Ao analisar os números do mês divulgados pela Anfavea e Fenabrave, notamos que maio repetiu abril em automóveis e comerciais leves e houve ligeira reação nos caminhões. Na reunião mensal da entidade com os principais cadernos econômicos e imprensa especializada, no último dia 5, Luiz Carlos Moraes não poupou realismo. O tombo nas vendas no acumulado do ano beira 40% e, caso as coisas sigam no rumo atual, isto é, sem rumo algum, eles apontam para uma queda de outros 40% até o final do ano.
Sem precedentes.
As vendas diárias estiveram inferiores a 3.000, obrigando a refazer a escala do gráfico. Desastroso.
A reação está algumas semanas à nossa frente em outros mercados. Nos EUA, maio fechou com pouco mais de um milhão de veículos leves, ou nas contas de base sazonal deles, cerca de 13,5 milhões no ano. Isto representa pouco mais 70% do volume comercializado em 2019. Há muitos fabricantes retomando dois, três turnos, portanto espera-se que junho seja ainda mais forte.
Aqui, observa-se analistas apostando em uma retomada bem mais lenta, culpando a instabilidade política. Este colunista mantém-se em silêncio discordante. Não vejo base para tais projeções, tampouco temores. A turbulência política nos acompanha há sete anos (desde os protestos de rua de 2013) e já estivemos em instabilidades bem maiores com o mercado em plena recuperação. Há um descolamento.
Os concessionários ainda não haviam reaberto as portas, de aí a semelhança com abril. Se observamos as vendas por região, a Sudeste, que no ano passado fechou com 55% de tudo o que se vendeu no país, em maio abocanhou só 26% do total e míseros 14% dos licenciamentos na mesma região da média de janeiro-fevereiro, que foram os meses pré-pandemia.
As vendas diretas também diminuíram consideravelmente e foram 28% dos automóveis, antes da pandemia superava os 40%. Em números, comparando maio deste ano com o de 2019, o canal de venda direta para automóveis vendeu 12.488 vs. 84.700 (-85%) e comerciais leves 5.352 vs. 24.946 (-79%). As locadoras costumam ser um dos maiores clientes das vendas diretas e vimos todos o quanto foram afetados pelas devoluções de veículos pelos motoristas de aplicativos (entenda-se Uber, 99, etc.). Este importante setor de atividade também irá requerer atenção para retomar rumo à normalidade.
Em junho a produção vem retomando gradativamente, algumas fábricas com um turno, outras com dois.
Enquanto na Alemanha, Itália, Espanha e França discute-se estímulos à indústria para acelerar a retomada, repetindo o que fora feito na grande crise de 2008-2009, aqui isso sequer foi aventado. A Anfavea carrega o fardo de ter um de seus ex-vice-presidentes em prisão domiciliar, envolvido no esquema de propinas com o ex-presidente Lula e seu filho caçula, porém isso não deveria desestimular que de seu quadro de executivos atual não desponte nenhuma voz para buscar soluções com o governo federal e estaduais. Uma renúncia fiscal de IPI/ICMS temporária traria impacto positivo ao consumo de forma imediata, fazendo a roda girar novamente. Remédio já usado com sucesso e que poderia ser repetido em situação semelhante. Desta vez sem propinas.
Após mais de 70 dias de concessionários fechados na maior parte do país, creio torna-se dispensável tecer comentários sobre desempenho de vendas de modelos ou marcas no mês de maio, todos eles estiveram a uma fração de seu habitual.
Este mês a nova Strada (foto de abertura) passou a ser produzida, assim como o Nivus da VW, que promete agitar o segmento de suves compactos.
Até mês que vem!
MAS