Restomod. Essa palavra está sendo cada vez mais usada nos programas automobilísticos, sites e revistas especializadas nos últimos anos. De certa forma é uma tendência que surgiu mesclando o antigomobilismo com a tecnologia atual. Mais do que uma simples troca de motor ou freios engloba uma ideia de projeto como um todo.
Me lembro que os primeiros modelos que cheguei a ver dentro dessa proposta foram de uma preparadora alemã especializada em Mercedes-Benz. Eles pegavam modelos clássicos dos anos 60 ou 70, com suas carrocerias reluzentes cheias de personalidade, e instalavam conjuntos mecânicos modernos da linha AMG.
Como proprietários de veículos antigos tenho uma visão aberta sobre o tema. De um lado entendo que pode ser uma grande heresia com os ícones do passado, já que o original é completamente modificado. Por outro lado, como entusiasta, acho que pode ser uma nova roupagem para um conjunto clássico, como usar smoking e tênis de corrida.
De qualquer forma o que sempre chamou minha atenção foi mesmo o trabalho realizado por empresas do gênero. Com o passar do tempo a ideia se popularizou, e novos modelos foram sendo modificadas dentro dessa nova filosofia. Mais do que trocar componentes o estudo para o ajuste fino de cada projeto despertou meu interesse de maneira especial.
O belo Ford Maverick que trago nesta semana para nossa coluna é um exemplo atual da tendência. Esse exemplar de 1974 pertence a um apaixonado por carros que, além de gostar do estilo clássico, também tinha o desejo de possuir um carro antigo para rodar grandes distâncias em viagens de fim de semana e lazer.
Antes de chegar ao projeto em si vale a pena contar a história do Maverick que chegou ao Brasil em 1973 após algumas clínicas realizadas pela Ford com clientes da marca. Pelo que sabemos historicamente esses mesmos clientes teriam escolhido o Taunus, o modelo europeu, para ser vendido no Brasil.
A Ford optou pelo modelo americano. Como sabemos a escolha não foi um sucesso de vendas na época. Mas particularmente também acredito que o modelo europeu não teria tido uma história tão diferente por aqui. De qualquer forma nunca saberemos. Mas o Chevrolet Opala acabou conquistando o público brasileiro.
Mas voltemos ao projeto. O Evandro, dono do carro, nutre uma grande paixão por este modelo há muitos anos, desde a compra. Originalmente ele trazia o motor de seis cilindros em linha Willys e utilizado em Jeep e também no charmoso Aero-Willya. Na época ele foi considerado pesado e até mesmo antiquado para o carro. Já o motor de quatro cilindros em linha e 2,3-litros, desenvolvido em Taubaté, foi usado na linha Ford durante vários anos.
Por essa razão também a escolha da mecânica recaiu sobre alguma opção de seis cilindros. De certa forma foi uma ligação com a própria origem do carro. Desse modo foi utilizado o motor V-6 de 4 litros usado pela Ranger nacional, com 162 cv e 30,4 m·kgf. Além do motor temos também o câmbio de cinco marchas do mesmo modelo.
Mas além da parte mecânica esse carro me impressionou por conta do acabamento e detalhamento dedicado a cada parte do processo. Nesse sentido vale destacar a pintura, uma das opções do catálogo de 1974, além do acabamento interno e cuidado para manter o estilo original com um toque de tecnologia. Vemos isso na adaptação da luz da injeção no painel.
Hora de dar uma volta. Uma das partes mais divertidas da gravação. Giro a chave e um som familiar, porém discreto, invade o habitáculo. O motor V-6 sussurra em baixa rotação e só se destaca, com notas mais altas, com o giro mais elevado. Se pensarmos naquela proposta original a qual me referi alguns parágrafos acima, a de longas viagens, a ideia está completa.
A carroceria dá uma balançada de leve. No vídeo vocês vão entender os detalhes técnicos dessa mudança e também as adaptações que foram feitas para que este motor da Ranger coubesse no cofre do Maverick parecendo algo original de fábrica. Esse é o espírito do estilo restomod.
Com bons números de potência e torque o acerto ficou muito bom. As acelerações são vigorosas e as retomadas também são animadoras. Apesar de ser um grande fã dos motores V-8 posso afirmar que ele não fica devendo nada ao bom e velho 302, que equipou algumas versões do carro na época.
Merece destaque também o câmbio. De cinco marchas, está muito bem escalonada para o peso do carro e também, como salientado, longas viagens. Você consegue andar em quinta marcha com rotação baixa, algo essencial quando a ideia é curtir uma longa estrada.
Eu tenho a oportunidade de dirigir os carros na hora da gravação e durante alguns minutos. E esse me agradou bastante pelo conjunto e pela proposta. Sabemos que sempre existirão opiniões favoráveis e divergentes. Mas temos que reconhecer um trabalho bem feito que modernizou um clássico nacional. Nos vemos na próxima coluna!
GDB