“Não tem jeito: meu carro insiste em consumir mais do que diz a etiqueta do Inmetro, do que está no manual e até de outros iguais ao meu. Não comprei o carro zero-km, mas com baixa quilometragem e de um amigo que sempre cuidou bem dele.”, me escreveu um leitor do meu portal Autopapo.
Disse que oficinas não resolveram, já tinha levado o carro a duas: pagou para trocar velas e cabos, bobina, limpar bicos injetores e corpo da borboleta, regular válvulas, trocar filtros, sensores, mas o consumo não abaixou. Pediu até para conferir se o freio não estaria agarrando alguma roda. Até a compressão dos cilindros foi verificada, estava normal.
Seus cuidados não adiantaram mesmo observando todas as recomendações da imprensa especializada, como diminuir o peso do pé direito, não esticar muito as marchas e manter a rotação ideal cambiando na hora certa. Sempre calibrava os pneus toda semana, mandou alinhar a direção e abastecia sempre num posto de confiança para evitar combustível adulterado. E não carregava peso inútil no porta-malas
“Mas, e os vícios “ocultos?”, perguntei-lhe. Então, se nem as oficinas nem seus cuidados resolveram, existem várias possibilidades enquadradas como vícios ocultos. Disse-lhe quais:
1 – Válvula termostática – Tem mecânico que não sossega enquanto não a joga fora. Principalmente se o carro chega fervendo na oficina. E diz que esta válvula só faz sentido em países do Hemisfério Norte, mas que no Brasil não passa de besteira dos engenheiros. Se ela foi para o lixo, não tem mais o superaquecimento, mas o motor trabalha abaixo da temperatura ideal, o que provoca aumento de consumo. E se ela foi mesmo retirada do motor?
2 – Altitude – Quanto mais alto o morro, menos potência, exceto quando o motor é turbo. Essa queda de potência é da ordem de 1% para cada 100 metros acima do nível do mar. A 1.000 metros de altitude, por exemplo, o motor desenvolve potência 10% menor e por isso a tendência é acelerar mais para compensar, advindo daí maior consumo. A que altitude você está?
3 – Chip – É simples e barato trocar o chip da central eletrônica e alguns mecânicos oferecem vários atrativos: aumento de potência, ou do torque, conversão do carro a gasolina para flex e outras. Mas a “mágica” não sai de graça e quem paga são consumo e emissões. Conferiu se o do seu carro é o original?
4 – Mass Air Flow Sensor – Em inglês significa “Sensor do Fluxo de Massa de Ar”. Fica junto ao filtro de ar e indica a massa de ar que flui para o motor. A central eletrônica, a partir desta informação, ajusta o volume de combustível para manter constantemente a relação ideal (estequiométrica) entre ar e combustível. Se este sensor pifa, pode haver um excesso de combustível e maior consumo. E poucos se lembram dele.
5 – Pneu Verde – Apesar do nome, é preto mesmo. A “cor” é para simbolizar que ele contribui para o meio ambiente por ter menos atrito para rolar, exigindo menos potência para a mesma velocidade. Com isso o consumo de combustível diminui e, consequentemente, as emissões de gases também. Mas, como custa mais, há quem o substitua pelo normal no momento da troca e, neste caso, o consumo jamais será o declarado oficialmente. Certifique-se de que os pneus do seu carro sejam “verdes”, de baixo atrito de rolamento.
6 – Hodômetro – Se o carro teve suas rodas e pneus originais substituídas por maiores e o novo diâmetro total (roda + pneu) for superior, ocorrem diversas distorções. Uma delas no hodômetro. Porque, se o diâmetro é maior, a distância percorrida será também maior do que a indicada no hodômetro. Ou seja, ele marcou 10 km mas o carro andou 11 km, por exemplo. Se as contas de consumo são feitas a partir da distância indicada no painel, elas não conferem. Como o carro rodou mais que o registrado pelo hodômetro, o consumo real é menor que o obtido pelas contas do dono do carro.
Ou quem sabe o problema seja “insolúvel”?
Dono e oficina pelejaram, mas o consumo não se reduziu nem mesmo atacando os tais “vícios ocultos”? Quem sabe ele está elevado devido a fatores externos e insolúveis? Disse-lhe para considerar os seguintes pontos:
1 – Topografia – Uma coisa é rodar numa cidade plana, como Brasília, por exemplo. Outra é enfrentar constantes subidas e ladeiras íngremes. E está enganado quem acha que o que se gasta de combustível a mais na subida é compensado pela redução na descida… Onde você mora?
2- Condições do trânsito – Com trânsito lento, congestionado, o consumo de todo carro aumenta, na maior parte das vezes para níveis absurdos.
3 – Situação do piso – As lombadas, essa praga brasileira, fazem o consumo aumentar, e muito. Leve isso em conta.
4 – Estado de espírito do motorista – Um motorista nervoso, irritado, irado, leva o carro a consumir mais combustível do que aquele dirigido por um motorista calmo, que não “briga” com trânsito. O aumento de consumo nesse caso pode chegar a 30%
5 – Saída dos semáforos – Usar mais potência para obter maior aceleração do veículo faz consumir bem mais combustível do que um ganho de velocidade suave e progressivo. Nas saídas de pedágio é normal querer-se retomar logo a velocidade de viagem.
Não sei dos resultados da minha orientação, o leitor não voltou a escrever. Mas espero que tudo o que eu disse a ele seja útil para o leitor ou leitora desta minha coluna aqui no AE.
BF
Mais Boris? autopapo.com.br !