É preciso muita imaginação para adivinhar a exclusividade deste 1500 conversível da foto, mesmo que se saiba que apenas 394 unidades do modelo foram produzidas pela Porsche em 1953. O motivo desse carro em particular ser especial está escondido sob a pintura marfim original é sua carroceria de alumínio. Fabricada pela Karosseriewerke Reutter há 66 anos, trata-se de uma descoberta incomum. Afinal, alumínio tem sido usado tradicionalmente para tornar os veículos mais leves — ou pelo menos cupês — e ágeis para que vençam corridas. Mas, um conversível?
Após seis anos de muito trabalho, esse exemplar único foi restaurado à perfeição — sob o olhar atento do famoso engenheiro da Porsche, Rolf Sprender, que foi quem criou o departamento Exclusive na Porsche destinado a atender pedidos individuais dos clientes. Foi uma tarefa hercúlea porque este carro era de uso diário, mas também porque restaurar um carro que só teve uma unidade produzida apresenta seus próprios desafios, ao mesmo tempo em que aparecem muitas dúvidas durante o processo,antes inexistentes. Como a equipe que construiu o carro originalmente resolveu o problema de corrosão por contato entra a estrutura de aço e a superestrutura de alumínio, por exemplo?
Mas voltando à pergunta: “Por que um conversível de alumínio?” Como uita pesquisa nos arquivos da Porsche e da Reuttter não respondeu à pergunta, só resta especular. Uma possibilidade é um membro da Associação de Engenheiros Mecânicos (VdM, a sigla em alemão), fundada em Colônia em 1892 , ter encomendado o carro nesta configuração, provavelmente por querer saber se produção em alumínio em pequena escala valeria a pena. Mas já não pode mais ser verificada.
Se foi isso mesmo que aconteceu, uma volta à ainda jovem história da Porsche teria sido suficiente para ver as dificuldades associadas que podem ter sido enfrentadas caso a produção, após as primeiras unidades em alumínio feitas em Gmünd, fosse transferida para Zuffenhausen, onde foi tomada a decisão de produzir as carrocerias em aço por serem mais leves, de menor custo e mais fáceis de construir.
O infeliz destino dos quinze 356 America Roadster produzidos em 1952 (além de um Roadster com carroceria de aço) não promoveu realmente o uso do material. Neste caso, os altos custos de produção desse precursor do Speedster resultou na empresa responsável — Glaser-Karosserie GmbH — entrar em recuperação juidicial. Ferry Porsche mais tarde escreveria em suas memórias que a Reutter não era muito dada a soldar carrocerias de alumínio, sugerindo terem havido discussões sobre o assunto, mas sem pedidos além deste conversível.
O carro foi entregue ao bem-conhecido concessionário Porsche, Glöcker, de Frankfurt, em julho de 1952, mas pouco se sabe de sua história inicial. Seu rastro só é retomado no Reino Unido nos anos 1970. quando foi oferecido em Gloucester pelo preço de 1.000 libras esterlinas. “Histórico e único Porsche Conversível Tipo 356,” dizia o anúncio. “Carroceria de alumínio produzida por encomenda única à Reutter, Zuffenhausen, março 1953, pintura branca imaculada, novo acabamento interno cinza, novo estofamento vermelho e nova capota preta, tudo no padrão original.
Legenda da foto ao lado: Esportivo e confortável: visto dos luxuosos bancos em couro vermelho, o painel simples é um deleite ainda maior
Restauração foi a condição
Em algum momento o carro voltou à Alemanha, onde o atual proprietário pôde comprá-lo com a condição de algum dia restaurá-lo e não colocá-lo de lado como investimento especulativo. O comprador honrou o acordo de cavalheiros e seis anos atrás um time foi formado de modo a garantir que a complexa restauração fosse realizada da maneira mais perfeita possível.
A missão de coordenar as várias fases foi, como esperado, dada ao engenheiro Rolf Sprenger, que não apenas sabia tudo o que é necessário sobre veículos antigos, mas tinha os contatos certos com as empresas certas. E todas elas preparadas para lidar com as mais complexas tarefas. Um ponto era claro: “Qualidade sempre vem antes da rapidez” e isso levou a milhares de horas de trabalho durante seis anos.
Surpreendentemente, o conversível foi usado no dia a dia por muitos anos, sofrendo muito a ação do tempo. “Logo no início do trabalho foi claro que este veículo único tinha de ser completamente desmontado.”, lembra Sprenger, “e mesmo que o carro estivesse completo, tivemos naturalmente que inspecionar cada peça e ter certeza de que ela estava funcionando perfeitamente” Desnecessário dizer que dúvidas e problemas surgiram durante a pesquisa da equipe. Como a corrosão por contato poderia ser evitada? Por que o mecanismo dos bancos não funcionava como devia? E, não por último: “Como poderemos manter o máximo possível da velha substância e restaurar o veículo para sua condição original novamente”.
Essas dúvidas foram sendo esclarecidas passo a passo — levando a um resultado notável e a uma peça única da história da Porsche o que demonstra como a fabricante estava disposta a explorar novos métodos e a atender vontades especiais mesmo num estágio inicial. Este veículo especial revela também a história de um entusiasta, que reconheceu uma verdadeira joia muitos anos atrás.
Ficha técnica
Motor: quatro-cilindros boxer Tipo 546
Cilindrada: 1.488 cm³
Diâmetro dos cilindros e curso dos pistões: 80 x 74 mm
Gerenciamento de mistura ar-combustível: carburador Solex 32 PBJ de fluxo descendente
Ignição: distribuidor Bosch VE 4 BRS 383
Potência máxima: 55 cv a 4.400 rpm
Entre-eixos: 2.100 mm
Velocidade máxima: 160 km/h
BS
Nota: Esta matéria foi divulgada hoje pela Porsche AG, em inglês. Tradução do AE.