Não. Poderá reduzir seu faturamento pois o motor elétrico tem apenas uma peça móvel, enquanto o térmico (que queima combustível) tem centenas. Quem tem aparelho eletrodoméstico, bomba de água ou qualquer outra coisa movida eletricamente, sabe que dificilmente ele quebra. Só os outros componentes se desgastam ou emperram e — neste caso – queimam o motor.
No automóvel atual, enquanto o motor a combustão exige regulagens (embora praticamente nenhuma hoje) e troca de componentes, os elétricos (que acionam limpadores, arranque, vidros, teto solar, etc) raramente pifam.
Entretanto, as oficinas serão sempre solicitadas, pois um automóvel não é levado para revisão apenas em função do motor.
Suspensão – O carro será elétrico, mas continuará exigindo sistemas cada vez mais sofisticados de suspensão, que exigem alinhamento e revisões. Tão cedo não irão dispensar amortecedores, molas ou congêneres.
Direção – Curvas e esquinas continuarão sendo um desafio a ser vencido pelo motorista. E pelo menos duas rodas deverão continuar direcionais. Quatro, às vezes. Todas exigem balanceamento. Com pneus que terão desgaste até maior que o atual, pelas acelerações muito superiores resultantes do torque constante e descomunal do motor elétrico.
Freios – Deverão oferecer durabilidade ampliada pela possibilidade de se reduzir a velocidade do carro elétrico pelo sistema de regeneração de energia. Já é possível ao motorista regular a intensidade de “frenagem” elétrica por comandos ou pelo próprio pedal do acelerador. De qualquer maneira, será impossível eliminar o atual sistema convencional de freios, uma vez que a frenagem regenerativa não tem potência suficiente para freadas mais fortes e, assim, exige troca de pastilhas (foto de abertura), discos, lonas ou tambores.
Reparo – Ainda não chegamos (e vamos demorar…) ao carro autônomo. Até lá, o elétrico será conduzido pelos mesmos motoristas inexperientes, desatentos, irresponsáveis, cansados, sonolentos, alcoolizados ou drogados. Acidentes continuarão ocorrendo e os automóveis levados a oficinas especializadas para reparo (funileiros, lanterneiros, chapeadores e pintores).
Eletricidade – Vai continuar chovendo às vezes, escurecendo diariamente e nada indica que limpadores de para-brisa ou faróis serão substituídos por alguma modernidade além de seu acionamento automático. Vidros, tampas, bancos, espelhos, teto solar, toda essa parafernália tem acionamento elétrico. Poderão até — o que seria irônico — perder o motor elétrico (….) substituído por uma espécie de cabo que encolhe e estica ao receber uma corrente elétrica.
Climatização – Ainda não se inventou nada melhor que o aparelho de ar-condicionado para refrigerar o ambiente. Passa por evolução, deverá ser acionado diretamente pelas baterias, mas vai continuar gerando calor que será eliminado por um sistema de arrefecimento. Então carro elétrico tem radiador? Sim, ou assemelhado…
Em compensação…
Fim das dezenas de peças de vida útil limitada no interior do motor. Nada de válvula, tucho, balancim, árvore de comando, pistão, bronzina, virabrequim, biela, correia, corrente, vela, polia, bicos injetores, suportes.
Nem bombas de água, combustível ou óleo, motor de arranque, alternador, ventilador, cebolinha, cebolão, catalisador, filtros de ar, combustível ou óleo. Nem escapamento ou silenciadores que enferrujam.
Nem caixa de marcha, embreagem, disco, platô e rolamento. Nada de troca de óleos ou fluidos…
Óleo vazando ou queimando, água fervendo, junta queimando.
Nem tudo são flores no carro elétrico
A recarga será facilitada no futuro, mas dificilmente tão prática como a do combustível líquido. A tentativa de se trocar no posto a bateria descarregada por outra plena não funcionou.
A própria bateria tem uma longa vida útil (calcula-se em cerca de 8 anos, com a atual tecnologia), porém o custo de substituição, por enquanto, é muito elevado. Vale quase a metade do carro. Exige um sofisticado sistema de arrefecimento, com radiador, bomba d’água e tudo para evitar temperatura excessiva e risco de incêndio. Vários já ocorreram.
Ainda é uma dúvida se o conceito da fuel cell (pilha a combustível) será aplicável a automóveis, em substituição à bateria. Por ser volumoso e pesado, está sendo restringido a veículos de carga. Mas já rodam carros fuel cell produzidos pela Honda, Toyota e Hyundai. Que se abastecem de hidrogênio, no posto. No Brasil, poderão receber álcool e dele se extrair o hidrogênio.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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