Recentemente fui convidado para participar da página do “AVC” no Facebook, e todas as boas recordações do contato de tantos anos com o “AVC” voltaram à mente, em especial da minha visita a Buenos Aires em agosto de 1996.
Ainda sobre a recepção no Facebook que recebi do Fernando Pisano, sócio-fundador do Argentina Volkswagen Club (fundado em 7 de maio de 1994), e presidente desta agremiação por muitos anos, reproduzo parte da saudação inicial: “Temos o enorme prazer e orgulho de comunicar-lhes que, do Brasil, se uniu ao nosso grupo (do Facebook) o Engenheiro Alexander Gromow, sócio Honoris Causa e simpático amigo do ‘AVC’.”
Em 1994, o recém-formado “AVC” logo fez contato com vários clubes VW do Brasil, dentre eles o Fusca Clube do Brasil que eu dirigia. Falei por telefone com o Fernando e trocamos correspondências, eu ainda não tinha acesso à internet. E o “AVC” foi incluído no distribuidor do boletim informativo do Fusca Clube do Brasil, o A Bananinha, que era emitido em português e inglês, e enviado para clubes de muitos países. A amizade foi se estabelecendo e finalmente surgiu a oportunidade de um encontro em Buenos Aires, aproveitando uma viagem a negócios que fiz àquela cidade.
As lembranças daquele evento, inicialmente já esmaecidas com o tempo, foram retornando, e, com a ajuda da documentação existente, tanto na Argentina quanto aqui, o quadro foi recuperando as suas cores. Afinal de contas lá se vão vinte e quatro anos!
Eu decidi pedir ajuda aos amigos do “AVC”, a saber, pedi-lhes relatos de nosso encontro, que serão publicados adiante.
O primeiro contato pessoal com um representante do “Argentina Volkswagen Club” foi feito em São Paulo, naquela oportunidade Don Jorge De Francesco, pai do Marcelo De Francesco, tinha vindo para participar de uma feira de autopeças. Neste contato pudemos trocar algumas ideias e ver que os ideais de ambos os clubes tinham vários pontos em comum, confirmando a afinidade que existia entre as agremiações.
Uma coisa que me calou fundo foi a minha chegada ao aeroporto de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, no dia 5 de agosto de 1996. Uma simpática comitiva me esperava, um cartaz com meu nome que o Marcelo De Francesco segurava. Além dele lá estavam a Sandra Sávio e o Diego Reboredo. Seguindo o costume local, fui recebido com um beijo na face, que selou a nossa amizade imediatamente.
O então presidente, Fernando Pisano, se recuperava de uma pneumonia e estava seguindo orientação médica de ficar em casa. Mas, apesar disto, ele me recebeu em seu apartamento para uma breve visita, que incluiu uma ida à garagem do prédio para conhecer o seu VW Fusca alemão 1961 azul com teto solar de fábrica:
A empatia foi imediata. Tive a oportunidade de passar para ele um exemplar do livro “A História de um Símbolo” e este momento foi registrado na foto:
O Fernando Pisano, já naquela época, possuía uma respeitável biblioteca, com livros de várias procedências, que foi ampliada com o livro “A História de um Símbolo”. Como na casa de todo o fuscamaníaco que se preze, ele também tinha uma grande coleção de miniaturas e mementos Volkswagen. O seu filho mais velho, o Fernandinho, me presenteou com um desenho de Fusca. Aliás, dos seis filhos, foi ele que herdou o amor pelos Fuscas.
Saindo de lá nos encaminhamos para o restaurante “The Horse” para o jantar. Este restaurante era o local das “Reuniones de Camaradería” (Reuniões de Camaradagem) do clube realizadas nas primeiras segundas-feiras do mês. A caminho passamos pela loja especializada em peças Volkswagen da família De Francesco, que se chamava Kefran. Na foto abaixo o luminoso grande, na verdade, trazia o nome Volkswagen em letras grandes, mas a luminosidade acabou ofuscando-o (tempos antigos, fotos em negativo e ampliação em papel):
No caminho paramos para um “pit stop” para o carro do Diego Reboredo, um VW Fusca alemão 1962 também com teto solar de fábrica, que necessitou de um reabastecimento:
O jantar, no “The Horse” transcorreu num clima de harmonia e as conversas giraram em torno da organização de clubes de VW Fusca. Também houve troca de presentes — na foto abaixo o grupo que se reuniu, a Sandra Sávio não aparece pois foi ela quem fez a foto:
Ainda durante o jantar falamos sobre o plano de se promover o “1º Encontro de Fuscas do Mercosul”, que deveria ter sido realizado em Foz do Iguaçu, contando com a participação de representantes do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. As portas estariam abertas para o pessoal do Chile, Bolívia e Peru, mas certamente a distância teria sido um problema. Infelizmente este encontro ainda não ocorreu, quem sabe ele venha a se realizar algum dia.
Na saída do jantar pude conhecer mais dois Fuscas, o 1967 1500, alemão, branco de Pablo Müller e o 1957, preto, oval de John Leslie Barr, cujas fotos seguem abaixo:
No dia de minha partida de Buenos Aires ainda foi possível um encontro com o Fernando Pisano e o Marcelo De Francesco para o almoço e muito bate-papo.
O Fernando foi me buscar de Fusca no Plaza Hotel onde eu estava hospedado:
De lá fomos até o escritório do Fernando que na época ocupava a posição de promotor em tribunais:
Foi perto do escritório do Fernando que foi tirada a foto de abertura, ai ele já estava paramentado para a temperatura bem amena que fazia naquele dia (e para quem convalescia de uma pneumonia…). Por falar na foto de abertura, os mais detalhistas já devem ter visto o dirigível que, por coincidência, aparece perto da ponta do obelisco; ele estava a fazer propaganda da empresa láctea “La Sereníssima”.
Aí fomos almoçar um legítimo “bife de chorizo” argentino no Restaurante 9 de Julio na famosa Calle Florida (rua Florida). De lá passamos por uma loja de Alfajores (biscoitos argentinos com muito doce de leite) Havana. Também fomos a uma loja de miniaturas, mas esta parte o Fernando vai contar em seu depoimento.
Em tempo, o meu Fusca também ganhou um presente do Fernando, uma cobertura metálica original para a bateria, uma raridade. Ela é pintada de preto e tem um revestimento de cartolina impregnada em seu interior.
As reportagens nos boletins dos clubes
O encontro em Buenos Aires foi registrado tanto pelo Boletín del “AVC” como pelo A Bananinha. Abaixo a reportagem do “AVC”:
A reportagem no A Bananinha é maior e decidi carregá-la no sistema de leitura ISSUU que pode ser acessado neste link .
Os depoimentos
Para ter uma informação de como o pessoal do “AVC” vivenciou o nosso encontro, pedi que fossem enviados testemunhos Com muita alegria, recebi testemunhos do Juan Carlos Luciani, do Marcelo De Francesco e do Fernando Pisano. Apresento estes depoimentos na ordem que foram recebidos:
Juan Carlos Luciani
“O que posso dizer é que foi uma segunda-feira, pois foi em uma reunião do “AVC” (Argentina VW Club) em 1996. As reuniões eram na 1ª segunda-feira de cada mês.
Costumávamos nos encontrar em um restaurante (The Horse) na Av. Del Libertador General San Martín, desde a fundação formal do “AVC” em 1994.
Realmente, fiquei impressionado com a simplicidade e grande entusiasmo de Alex por nosso amado Fusca; foi também um encontro muito interessante, onde tiramos muitas conclusões sobre como organizar o movimento VW refrigerado a ar na Argentina.
A partir daí, tomamos um novo elam e o movimento ganhou muito impulso na Argentina, tendo uma sede do clube no bairro de Belgrano.
Tive muita empatia com Alex no sentido de compartilhar não apenas um hobby comum, mas também uma profissão relacionada. Guardo, além dessas experiências, a lembrança que você nos deu com tanta generosidade.
Você tem um vídeo de uma entrevista onde justificou a fabricação de Fusca para um país do 3º mundo derrapando para o 4º; era absolutamente verdade. Hoje nosso país derrapa para o precipício.
Espero que estejas bem com os seus e te envio um forte abraço refrigerado a ar.
Juan Carlos”
Marcelo De Francesco
“Olá Alex. Ótima lembrança sua de quando você veio nos visitar. Todos nós ficamos muito atentos às suas palavras, aproveitando estar com o presidente do maior clube Volkswagen do mundo e com a sorte de você falar um espanhol perfeito.
Lembro também que quando você chegou não te demos praticamente tempo, levamos você para o hotel, depois para visitar o Fernando Pisano, que naquela noite não pôde estar na reunião, estava saindo de um problema respiratório e daí para The Horse, antiga sede das reuniões mensais abertas. Também passamos pela “Loja Volkswagen”, empresa da minha família, Kefran.
Obviamente, aproveitar toda a sua experiência no que se refere ao assunto, embora já estivéssemos entusiasmados há muito tempo, fazia apenas dois anos desde que começamos com o clube.
Também lembro e agradeço por ter conhecido meu pai em São Paulo, ele ficou muito feliz em te conhecer.
Também me lembro de ter almoçado com você e com o Fernando em frente ao escritório dele e, claro, continuando a conversar e se entregar às histórias Volkswagen.
Uma frase de Gromow, para as esposas que não querem que passemos muito tempo com nosso Volkswagen: É melhor ter uma rival de quatro rodas do que de duas pernas, essa frase tem ajudado a muitos a dedicarem mais tempo aos seus veículos, hahahaha.
É realmente um prazer poder falar com você hoje, após 24 anos, como se o tempo não tivesse passado.
Te mando um grande abraço
E obrigado por me contatar.
Marcelo De Francesco”
Fernando Pisano
-Circunstâncias anteriores-
“Há vinte e quatro anos, logo após o nascimento do Argentina Volkswagen Club, tivemos o enorme prazer e orgulho de receber na Argentina o Engenheiro Alexander Gromow, então presidente do Fusca Clube do Brasil.
Tudo começou algum tempo antes, quando entramos em contato com ele pelo correio tradicional (e-mail ainda não era uma opção difundida) dado seu caráter como uma referência indiscutível no mundo do VW clássico e vindo do país irmão Brasil e dono de uma cultura “fuscamaníaca” comprovada.
Éramos um grupo de seis entusiastas (John Barr, Juan Carlos Luciani, Fabián Benzaquén, Marcelo De Francesco, Antonio Estévez e Fernando Pisano) que meses antes fundaram o Argentina Volkswagen Club. Portanto, estávamos ansiosos para aprender o máximo possível sobre a organização, desenvolvimento e difusão do cenário clássico da VW pela primeira vez na Argentina.
Alex era a cabeça visível de todos os VWs refrigerados a ar no Brasil, e sob sua liderança eficiente o Fusca Clube havia alcançado justa fama e reconhecimento mundial. Sob sua orientação, o Fusca Clube poderia se orgulhar de ter reunido a maior concentração de VWs refrigerados a ar na pista de Interlagos, publicado a interessante revista institucional A Bananinha” que devoramos, ter estabelecido uma relação cordial com a VW do Brasil e acima de tudo Alex foi a alma mater do Dia Mundial do VW Fusca instituído por sua iniciativa durante um encontro internacional da especialidade na cidade de Bad Camberg, na Alemanha, berço do movimento VW vintage.
Com todos aqueles pergaminhos a reboque, entrar em contato com ele foi como tocar o céu do mundo VW clássico que queríamos acessar com o “AVC”. Foi muito frustrante que apenas alguns de nós podíamos vê-lo em revistas distantes como Hot VW e VW Trends com pouca circulação em nosso país.
Portanto, nossa surpresa foi grande quando Alex teve a gentileza de se comunicar por telefone de longa distância para responder pacientemente a cada uma de nossas preocupações fundamentais. Sempre com palavras sábias e justas, ele foi nosso irmão mais velho nos anos em que o movimento VW clássico se estabeleceu na Argentina.
A celebração do “seu” Dia Mundial do Besouro foi motivo de comunhão e camaradagem para todos os grupos VW na Argentina.
Portanto, não esquecemos o quanto devemos a você aqui a este respeito. Se conquistamos algo de bom depois de todos esses anos, muito disso se deve à sua pregação inteligente e generosa durante aqueles começos felizes. É bom que isso seja conhecido entre as gerações atuais e futuras, que continuam com entusiasmo o legado transmitido pelo ‘AVC’.”
-O Encontro na Argentina-
Em agosto de 1996 a vida nos deu a oportunidade de conhecer Alex pessoalmente durante sua estada na Argentina por ocasião de suas atividades para a empresa Siemens.
Foi então que, abrindo um espaço com uma agenda lotada, pudemos conhecê-lo pessoalmente e entretê-lo como ele merecia durante uma reunião de camaradagem no já extinto restaurante “The Horse” e no dia seguinte na churrascaria “9 de Júlio” na rua Florida. Foi nesta última ocasião que tive a imensa honra de conhecê-lo pessoalmente melhor.
A generosidade, afabilidade e gentileza de Alex para com todos os presentes superaram em muito todas as expectativas, suas palavras de conselho, incentivo e elogios foram precisas e inesquecíveis. Por sua vez, para o AVC foi um apoio considerável e explícito de uma referência mundial muito importante no cenário VW.
Pessoalmente, posso acrescentar que ele até teve a deferência de me visitar na minha casa onde eu estava saindo de uma pneumonia-surpresa que me prendeu em casa. Assim ele foi capaz de conhecer minha família, incluindo meu Fusca, meus livros sobre VW, peças de reposição raras, e miniaturas. Há muitas fotos que guardam para sempre a alegria daquele momento íntimo e agradável que ambos valorizamos com cuidado.
Nos ter conhecido pessoalmente coroou de forma perfeita e imediata o grande carinho e respeito que já tínhamos a distância. Por isso, qualquer demonstração de afeto por ele parecia pequena, e o tempo que tínhamos para mostrar isto a ele era escasso.
Contudo, e esquecendo a pneumonia, pudemos ir juntos a uma casa modelos em escala, (onde ele me deu um furgão VW da firma Solido com as cores da Coca-Cola), ver o meu gabinete na Justiça, ver o obelisco, partilhar esse almoço lembrado na churrascaria “9 de Júlio” onde lhe fizemos degustar carnes argentinas e depois lhe demos uns bons alfajores Havana que lhe pareceram muito doces.
Foram muitos os tópicos e experiências que discutimos nessas poucas horas. A sintonia foi completa.
Além de tudo isso, Alex me honrou, dedicando-me o livro “A História de um Símbolo” que mantenho em lugar preferencial em minha biblioteca VW e ao qual ao longo dos anos se juntou o grande sucesso “Eu amo Fusca” I e II, que ele me enviou com dedicatórias especiais.
Hoje, suas pesquisas exaustivas e análises abrangentes sobre VW e automóveis em geral que acompanhamos com grande interesse “on line”, nos permitem estar perto dele e valorizar seu vasto conhecimento nesses assuntos. Certamente os avanços tecnológicos reduziram muito a distância e as voltas da vida,
Como sempre digo nesses casos, muito tempo, até anos, podem passar sem que falemos com Alex, mas quando o fazemos ou o contactemos por qualquer meio, toda aquela distância e tempo decorrido se dissipam imediatamente como se nós tivéssemos nos visto no dia anterior.
Por isso, é um orgulho conhecê-lo como amigo de longe e poder se orgulhar de tê-lo conhecido pessoalmente durante sua inesquecível visita à Argentina.
Fernando E. Pisano (sócio fundador da Argentina Volkswagen Club, 1994) setembro de 2020.”
Foi com muita alegria que eu redigi esta matéria. Agradeço a participação do pessoal do “AVC” e os elogios que eles me deram, os quais recebo com humildade. Fico orgulhoso em ter podido participar com minhas dicas para a estruturação do “AVC”. Fico torcendo pela oportunidade de rever esta turma bacana de amigos argentinos.
AG
Meus agradecimentos ao amigo Fernando Pisano pela colaboração neste trabalho e pelo depoimento; e aos amigos Juan Carlos Luciani e Marcelo De Francesco pelos depoimentos que enriqueceram o trabalho
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