Existem muitos componentes do carro com vida útil limitada. Expiram pelo desgaste, quilometragem ou tempo. E devem mesmo ser substituídos. Entretanto, algumas oficinas, de concessionárias ou independentes, aproveitam a chance para “engordar” o faturamento com outro serviço desnecessário. Bom para ela, ruim para o bolso do motorista.
Discos + pastilhas
Como se reduz a velocidade ou se para o carro? Com pastilhas pressionadas contra discos ou lonas contra tambores. Como o sistema funciona por atrito, sua vida é limitada. Duram menos nas rodas dianteiras, onde o freio exerce maior esforço. Pastilhas ou lonas das rodas traseiras têm maior durabilidade.
Quando as pastilhas devem ser substituídas, alguns mecânicos recomendam a troca automática dos discos. Mas não é bem assim, pois sua durabilidade é muitas vezes maior que a das pastilhas. Mas, eventualmente, eles precisam ser retificados ou substituídos. Pois as pastilhas se atritando contra eles, podem provocar pequenos sulcos que, dependendo da profundidade, exigem um “passe” (retífica) do disco. Também um pequeno empeno pode exigir mesma solução.
Mas existe uma espessura mínima do disco: se for necessária uma retífica ainda mais profunda, a solução é substituí-los.
Motorista desleixado também provoca a troca do disco: basta não realizar a revisão dos freios a cada 10 mil km, para que as pastilhas se desgastem até o “osso” e gerar um atrito de sua base metálica com o disco, danificando-o.
Pneu + válvula
Pneus são como remédio: podem perder a validade até sem nenhum uso. Mas as válvulas (ou bicos) por onde são calibrados, possuem vida útil maior e não precisam ser — simultaneamente — substituídas. Até porque é fácil perceber — por pequenas fissuras — ser necessária sua troca.
Correia + rolamento
Essa é uma das mais controvertidas empurroterapias, pois chegou a constar nos procedimentos recomendados pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Mas, ao perceber que nenhuma fábrica (com inexplicável exceção da Renault) sugeria a troca do rolamento do tensionador da correia dentada junto com a própria, a ABNT entendeu a falta de propósito de se substituir o rolamento sem um desgaste aparente e eliminou-a de suas normas. Afinal, um rolamento de aço, não submetido a um enorme esforço como outros no carro (os de roda, por exemplo) e que resistem centenas de milhares de quilômetros, deve ter condições de durar bem mais que uma correia de borracha…
Porém, tanto se difundiu a prática, que algumas fabricantes de peças já embalam e vendem o conjunto correia dentada e rolamento, mesmo depois de a ABNT ter eliminado este procedimento.
Aliás, oficinas que praticam essa pi-ca-re-ta-gem fazem de conta ignorar que o rolamento da correia de alguns dos motores da Ford suportam os mesmos 250 mil km que duram suas correias dentadas banhadas em óleo.
E então, como explicar que os outros não passem dos 50 mil km?
Alinhamento + balanceamento
As rodas dianteiras (em alguns modelos, também as traseiras) devem estar corretamente posicionadas e vários parâmetros, que variam de carro para carro, são estabelecidos pelos fabricantes: câmber, cáster e convergência. O que define se estas medidas estão corretas é a medição delas, daí a importância de levar o carro, em geral a cada 10 mil km, para conferi-las de acordo com as especificações da fábrica e, se necessário. ajustá-las Ou depois de ter sido vítima de uma dessas crateras asfálticas, que podem interferir e deformar a suspensão, conforme a violência do impacto., alterando o posicionamento de rodas.
É bom saber ou lembrar que há muitos carros em que o câmber não tem previsão de ser ajustado e que por isso deve ser verificado o que causou a mudança. Uma vez identificada as (s) peças (s) que causou (aram) a diferença de câmber, elas devem ser substituídas. Não caia na conversa de “fazer cambagem” por meio de ferramentas de força hidráulica com intuito devolver às peças ao seu formato original “desentortando-as”: a segurança delas e a sua estarão comprometidas.
Entretanto, como existem oficinas especializadas do tipo “Alinhamento e balanceamento”, sempre se tenta convencer o dono do carro que necessita do alinhamento a autorizar também o balanceamento das rodas, serviço sem nenhuma relação com o alinhamento, embora se tente provar uma (inexistente) conexão entre ambos.
Balanceamento de rodas só se faz ao se perceber uma trepidação no volante quando o carro atinge uma certa velocidade. E desaparece quando se acelera um pouco mais. Quando a trepidação não é específica do volante, mas em todo o automóvel, é provável que o desbalanceamento seja nas rodas traseiras.
Disco de embreagem + platô
A troca suave de marchas num carro com câmbio manual se dá pela atuação do sistema de embreagem. A força do motor é transmitida para a caixa de marchas pelo disco de embreagem pressionado contra o volante. Assim como as pastilhas de freios, o disco também tem um revestimento que se desgasta pelo atrito e deve ser substituído. Mas, nem sempre é necessário trocar todo o conjunto, constituído do disco, platô (ou placa de pressão) e rolamento, de acionamento. pois houve desgaste apenas do disco.
Entra aí a conversa do mecânico para convencer o dono do carro a trocar todo o conjunto. É a mesma conversa fiada do rolamento/correia dentada: já que foi desmontada todo o conjunto, vale a pena aproveitar para trocar todos os componentes. Mas é sempre possível comprar somente o disco ou até, diante da dificuldade de encontrá-lo no comércio, apenas substituir seu revestimento. Existem também discos remanufaturados (pelo próprio fabricante) ou recondicionados (por oficinas especializadas).
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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