Recebi recentemente um e-mail de Luciano Hernandez Gonzalez Júnior, que trabalha na engenharia de uma fabricante de automóveis, mas veremos maiores detalhes na apresentação dele no fim do causo. Ele acompanha o meu trabalho e de vez em quando comenta matérias da minha coluna “Falando de Fusca & Afins”. Ele disse que “Já nos falamos pessoalmente algumas vezes (Box 54, Salão do Automóvel de 2018) e eu gostaria de te enviar um causo interessante chamado ‘O Fusca do Valdemir”. Pois não é que o causo é interessante mesmo?
O Fusca do Valdemir
Por Luciano Hernandez Gonzalez Junior
Aos que me conhecem, sabem que eu possuo alguns Volkswagen mais antigos, e fora estes, sempre estou ajudando algum amigo que também os possui também, seja ajudando na manutenção, na compra de peças, etc. sem contar os Besouros do meu sogro Erivelto (1600 de fábrica 1976) e do cunhado Messias (1300 com motor 1600, também 1976).
Inevitavelmente apareço com estes carros no condomínio onde moro e lá temos um servente chamado Valdemir. Ele sempre dá uma parada para saber dos Volkswagens mais antigos com os quais eu apareço, mas ele fica fascinado mesmo é com os Fuscas.
Em uma manhã de dezembro último eu estava na piscina do condomínio com minha filha e ele foi chegando e puxando conversa sobre carros e me perguntou se eu sabia da existência de algum Fusca para vender.
“Caramba, Valdemir, Fusca bom é caro! Não lembro de nenhum não, mas vou pensar em alguma coisa.”
Ele disfarçou, mas ficou meio cabisbaixo e saiu.
Fui para a casa e fiquei com aquilo na cabeça, até que tirei um coelho da cartola. Lembrei que um amigo de longa data tinha um Fusca 1972 que estava há muito tempo com ele, coisa de uns 20 anos. Tentou vender, mas não fez muita força, talvez porque houvesse algum sentimento para com o carrinho.
Passei a mão no telefone e liguei para ele:
— Rodrigo, você ainda tem aquele Fusca?
— Tenho sim!
— Quer vender?
— Vender??? Se quiser eu te faço uma doação. Ele está lá na empresa encostado desde março.
— Coloque preço, Rodrigo, tenho alguém para ele. Mas como está o carro?
— Faz muito tempo que não o vejo. Ah, ele é transformado para “Fafá”, é bom de assoalho e razoável de carroceria. O motor é novo, carcaça 0-km, 1600 a álcool, dupla carburação. Documentos OK e quatro pneus novos.. Tenho que colocar uma bateria nova e arrumar o motor de arranque.
—- Certo, põe preço.
— R$ 1.500,00 está bom?
— Faça o seguinte: troque a bateria, arrume o motor de arranque, faça os ajustes necessários para ele rodar e entregue o carro documentado por R$ 2.500,00. O que acha?
— Fechado!
Falando um pouco do carro, o Rodrigo comprou-o quando tinha 18 anos de idade (hoje, 37) por intermédio do seu pai, Messias. O carro à época pertencia à um mecânico amigo do pai do Rodrigo. Abaixo, algumas fotos do interior do carro:
Mas, eu conhecia esse carro bem antes de pertencer ao Rodrigo. Coisa de uns 30 anos atrás ele pertencia a um senhor que mora no nosso bairro. Ele montava uns carros bacanas para si;, fazia tudo, desde funilaria e pintura até o acabamento. Salvo engano, fazia tudo em casa.
Ele na época fez o carro do zero, transformou-o em “Fafá” e adaptou um painel de Gol primeira-série (1980–1986) no Fusca. Isso chamava a atenção de muitos que gostavam de carro nesse tempo — inclusive eu, nos meus 12 anos.
Esse carro era muito vistoso e bem-feito, mecânica 1600 com dupla carburação, escapamento de Puma e alguns acessórios de época. Porém, em 30 anos muita coisa se passou na vida deste Fusca.
Lembro-me deste senhor quase que simultaneamente montar um Brasília da mesma cor, com as mesmas rodas de liga leve e o mesmo painel de Gol adaptado, chamando muito a atenção na época.
Retornando ao causo, passados alguns dias o Rodrigo mandou o guincho buscar o velho besouro na empresa e o enviou a um eletricista amigo meu, o Júlio Mitsuo, que deu um trato na parte elétrica.
De lá, foi para a oficina de outros amigos nossos, o Luizinho Manzini e seu filho Ricardo. Lá foram feitos mais alguns ajustes na carburação, pois o carro estava há quase um ano parado.
De lá, foi direto para a vistoria que hoje se faz necessária, mas o carro foi reprovado devido ao offset das rodas de liga leve de época que estavam montadas no carro.
Batemos um papo e definimos que íamos montar um Jogo de rodas de Brasília, isto atenderia o offset desejado a um preço em conta, sem contar o aspecto visual agradável (até porque algumas versões do Fusca utilizaram essas rodas, tais como o 1600-S, Fuscas Série Especial e Love).
O Rodrigo foi atrás e achou um jogo pertinho de casa, montou no carro, levou o carro novamente para a vistoria e dessa vez o velho besouro passou sem problemas.
No dia 10 de fevereiro último o Rodrigo entregou o Fusca para o Valdemir.
E o Valdemir, como está? Está dando pulos de felicidade! Arrumou uma vaga aqui no prédio com um morador e leva todos os mais chegados para darem uma olhada no seu Fusca!
Nada como poder fazer alguém feliz fazendo o bem!
O Luciano Gonzalez por ele mesmo
Meu nome é Luciano Hernandez Gonzalez Junior, tenho 42 anos, sou casado e tenho uma filha.
Sou técnico mecânico, engenheiro mecânico e pós-graduado em engenharia automobilística. Sou entusiasta de carteirinha e grande apreciador de veículos Volkswagen.
Trabalho como engenheiro de Desenvolvimento do Produto na Engenharia de Protótipos de uma grande fabricante de veículos multinacional.
Também sou administrador do “Grupo Família Quadrada” que cultua os Volkswagens com desenho mais “quadradão”, características dos Volkswagens das décadas de 1970/80/90.
Nosso grupo tem foco na linha BX da Volkswagen, Passat B1, Santana e Quantum. Incluímos no grupo: Audi 50 B1, Polo, Golf, Derby, Jetta de primeira e segunda gerações, Passat B1, B2, Scirocco, etc.
Também sou grande apreciador da linha Volkswagen ‘a ar”.
Este é meu Voyage 1992, CL 1.8 T, 26 anos comigo. Era do meu pai:
Este é meu Gol Special 2001, único dono até 2016:
Este é o Fusca 1600 1976 de meu sogro. Levantei esse carro dentro das possibilidades:
E para fechar este relato, aí está a pequena Marina dando um trato no Voyage do papai:
Aqui termina este causo bem ilustrado com fotos e aproveito para agradecer ao Luciano por ter enviado todo este material e ter participado desta coluna com o seu causo.
AG
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