As colunas do Boris Feldman focam serviços nas concessionárias e empurroterapia, geralmente praticada por seus sus consultores técnicos e nos comentários há costumeiramente muita menção a esses profissionais. Sempre que leio ou ouço esse cargo me vem à lembrança uma decisão do saudoso comandante Rolim Adolfo Amaro, o comandante da TAM, que um dia deve ter dado um “basta!” e mandou colocar nos crachás da comissárias de bordo o cargo delas: aeromoça. Pronto, era o nome consagrado dos chamados “anjos do ar”. Sem mais dúvidas ou discussões, o chefe mandou.
Na minha visão quem recebe carros — recepciona — para serviço numa concessionária, justamente na área de recepção, é recepcionista.e sempre será. Ele até pode (e deve) ter conhecimento técnico, mas é um recepcionista acima de tudo. E o nome consultor técnico não é de hoje. Na década de 1970, quando eu era sócio de uma concessionária VW, já era usado esse nome de cargo, diretriz da própria fábrica.
Para ser consultor de qualquer coisa a pessoa precisa ter amplo conhecimento do assunto que se dispõe prestar consultoria, acho todos concordam com isso. Mas não é o que acontece e nem acontecia com os meus consultores técnicos. Na minha concessionária, eu, sócio-gerente e responsável pela assistência técnica, o consultor técnico era eu. Analogamente, concessionárias devem ter um consultor técnico no sentido amplo da palavra; pode até ser que muitas tenham.
O perfil desse funcionário é um tanto especial. Conhecer a técnica automobilística a fundo é essencial. O ideal é ter vindo da mecânica, ter formação profissional nisso é muito desejável, bem como conhecer eletrotécnica e eletrônica. Deve ser interessado em automóvel, entusiasta até. E dirigir bem, que junto com seus conhecimentos técnicos o habilitam a diagnosticar problema ao volante de um carro de cliente.
Um exemplo sem automóvel. Há anos, mais de 20, que sou cliente de uma oficina de computadores, a WJet. A recepcionista, Roselene, antiga na casa, tem o perfil descrito acima. Quando tenho algum problema telefono para ela, digo o que está acontecendo e, de pronto, ela me dá as possibilidades.e muitas vezes o preço do item e da mão de obra. Conhece o assunto. Começou por ela a minha fidelização. Claro, o serviço perfeito a preços compatíveis faz parte desse processo. Empurroterapia? Jamais.
Mas tudo isso é até certo ponto utópico. Uma pessoa esse perfil numa concessionária provavelmente seria um funcionário caro, fora da realidade do mercado.
A língua é viva
Acho que todos concordam, mas o que se vê a torto e a direito a sigla CEO, chief executive officer, o que mais manda na empresa. não é fácil. Os redatores mais cuidadosos (e menos preguiçosos) escrevem presidente ou presidente-executivo.
Outra “evolução” é usar capotamento em vez do tradicional temo capotagem, uma troca que nunca entendi. Outra é usar uma palavra para descrever diretor de escola de samba, antes destinada a folião: carnavalesco. Efeito da preguiça? A mesma para falar ou escrever um-ponto-zero em vez do correto um-vírgula-zero para separar a parte inteira da fracionária nos números decimais.
De montadora, dispensável falar.Basta um mínimo de atenção ao visitar uma fábrica de automóveis para ver que ali a atividade vai bem além de montar os carros.A imprensa não ajuda quando deveria, especialmente a falada e a televisiva: está acabando no país o uso do número ordinal: “É a pole de número 79 de Lewis Hamilton” impera sobre “É a septuagésima-nona pole de Lewis Hamilton”. Ou “o suspeito foi levado para a sessenta e quatro DP” no lugar de sexagésima-quarta DP.
Nada é mais irritante do que ouvir “Houve um acidente no caeme quarenta e quatro.” Olha a preguiça atacando o impune aí. Dizer ‘quilômetro quarenta e quatro” dá um trabalho danado…
Outra anomalia linguística incompreensível é usar ‘acontecer” para tudo, como “a corrida acontece neste fim de semana” ou “a apresentação de André Rieu aconteceu sábado passado”. Acontecer tem sentido de inesperado, fortuito, como “acabou de acontecer um acidente na rodovia dos Bandeirantes”
Jornalista televisivos, falando da TV Globo, acham OMS é sigla de Organização Mundial DA Saúde, quando na verdade é organização mundial DE Saúde. Ninguém na direção da emissora parece se tocar disso. Como também ninguém não percebeu que seus jornalistas estão pronunciando o impronunciável, como DNIT: dizem ‘denit’ em vez de D.N.I.T.. letra a letra. Será que acham igual a Fenit, a Feira Nacional da Indústria Têxtil, nesse caso pronunciável?
BS