Num mês em que o modelo mais vendido foi o VW T-Cross (foto de abertura), 80% dessas vendas foram pelo modal Vendas Diretas, incluindo PcD. Outro novato no ranking dos 10 primeiros foi o novíssimo Chevrolet Tracker nacional, com 6.070 unidades emplacadas e figurando na quarta posição na classificação geral e segundo no segmento. Quatro suves na lista dos 10 primeiros. Algo não está normal. Antes que concluísse esta coluna, soube que tanto a VW como a Chevrolet travaram novas ordens vendas por PcD por período indeterminado.
O Onix, que nos primeiros sete meses do ano passado havia faturado 43% desse modelo pelo canal de vendas diretas, com 59.354 unidades, em 2020 foram somente 17.775, 70% a menos, ou 25% de seu total. A desorganização das vendas, como estou definindo o momento, está espalhada por quase todos fabricantes e em todas regiões. Parece um deus nos acuda e não era para menos.
Com praticamente todas as lojas abertas, a luta pelos clientes é quem está definindo os números de emplacamentos, mas não se pode dizer que quem está na frente tem as melhores estratégias. Se 40% das vendas que desovavam pelo canal direto já era sinal preocupante, 80%, como no caso da T-Cross seria duplamente preocupante, não acham? A seguir assim, veremos casos de fábricas rodando 2 turnos e muito balanço vermelho no fechamento do ano. No jargão industrial diz-se que é fazer água.
Transpareceu também uma queda de braço dos fabricantes com o governo. No ímpeto de frear ainda mais as vendas PcD, o Executivo já vinha usando uma ferramenta bastante comum e sutil chamada represamento de valores. O limite para aquisição PcD com desconto de IPI e ICMS é 70 mil reais. Se dois anos atrás era um valor adequado para um suve, hoje estão em encostando na média dos 9 0mil reais e temos uma depreciação do real na casa dos 30% desde o início do ano. Com muito conteúdo importado em cada automóvel, 70 mil reais passou a ser sufocante. Mesmo com respiração trancada, os fabricantes tiveram poucos pedidos no varejo das lojas para desovar a sua produção e o resultado de julho foi que os dez modelos mais faturados pelas vendas diretas representaram 77% em média das vendas totais deles.
Como se não bastasse, o Executivo anunciou novas regras PcD que passarão a vigorar a partir de janeiro próximo. Assim, remover-se-ão da lista de possíveis beneficiários aqueles que têm anomalias consideradas leves. Como esperado, uma verdadeira corrida para garantir seu desconto de IPI e ICMS vem dominando a cena e aí se explica por que VW, Chevrolet e outros fabricantes vetaram novas vendas PcD, que pode ser entendido como excesso de pedidos de margens ruins no mix.
Na reunião com jornalistas, no último 7 de agosto, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea avisava que os números de vendas positivos não necessariamente significam que temos uma recuperação robusta em andamento. Cautela seria a palavra apropriada. Melhor no mercado de caminhões, julho foi 7% superior ao mesmo mês do ano passado e no segmento pesado, que tem os modelos que mais atendem ao agronegócio, os números foram ainda mais animadores, 16% melhor que jul’19. Ali os sorrisos abundam.
As vendas por região mostram onde a recuperação da pandemia está tomando mais tempo e recursos, também apresentamos uma tabela que a Anfavea mostrou na reunião do dia 7, com o comparativo dos emplacamentos por estado de ’19 com ’20, acumulado de sete meses.
Nota-se que Minas Gerais e Rio de Janeiro são os estados mais impactados da região sudeste, esta que normalmente detém 52~55% de tudo o que se vende no Brasil. No total, foram licenciados 174.498 veículos, sendo 163.083 leves, ainda 30% inferior a julho de ’19, porém, como dissemos, 30% de média não diz muita coisa. Há fabricantes que ainda amargam quedas superiores a 45%.
Agosto vem mostrando 16% de aumento sobre julho, ou seja, se o Brasil não foi daqueles que teve uma recuperação em “V” a nossa está sendo num “U”, o gráfico de vendas diárias ilustra essa visão.
RANKING DO MÊS E DOS PRIMEIROS SETE MESES
Na turbulência que tomou conta de nosso país devido à pandemia, a VW tem se saído pouco melhor e tomou a liderança do mês de julho, com 31.481 unidades, uma queda de 13% sobre julho de ’19. GM em 2º, Fiat logo atrás. A Hyundai também se destacou um pouco do 2º pelotão, aquele composto também por Ford, Renault, Toyota. A marca japonesa ainda não tem suves disponíveis no segmento queridinho do mercado, tampouco foco em vendas PcD, o que vem lhe custando algumas posições no momento.
Nos primeiros sete meses a GM mantém-se na liderança, com 162.494 e queda de 38% sobre mesmo período do ano passado, VW pouco mais próxima, com 155.691 (-30%), Fiat com 133.867 (-34%).
VW T-Cross teve recorde de emplacamentos, 10.211 e ultrapassou o Onix, que ainda segue à meia-força e teve 9.716 unidades licenciadas (-52% sobre jul’19), seguido pelo HB20, 7.852, depois Tracker com 6.070, Onix Plus, Compass, Argo.
As boas vendas do T-Cross já o figuram entre os 5 mais no ranking das vendas acumuladas.
Nos comerciais leves a Strada manteve-se líder ainda com o modelo antigo, praticamente. A nova Strada já está nas lojas e deve turbilhonar ainda mais o segmento, onde a marca italiana detém quase 50% de participação com seus dois modelos.
A pandemia tem trazido muitos problemas a todos, não seria diferente num mercado de produtos de alto valor. Nós do AE seguiremos acompanhando de perto. Vêm aí mais lançamentos e novidades.
Até mês que vem!
MAS