O problema do carro elétrico é a quantidade de fantasmas que ainda o acompanham:
– “pane seca”, ver-se com a bateria descarregada no trajeto (foto)
– Tempo descomunal (comparado com o abastecimento do carro convencional) para recarregar baterias
– Necessidade de pontos específicos de recarga
– Encontrar finalmente um deles, mas se deparar com uma fila aguardando a vez
– Ou sem fila pois a tomada (especial) está inoperante…
– Custo para trocar um jogo de pneus, desenvolvidos especialmente para os elétricos e muito mais caros para suportar as arrancadas (com seu elevado torque), o peso muito superior e o composto especial para reduzir atrito (poupar energia é fundamental em função da autonomia limitada)
– Custo para trocar a bateria, que está se reduzindo, mas ainda beira 50% do valor do carro
Com ou sem fantasmas, o carro elétrico é inevitável, mas o caminho ainda é longo e ainda mais distante no Brasil, pela falta de incentivos para serem importados ou produzidos. Se são caros em outros países, aqui são inacessíveis para a maioria dos motoristas.
Tempo de recarga é o vilão
Mesmo nos EUA, onde ele é subsidiado e já marca forte presença, ainda não é unanimidade. Pelo contrário, a Universidade da Califórnia fez uma pesquisa com ex-donos de elétricos que desistiram e voltaram para os carros a gasolina. Um percentual nada modesto de 20%, ou seja, 1 em cada 5 motoristas se desencantaram com a novidade. Num estado (Califórnia) que é a meca dos elétricos, onde está a Tesla e com muitos pontos de recarga.
A explicação de quase todos é a demora na recarga. Alegam que são poucos minutos para reabastecer um carro a gasolina, enquanto o elétrico pede pelo menos uma hora no caso da recarga completa da bateria num “supercharger” (supercarregador). E de oito a nove horas para recarregar à noite em casa.
Um deles deu como exemplo a diferença entre os dois Mustangs, o convencional e o Mach-E, elétrico. Encher o tanque do primeiro demora 3 minutos e pode rodar 480 km. O mesmo tempo numa tomada doméstica (110 V) permitiria rodar apenas 5 km.
O tempo de recarga de qualquer carro elétrico depende da voltagem disponível. E do tipo de estação. A doméstica em geral é de 110 volts e a mais demorada. Em alguns poucos locais se encontra a de 220 V (ou até 240 V), que acelera um pouco o processo. Mas, a ideal, de 480 volts, apenas nos “supercarregadores”. Então, mesmo nos EUA, o usuário comum só tem, em casa e no trabalho, carregadores de 110 (ou 127) volts. O que torna quase inviável o uso do elétrico caso tenha de ser utilizado para grandes trechos ou viagens frequentes.
Com novas tecnologias e componentes da bateria, a recarga está se tornando cada dia mais rápida. Mas ainda muito mais demorada que a do combustível na bomba.
Elétrico sem “fantasmas”
É possível um carro rodar eletricamente sem baterias?
Sim, usando a célula a combustível (fuel cell) que gera no próprio carro a energia elétrica necessária para movimentar seus motores. Entretanto, o tanque deve ser abastecido com hidrogênio, de difícil obtenção, distribuição e armazenamento.
Uma outra possibilidade se encaixa como uma luva no Brasil. É o elétrico com fuel cell em um reformador obtém o hidrogênio a partir de álcool de posto. Ou seja, poderia ser abastecido em qualquer posto do país. A Nissan está desenvolvendo esta tecnologia no Brasil em parceria com as universidades de São Paulo (USP) e Campinas. (Unicamp)
Hidrogênio como combustível
A Toyota, que já comercializa há alguns anos (além da Honda e Hyundai) experimentalmente o carro com célula a combustível a hidrogênio (Mirai), desenvolveu agora uma nova tecnologia de um motor a combustão que queima diretamente o hidrogênio, com emissões zero.
Não é exatamente uma novidade pois a BMW já produziu — há 15 anos — um modelo (série 7) bicombustível que podiam rodar com gasolina ou hidrogênio, mas abandonou a ideia pela baixa densidade energética do H2 que resultava num consumo quase três vezes superior ao da gasolina.
A Toyota, ao contrário, projetou um motor específico para o hidrogênio e vem obtendo eficiência até superior à da gasolina.
São muitas as possibilidades de movimentar veículos sem queimar combustíveis fósseis. Atualmente já está praticamente definido o carro elétrico como melhor alternativa, mas ainda podem ser viabilizadas outras opções.
No Brasil, por exemplo, seria ideal uma tecnologia que privilegiasse o álcool. Uma solução energética “limpa” para a atmosfera, com infraestrutura já existente e que privilegiaria também os (muitos, como eu) irracionalmente apaixonados pelo motor a combustão…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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