Dois anos após interromper uma separação de 13 anos, Carlos Col (foto de abertura) deixa novamente o comando da Vicar, empresa que ele criou no século passado. Ex-piloto e campeão brasileiro da Classe B (a precursora da Stock Light) Col assumiu a Stock Car em um momento de crise, ponto de partida para reformular as bases daquele que é hoje o campeonato mais longevo do País e que concentra as maiores equipes e orçamentos. Após dois anos em que foi chamado para apagar um incêndio de proporções mais do que simplesmente significativas, Col ganhou a companhia de Fernando Julianelli, publicitário que agora assume seu lugar. A alteração não significa um adeus à sua, por assim dizer, criatura: a partir de agora ele passa a cuidar dos aspectos técnico e desportivo e volta a se dedicar à sua empresa Mais Brasil que este ano terá como produtos de apoio à Copa Truck, seu principal evento, os calendários da Copa HB20 e GT Sprint Race.
Diante de uma relação tão forte não chega a surpreender que deixar a Vicar, empresa identificada pela junção de Virginia e Carlos (nomes do promotor e de sua esposa), não tenha sido algo tão tranquilo quanto sugere o comunicado de imprensa distribuído ontem.
“Obviamente não foi um processo tranquilo, é sempre motivo de tristeza, você sabe meu amor e ligação com a categoria”, admite Col em raro momento de descontração, “mas estou fazendo tudo para que essa transição gere o menor impacto possível parta categoria.”
Nas últimas duas temporadas Carlos Col tratou de recuperar a queda de audiência e de negócios herdada pelos dois anos que Rodrigo Mathias esteve à frente do negócio. Vindo de um setor voltado a shows e festivais de música, Mathias tentou mudar muito em pouco tempo e não foi bem sucedido. Daí surgiu o convite para que o experiente promotor ser convidado pelo grupo T4F para reassumir o comando que tinha entregue a Maurício Slaviero em 2009. Em meados do ano passado o grupo de entretenimento liderado por Fernando Autério resolveu abrir mão da Vicar e vendeu sua participação majoritária para o grupo United Partners. Em meio à uma reestruturação de calendário e adequações técnicas aconteceu a incorporação de outros profissionais, entre eles o publicitário Fernando Julianelli, vindo da Mitsubishi.
As duas temporadas em que desenvolveu o projeto de renovação dos carros da categoria, incluindo o desembarque da Toyota e resgatar uma temporada que teve chances concretas de não se realizar, situação que teria aniquilado equipes e muitos empregos. “Tive uma responsabilidade muito grande nas costas”, admite o “Car” da Vicar. A partir de agora, ele dá adeus a empresa e ao assumir um posto no conselho consultivo encontra tempo para cuidar da empresa que formou quando foi convidado a assumir a promoção da Copa Truck, a Mais Brasil Esportes. As sete provas do calendário que dividirão autódromos com a Copa HB20 e a GT Sprint Race, outras duas categorias sob seu comando, vão ocupar o tempo que até então era dedicado a questões financeiras, contábeis, jurídicas e que tais. Carlos Col só aparecerá na Vicar para atuar como consultor nas áreas técnica e desportiva.
Nome regularmente mencionado como possível presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Carlos Col afirma que não acompanhou o processo eletivo recém-terminado e onde a oposição se recusou a participar.
“Realmente volta e meia falam do meu nome e até pedem que eu me candidate. Não fiz nenhum movimento nem participei do recente processo eleitoral, fiquei completamente à parte.., mas daqui a quatro anos tem outra eleição.”
Col diz conhecer muito pouco Giovani Guerra, recém-empossado presidente para esses próximos quatros anos, e que só conversou com ele por telefone “umas duas vezes”. Ainda assim afirma que estará sempre disposto a colaborar, fazendo críticas e elogios “com isenção e com objetivo saudável.” Alguém com sua experiência e cada vez mais próximo dos 70 anos certamente tem claro o que julga necessário para tornar o automobilismo mais forte:
“Se pensarmos na expansão de pilotos precisamos de um planejamento de médio e longo prazo, e isto sempre foi uma deficiência do nosso automobilismo, executar um trabalho integrado entre a CBA e as gestões estaduais. O que atrapalha são as questões políticas, privilégio que não é do automobilismo, mas do Brasil como um todo…”
Outros pontos que devem ser trabalhados é executar workshops e disseminar conhecimento entre equipes e construtores, processo onde incluir o compartilhamento de questões técnicas pode ser um caminho inicial interessante. Tão importante quanto é manter uma visão de orçamentos e alinhamento de interesse que se traduza em mais segurança e eficiência e racionalização de custos. Sobre a explosão da internet, fenômeno que gerou diversos canais de divulgação do esporte, Col tem uma visão bem pragmática:
“O meio digital é sem dúvida relevante e isso tende a aumentar. Porém, tudo que é pulverizado em excesso também tem um lado negativo: um número muito grande de veículos disputa um mercado restrito. Nesse processo muitas vezes a concorrência saudável é deixada de lado e gera resultados não tão positivos.”
WG
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