa muito menos que o plug-in, pois tem uma bateria ainda menor. Só com ela ele roda cerca de 5 km, enquanto o plug-in pode superar os 50 km. Aí a questão: se não se liga na tomada, como se recarrega sua bateria?
Pelo sistema de regeneração: cada vez que o motorista pisa no freio ou simplesmente tira o pé do acelerador, a bateria é recarregadas pelo motor elétrico que passa a ser momentaneamente gerador de energia elétrica. Ou seja, está-se aproveitando uma energia — a energia cinética, ou de movimento — que é desperdiçada no carro convencional e daí seu reduzido consumo, especialmente na cidade..
Há híbridos, como o Golf GTE, em que o motorista seleciona a função “Carga” e o motor a combustão, em uso no momento, aciona o motor elétrico que passa a gerador e recarrega a bateria.
Pulo do gato
Aí está o pulo do gato deste híbrido: cada quilômetro que roda apenas eletricamente tem consumo zero.
Mais ou menos o mesmo conceito do turbocompressor: sua turbina é movimentada pela energia dos gases de escapamento, totalmente desperdiçada nos motores de aspiração natural, também chamada de aspiração atmosférica. Por isso o motor turbo é muito mais eficiente que o aspirado, oferecendo maior potência — esta depende sobretudo do enchimento dos cilindros por ar, com combustível ou não — e menor consumo, já que o motor não precisa “fazer força” para aspirar ar por este chegar aos cilindros sob pressão. .
“De leve”
3 – A terceira solução, também sem cabo na tomada, é o chamado “mild hybrid” ou híbrido “de leve”…
Sua principal diferença é ter apenas um pequeno motor elétrico que, ao contrário dos outros dois híbridos, é incapaz de movimentar o carro, mas apenas “dá uma força” para o motor a combustão. Esse motor elétrico e fica localizado e permanentemente engatado entre o motor a combustão e o câmbio. Ele é:.
- Motor de arranque, porém muito mais eficiente e silencioso, pois tem cerca de 20 cv e não tem que se “acoplar” mediante engrenamento ao de combustão para acioná-lo e fazê-lo funcionar;.
- É um gerador de corrente elétrica acionado pelo motor a combustão que recarrega uma bateria de 48 volts (e ela alimenta a de 12 volts) pelo sistema de regeneração;
- É um motor elétrico auxiliar (alimentado por 48 volts) cuja potência se soma à do motor a combustão nas arrancadas e acelerações;
- Está integrado ao sistema start/stop e religa o motor nas paradas do carro;
São inúmeras suas vantagens: além de aumentar a potência e reduzir consumo e emissões, elimina o motor de arranque e seus sistema de engrenamento, um volume a menos no compartimento do motor., bem como o próprio alternador como conhecemos atrelado ao motor e acionado por polias e correia.
Há outra solução de “mild hybrid” além da descrita acima, que é um alternador de alta potência atrelado ao motor, como todo alternador, mas que funciona também como motor elétrico para dar a partida do motor a combustão por meio de uma robusta correia dentada. A bateria de 48 volts também é carregada por este alternador na regeneração descrita.
A Mercedes-Benz chama esse sistema de EQ Boost, também mild hybrid, e o aplica em vários modelos, inclusive no C 200 ((foto de abertura) com essa tecnologia produzido no Brasil; Audi, Kia, Volvo e outras fabricantes também o utilizam.
4 – A Nissan lançou outra solução. Seu híbrido Note e-Power é propulsionado somente por um motor elétrico cuja energia provém de um gerador acionado por um motor a combustão. Sua bateria é bem pequena e age apenas como “buffer”, um acumulador de energia que a repassa ao motor elétrico. O motor a combustão funciona em regime constante, portanto uma condição em que pode ser otimizado para máxima eficiência. É a mesma solução do Semper Vivus de Herr Porsche em 1902. A Nissan diz que a tecnologia e-Power chegará ao Brasil em 2021 no Kicks. O BMW i3 alcançava 170 km, mas na versão opcional REX (range extender, extensor de autonomia) quando a bateria se esgotava um motor a combustão bicilindro de 650 cm³ permitia rodar mais 140 km (a partir do ano passado passou de híbrido a veiculo elétrico puro, e com uma bateria de maior capacidade alcança cerca de 300 km).
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor..