Para mim, carro é que nem lancha. De nada adianta uma lancha com tremenda motorização se ela não é boa marinheira (“boa marinheira” é como costumamos descrever uma embarcação que enfrenta mares cascudos com segurança e conforto). Um bom formato de casco é primordial e a importância do motor vem depois. O mesmo vale para carro: bom chassi e suspensão são primordiais e motor vem depois. Carro tem que ser bom de chão.
E o Citroën DS4 é um hatch médio muito bom de chão, daí minha imediata simpatia por ele. Tem o mesmo trem de força do recém-testado Citroën C4 Lounge. O motor é o nosso já bem conhecido e elogiado THP 165 — um 4-cilindros turbo de 1,6 litro de 165 cv a 6.000 rpm e 24,5 m·kgf de 1.400 a 4.000 rpm, e o câmbio é o excelente automático Aisin de 6 marchas. Motor suave e silencioso que, apesar de não ser um monstro em potência, oferece respostas consistentes em ampla faixa de giro, e potência suficiente para viajar tranqüilamente em velocidades só permitidas nas Autobahnen. E gasta pouco combustível (só gasolina, que pode ser a comum). Faz de 8 a 10 km/l na cidade e de 10 a 14 km/l na estrada, pelo computador de bordo.
Quanto à suspensão do DS4 — McPherson na frente e eixo de torção atrás —, ela segue o padrão da linha DS, que inclui o DS3 e o DS5, e que se caracteriza por dar prioridade ao comportamento. Ela é mais firme que a do C4, por exemplo, o que a torna menos confortável na cidade, já que no Brasil é comum o asfalto urbano ser ruim. Em compensação, ao pegar uma boa estrada o DS4 mostra atitude exemplar, digno de figurar entre os melhores entre os bons.
Em alta velocidade segue sólido, é simplesmente insensível a ventos laterais e nas curvas, seja de alta ou de baixa, segue à risca o traçado desenhado. Pouco rola e imediatamente se estabiliza após uma manobra um pouco mais brusca às vezes necessária para desviar de alguma situação imprevista, por exemplo. É, portanto, um carro muito obediente, sempre pronto a seguir rapidamente para onde é apontado. Gostei muito.
Os pneus Michelin 225/45R18 são ótimos como aderência, porém obviamente um pouco duros. Há quem goste de aro 18 e pneu de perfil bem baixo, mas paga-se em menos conforto e maior cuidado com buracos por isso. O DS4 não é carro para esses motoristas desmazelados que ignoram por onde passam e passam com tudo por lombadas e buracos, e seguem batendo lata e nem aí. É para quem escolhe onde vai pisar. É para quem curte seu bom carro e dele cuida.
Ano passado testei o DS5 e o achei mais duro de suspensão que este DS4, quando, teoricamente, por o DS5 ser maior e pesado, deveria ser mais macio. Também o Bob ano passado reclamara dizendo ter achado a suspensão do DS4 excessivamente dura, a ponto de ser desagradável. Perguntei à Citroën se haviam feito algum acerto na suspensão de ambos, suavizando-as, e me foi respondido que não, que tudo continuava igual. Mas não foi essa a impressão que tive, não mesmo. Acho que agora estão mais compatíveis com as nossas condições.
O painel e interior segue como o do C4, com a pequena diferença de que as indicações do computador de bordo, como consumo de combustível, distância percorrida, autonomia, são informados no centro do mostrador central, o do velocímetro. E ele também tem a benfazeja tecla que desliga quase todas as luzes do painel — só deixando à vista a indicação do velocímetro analógico e a da marcha em uso —, o que, pelo menos para mim é ideal para longas viagens noturnas. Os faróis baixos são direcionais, acompanham as curvas, coisa que a Citroën tem desde o modelo SM da década de 1970, aqueles cujo motor V-6 vinha da Maserati, que então a ela pertencia.
Os bancos dianteiros são o que há de melhor em termos de conforto, com o extra de ambos terem uma relaxante massagem lombar, que atua inflando e desinflando num ritmo de respiração lenta.
Os vidros das portas traseiras são fixos. É evidente que essa função não foi aplicada para favorecer o estilo do carro. Tudo bem, desde que os passageiros de trás fossem agraciados com saídas de ar-condicionado, o que não foram.
O DS4 pesa 74 kg a menos que o C4 Lounge (1.363 kg x 1.437 kg), portanto, como era de se esperar, é mais rápido no 0 a 100 km/h, que faz em 8,6 segundos, enquanto o C4 Lounge o faz em 8,8 segundos. Porém sua velocidade máxima é 2 km/h inferior. Atinge 212 km/h (todos os dados são de fábrica). Diferenças, como se vê, irrisórias, mas a diferença em termos de chão não são irrisórias, não. O C4 Lounge é bem mais macio, enquanto o DS4 é bem mais grudado à estrada, apesar de o C4 de ruim não ter nada. Muito disso se deve à maior firmeza da suspensão do DS4 e ao fato da sua suspensão estar menos erguida (é importado da Franca, o C4 Lounge é fabricado na Argentina). Numa pista, tipo Interlagos, o DS4 certamente despacha o C4 Lounge.
O banco traseiro é confortável, cômodo, apesar de não tão espaçoso para as pernas. Já o porta-malas é muito bom, com 359 litros.
Para quem aprecia os recursos de entretenimento, o DS4 oferece uma infinidade deles. São tantos, que quando você pensar que já acionou todos, provavelmente estará na metade. Tem controle de tração e de estabilidade, que podem ser desativados.
É um carro rápido, veloz, muito bom de chão, que, sem alarido, proporciona bons momentos de esportividade, principalmente numa boa e sinuosa estrada vazia.
Preço: R$ 103.000, o que é muito para muitos e pouco para poucos.
Ficha técnica e lista de equipamentos, veja no teste do Bob.
AK