Encerrado o primeiro bimestre de 2021, teremos pela frente meses ainda mais difíceis antes de novos ensaios de normalidade. A falta de microchips chegou aqui também, o que era esperado. O que poucos esperavam foi seu impacto. A GM anunciou paralisação de mais de dois meses de suas unidades produtivas. A Honda vem produzindo com paralizações intercaladas. Não bastassem esses problemas, a 2ª onda do covid pegou em cheio o Brasil, emendada à 1ª onda que não fora totalmente dominada, e ainda por cima agravada por novas variantes do vírus que mostraram ser de contágio mais eficaz e de agressividade ainda maior.
Nesta segunda quinzena de março a VW já anunciou paralisação de sua produção por conta do covid. Em todas suas fábricas. Se os estoques de veículos já andavam baixos eles devem zerar em mais modelos do que antes. Seguir-se-ão ainda paralisações de atividades de concessionários e lojas independentes, que terão de obedecer a determinações de governos e municípios, que tentam dominar as lotações das unidades hospitalares.
Na Europa as vendas em fevereiro caíram 20% em relação ao mesmo mês do ano passado, aqui a queda foi de mesma ordem de grandeza, 17,9%. A Anfavea aderiu ao movimento pela vacinação em massa, que tanto ela quanto vários setores empresariais e da sociedade acreditam ser o fator de redenção desse mal que nos assola. Concordo em gênero, número e grau.
Em dado momento, o Ministério da Saúde anunciou em seu Plano Nacional de Imunização a sua intenção de vacinar toda a população até o final de dezembro. Numa conta simples, 220 milhões de habitantes x 2 duas doses, estamos falando de 440 milhões de doses no total, em dez meses, ou perto de 44 milhões por mês. Esse era o plano até agora. Com ritmo de produção da vacina do Butantn ainda em “ramp-up” (planejam cerca de 1,2~1,5 milhões/dia e estão fazendo menos de 700 mil) e ainda sem os insumos para iniciar produção da outra vacina brasileira, pela Fiocruz, encerraremos março com pouco mais metade do plano, ou 20-22 milhões de aplicações em todo o país. Assim sendo, toca refazer as contas para 45 milhões/mês, ou 1,5 milhões/dia. Regra de três simples, não? Sopram a favor os novos acordos com outros fabricantes de vacinas, porém esses imunizantes devem chegar somente no segundo semestre. E eles também terão de vencer seus próprios gargalos de produção e logística, uma vez não vêm atendendo à demanda em vários países europeus, que foram os que contrataram seus lotes antes de nós.
A nebulosidade no horizonte que Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, nos disse em sua apresentação do último dia 4, tornou-se um fog londrino. Caminhões também levam microchips? Ao menos o segmento de pesados não foi afetado até o momento.
Ao todo tivemos 167.391 unidades licenciadas no mês, sendo 158.488 automóveis e comerciais leves, 7.781 caminhões e 1.122 ônibus.
Em termos de emplacamentos diários, um parâmetro bastante usado aqui, foram quase 8 mil veículos leves, praticamente o mesmo nível de 2017, num forte recuo.
Fevereiro pareceu indicar-nos que a Stellantis, ´por sua marca Fiat, é o fabricante que está absorvendo a maior parcela dos clientes da Ford, porém essa batalha será longa. Tanto ela como a Jeep foram as que mais cresceram no bimestre, como veremos a seguir.
RANKING DO MÊS E DO BIMESTRE
A Fiat emplacou 33.503 automóveis em fevereiro (+26% sobre fev’2020), quase sete mil a mais que a VW, que ficou em 2º, e 8 mil a mais que a Chevrolet, disparando na liderança. No bimestre fechou com 64.392 e 20% de participação (6% a mais que tinha no mesmo período de 2020). A VW ficou com 53.360, em 2º e a Chevrolet com 51.575, em 3º. Um fator que pode explicar parte dessas mudanças no ranking, é que alguns fabricantes fizeram a escolha de mais preço e menos volume e menos vendas diretas. A desvalorização cambial afetou em graus variados a composição de custos de matéria-prima de todos, o que vem fazendo os preços subirem, impactando na escolha dos consumidores. Tampouco podemos afirmar que a Fiat esteja triste por sua liderança, ou que esteja perdendo dinheiro. Apenas que temos talvez uma nova ordem no mercado no momento.
O Onix manteve-se na liderança com certa folga ainda, mas até o ano passado ele vendia mais que o dobro do segundo colocado. Agora temos 10.261 emplacamentos para o compacto Chevrolet e 7.717 para o HB20, seguido do Onix Plus, Argo, Mobi. A GM vem emplacando por meses seguidos três modelos entre os 10 mais vendidos. Entre os suves, o Jeep Renegade (foto de abertura) foi o mais vendido no mês e no bimestre, além de ser o quarto mais vendido no ranking geral nos dois primeiros meses do ano e não muito distante do terceiro, o Onix Plus.
A Strada segue mandando no mercado de picapes, emplacou 9.371 unidades, seguida da Toro, com 5.626, Hilux, com 2.663. Graças às boas vendas da Strada, o segmento de comerciais leves apresentou vendas 8% superiores neste bimestre. A Fiat detém quase 60% do segmento, uma liderança não antes alcançada.
Estranhamos a forte queda de vendas da VW Amarok no bimestre. Tentaremos trazer mais informações para a coluna do mês que vem.
MAS